Muita gente não sabe, mas o peixe é o alimento mais comercializado em muitos países em desenvolvimento, como China, Indonésia e Peru, e aproximadamente 10% da população mundial depende diretamente da pesca para sobreviver. Além disso, o consumo global de peixes e frutos do mar mais que dobrou nos últimos 50 anos.
Este cenário, infelizmente, representa um problema ambiental, social e econômico, pois a prática da pesca predatória e insustentável é comum em muitos países. O aumento da demanda leva a uma maior produção, porém, nossa forma de produzir coloca em risco a sustentabilidade da vida marinha e da própria atividade pesqueira.
A ONU alerta: se mantidas as atividades predatórias de pesca, poderá ocorrer a extinção de diversas espécies e um grave desequilíbrio ecossistêmico, ameaçando a sustentabilidade desse importante setor socioeconômico.
Além de empobrecer populações de algumas espécies em um ritmo insustentável, a pesca ilegal, feita sem qualquer regulamentação, traz ameaças adicionais à vida marinha. Quando precisam fugir da fiscalização, os pescadores soltam suas redes no mar que, mais tarde, acabam se prendendo aos animais marinhos podendo levá-los à morte. São as chamadas “redes fantasmas” que, a cada ano, capturam mais de 100 mil baleias, golfinhos, focas e tartarugas, entre outros animais.
No Brasil, o maior fator de degradação relacionado à vida marinha é a sobrepesca. Cerca de 80% dos recursos pesqueiros são explorados além de sua capacidade natural de regeneração. Em outras palavras, peixes e frutos do mar são capturados em uma taxa superior à que conseguem se reproduzir, o que pode levar a um colapso do sistema pesqueiro do país e afetar a segurança alimentar de nós, brasileiros.
Segundo aponta o Guia de Consumo Responsável de Pescado no Brasil, lançado em 2019 pela WWF, do lado da produção, o país precisa investir no monitoramento da cadeia produtiva, no combate a fraudes fiscais e à comercialização ilegal de espécies ameaçadas. Do lado do consumo, é necessário disponibilizar mais informações sobre procedência e qualidade do que se compra para que as pessoas possam escolher com maior propriedade do que levam para casa. Assim, podemos encontrar os caminhos para garantir a conservação da biodiversidade marinha e a sustentabilidade da economia pesqueira.
– De 2012 a 2016, pelo menos 55% dos oceanos foram utilizados para a pesca e sabe-se que o uso da metade deles já seria mais que suficiente para atender a demanda da população. Esta área corresponde a quase quatro vezes a usada para agricultura em terra, e continua a aumentar ano após ano.
– Se mantivermos nosso padrão de produção e consumo e não determos o aquecimento global, peixes e frutos do mar podem desaparecer até 2048. Ou seja: em 28 anos! Isso devido devido à poluição da água, morte em massa de espécies, proliferação de algas prejudiciais e aumento das zonas mortas de oceano (com pouco ou nenhum oxigênio).
– Dados da FAO, Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, mostram que a pesca ilegal tira até 26 milhões de toneladas de peixes dos oceanos por ano. Para efeito de comparação, é mais que o dobro de toda a produção pesqueira anual da Indonésia (11 milhões de ton/ano), país que só fica atrás da China em volume de pesca.
– Estima-se que a pesca ilegal afete 2,4 milhões de pessoas na América Latina e no Caribe que se dedicam à atividade e consomem seus produtos. Em uma perspectiva mundial, ela gera um prejuízo da ordem de US$ 36,4 bilhões por ano.
– Anualmente, cerca de 640 mil toneladas de redes fantasmas são abandonadas nos oceanos, capturando mais de 100 mil animais.
– No Brasil, há registros de redes fantasmas e outros equipamentos de pesca descartados em pelo menos 12 dos 17 estados litorâneos (70% da costa nacional).
– Na hora de comprar peixes e frutos do mar, procure por produtos certificados. A Marine Stewardship Council (MSC) e a Aquaculture Stewardship Council (ASC) emitem certificações, respectivamente, de pesca e aquicultura. Elas garantem que você está adquirindo um produto capturado ou produzido de forma sustentável, ou seja, que o seu consumo está colaborando para a manutenção dos ecossistemas da vida marinha.
– Quando escolher qual peixe ou frutos do mar levar para casa, lembre-se: privilegie o “da época”, assim, você faz a sua parte não consumindo espécies que estão em seu período de reprodução. Por exemplo: o robalo se reproduz entre maio e junho, então não o compre neste período; a lagosta, de janeiro a maio, ou seja, consuma-a apenas nos outros seis meses do ano. Aqui você descobre a época em que deve evitar o consumo de outras espécies marinhas.
– Verifique também a origem dos peixes ou frutos do mar que vai consumir no restaurante. Questione o estabelecimento sobre o seu fornecedor e, caso suspeite que os produtos vêm da pesca ilegal, utilize canais de denúncia como a Fiscalização Ambiental do Ibama e a ouvidoria do Instituto de Pesca do Ministério da Agricultura e do Abastecimento. O Greenpeace possui um guia detalhado para você entender como fazer essa e outras denúncias ambientais.
– Sempre que possível, converse com sua família e amigos sobre a importância do consumo consciente de peixes e frutos do mar. Mostre para eles que nossos hábitos contribuem para a conservação da biodiversidade marinha e a sustentabilidade da atividade pesqueira.