Tukumã Pataxó, 23 anos. O jovem indígena nascido na aldeia Pataxó, na Bahia, é representante do movimento dos direitos indígenas no Brasil, atua como diretor de comunicação da Associação de Jovens Indígenas Pataxó (AJIP) e colabora com a Mídia Índia, coletivo de comunicadores indígenas. Além disso tudo, Tukumã é chefe de cozinha e influenciador digital, com mais de 200 mil seguidores no Instagram, onde revela a cultura e os saberes do seu povo com muito carisma e bom humor. Ele concedeu entrevista ao Akatu da França, onde participou da conferência “Natureza Viva: como preservar as florestas e sua biodiversidade”, na Academia do Clima em Paris.
Qual é a sua origem e quais são, na sua opinião, as principais contribuições dos povos indígenas na preservação do meio ambiente e no combate à crise climática?
Eu vim da Aldeia Pataxó, Coroa Vermelha, próximo a Porto Seguro (BA). A minha família é composta por lideranças indígenas e consegui aprender muito, pois sempre estive próximo aos caciques, pajés e toda a comunidade.
O relatório Povos indígenas e comunidades tradicionais e a governança florestal, lançado pela ONU em 2021, revela o cuidado e preservação que nós, povos indígenas, temos: 45% das florestas intactas da bacia amazônica estão em territórios indígenas. Brasil, Bolívia e Colômbia evitaram a emissão de 40 a 60 toneladas de CO2. Esses dados revelam o protagonismo dos povos indígenas e a nossa relação com o meio ambiente. Nós estamos aqui para mostrar o quanto somos importantes para o mundo.
Como você vê a importância das ações individuais para a preservação do meio ambiente?
Se nós, enquanto cidadãos, não conseguirmos proteger e cuidar da nossa mãe natureza, o mundo não terá futuro. As temperaturas vão aumentar, teremos mais alagamentos. Eos primeiros lugares a serem atingidos são as grandes cidades. As pessoas não veem que isso tem relação com a crise climática, com a poluição e com a falta de proteção dos nossos biomas e territórios. Muitas pessoas acreditam que são apenas 1 em 1 milhão mas, a partir das suas ações, você consegue influenciar outras pessoas também.
O que é consumo consciente pra você? Ele faz parte do dia a dia da sua aldeia?
Os povos indígenas são seres comunitários: nós vivemos para o coletivo a todo momento. E o consumo consciente sempre esteve presente nas nossas práticas
Nós sempre colhemos o que precisávamos, então se esse fruto está verde e não vai me servir agora, pode servir em breve para outras famílias. Temos áreas de agricultura dentro da floresta fechada e não precisamos desmatar para poder plantar. Conseguimos fornecer alimentos orgânicos dentro e fora das comunidades de uma forma que seja o suficiente para viver. Esse é um consumo para se inspirar!
A sociedade brasileira ainda tem preconceitos com os povos indígenas? De que forma podemos vencer esses paradigmas?
Existem muitos preconceitos. Muitos desconhecem a origem dos povos originários no nosso país, mesmo o Brasil sendo composto por territórios indígenas. Hoje, somos apenas 2% da população, mas somos desconhecidos e não temos os nossos direitos respeitados pelos órgãos governamentais. Para desconstruir essa imagem, o primeiro passo é ter uma educação que explique e valorize as culturas tradicionais. As pessoas precisam compreender a importância das comunidades para a construção de um futuro melhor.
Qual a importância das redes sociais e da sua influência para apoiar e defender o protagonismo dos povos indígenas?
Nós podemos utilizar a internet como uma ferramenta de luta da mesma forma que usamos o nosso arco e flecha.
Eu sempre tive vontade de as pessoas aprenderem comigo e me enxergarem como um protagonista. Eu não me via em novelas, filmes, desenhos e músicas.Me questionava quando criança: “Poxa, não me vejo em lugar nenhum. Podia ter nascido em uma família branca e tudo seria diferente e mais fácil”. Hoje, sei que as crianças indígenas têm referências, porque já contaram pra mim. São tão jovens, mas se vêem no que eu faço e me vêem como inspiração. Isso é gratificante! As pessoas não estão acostumadas a verem, nós, indígenas, no mesmo local de trabalho, ocupando os mesmos espaços e utilizando a mesma tecnologia.
O que mais te motiva a seguir com esse trabalho?
O que eu faço tem um motivo e está gerando resultados. Enquanto eu estiver vivo, estarei lutando e levando a voz dos povos indígenas, dizendo o quanto é importante defender e proteger a nossa biodiversidade e demarcar os nossos territórios para conquistarmos mais autonomia alimentar. A nossa luta não começou ontem. Ela vem dos nossos ancestrais e precisamos dar continuidade, mostrar para o mundo o que estamos passando e ter a possibilidade de influenciar e despertar essa vontade nos mais jovens.
Siga o Tukumã Pataxó no Instagram: @tukuma_pataxo