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02.10.15 às 15:46

Conferência Ethos 360º: O desperdício de alimentos de ponta a ponta

Uma família com renda de 2.100 reais por mês, caso reduzisse seu desperdício de 30% para 10%, acumularia 1,1 milhão de reais em 70 anos

Se o desperdício de alimentos fosse todo concentrado em um país, este seria o maior consumidor de água do mundo e o terceiro maior emissor de carbono, depois da China e dos Estados Unidos. Foi com esta provocação que o diretor-presidente do Instituto Akatu, Helio Mattar, abriu o painel “A inovação para a redução de alimentos: da produção ao consumo” no segundo dia (23) da Conferência Ethos 360º 2015. Além dele, compunham também a mesa Alan Bojanic, da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e a Dra. Sally Uren, executiva do Forum for the Future.

Enquanto para os países desenvolvidos a maior parte do desperdício se dá no final da cadeia produtiva, os países em desenvolvimento apresentam a maior perda na produção. O Brasil reproduz ambos os cenários, com um desperdício que vai de 30 a 50% dos alimentos, dependendo do produto.

Mundialmente, o desperdício do consumidor é significativo, tanto nas classes alta e baixa. Além da sensibilização das pessoas, é essencial repensar a oferta de produtos. Apesar da percepção geral de que menos embalagem seria melhor do ponto de vista da sustentabilidade, no caso dos alimentos isto não se aplica, pois existe uma tendência de redução do tamanho das famílias. O reflexo disto resultaria em pacotes menores, com menos desperdício. Mattar citou uma pesquisa do próprio instituto, por exemplo, que aponta que 30% do pão de forma são desperdiçados no Brasil.

“Uma família média brasileira com renda de 2.100 reais por mês, caso reduzisse seu desperdício de 30% para 10% e colocasse o valor de economia na poupança, acumularia 1,1 milhão de reais em 70 anos”, destacando o impacto financeiro da redução de desperdício.

Allan Bojanic lembrou que nessa semana ocorre a Assembleia Geral nas Nações Unidas que consolidará a agenda global do desenvolvimento sustentável. Muitos dos objetivos apontam a necessidade de aprimorar o sistema alimentar vigente.

“Consideramos perda aquilo que ocorre na produção, devido a colheitadeiras ineficientes, transporte ou armazenamento inadequado. Desperdício tem a ver com hábito dos consumidores. Precisamos de políticas bem definidas para estas duas frentes. Ou seja, quando se trata de sustentabilidade no sistema alimentar, é necessário produzir e consumir melhor”, reforçou.

Bojanic destacou a importância de grandes alianças e do estabelecimento de redes globais entre pesquisadores, produtores, empresas, governos, e do compartilhamento de políticas bem sucedidas.  “Não é uma equivalência: se não houver desperdício não haverá fome. Para erradicar a fome, precisamos produzir alimentos mais saudáveis, com vitaminas, nutrientes e não só calorias”, avaliou.

A necessidade de acelerar o ritmo da mudança para o desenvolvimento sustentável e do desafio das inovações também foram destacados no painel. “É necessário investir em inovação e em modelos de negócio que sejam replicáveis. Do outro lado, é essencial gerar demanda e acelerar este mercado. Precisamos que os cidadãos do mundo consumam os produtos que eliminam o desperdício” apontou Sally Uren. “O olhar sistêmico é fundamental. Temos varias soluções já desenvolvidas, mas estamos olhando para elas como iniciativas individuais. Qual alavanca deverá ser puxada que impulsionará essa transformação?” provocou.

No Brasil existem iniciativas importantes nesse tema, em diversas áreas. O Prêmio Educação Além do Prato, da Prefeitura de São Paulo, estimulou merendeiras a desenvolverem receitas saborosas para as refeições escolares com o aproveitamento integral dos alimentos. Ainda há trabalhos nesta linha com receitas utilizando frutas e legumes que ainda estão próprios para o consumo, mesmo sendo pouco atraentes quanto as suas condições estéticas. Mas ressaltando o valor nutricional e o sabor destes alimentos.

Há também um movimento no comércio varejista em se investir em pequenas lojas nos bairros, que podem contribuir para educar o consumidor a comprar com mais frequência, reduzindo o desperdício. Além disto, tramita no Congresso Nacional uma lei que propõe apoio e investimentos em programas e projetos que visem maximizar aproveitamento e reduzir desperdício, reconhecendo o direito humano à alimentação.

Por Mirna Castro Folco (Envolverde), para o Instituto Ethos.

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