Comentário Akatu: Inovações tecnológicas e políticas públicas podem ser ferramentas efetivas para a transição para uma sociedade mais sustentável. Mas é importante lembrar que é preciso também inovar nos padrões de produção e de consumo para que seja possível alcançar o bem-estar desejado pela sociedade com um uso muito menor de recursos naturais, como a água. A crise hídrica no Brasil é gravíssima. Necessitamos, ao mesmo tempo, de uma produção mais responsável e de um consumo mais consciente, como mostra a reportagem abaixo citando bons exemplos em escolas paulistanas.
A ameaça de um colapso no sistema de abastecimento de água de São Paulo tem levado as escolas a mudarem hábitos administrativos e a aumentarem a ênfase sobre a importância da preservação do meio ambiente nos projetos pedagógicos. “Vamos enfrentar alguns anos de crise hídrica. Não acredito que isso seja resolvido em curto prazo”, comenta a diretora do Colégio Palmares, Denise Krein. A escola fica em Pinheiros, zona oeste da capital, e tem quase mil alunos.
“As mangueiras foram aposentadas”, destaca Denise sobre as mudanças na rotina da instituição. Ela fala não só sobre a limpeza dos pátios e o modo de regar as plantas, mas também sobre o lazer das crianças. No início do ano letivo, os alunos da pré-escola eram convidados a ir de sunga e biquíni para participarem de um banho de mangueira. Porém, devido à crise hídrica, a atividade foi cancelada. “As crianças entendem que é pela economia da água”, enfatiza a diretora. A meta é reduzir em até 20% os 80 mil litros consumidos quinzenalmente.
A supervisora de Manutenção e Segurança do Palmares, Zenilia Cipriano, explica que vários elementos da rotina da escola foram alterados. “Nós montamos uma planilha e começamos a verificar todos os registros de água. Então, nós coletamos dados duas vezes por semana, porque muitas vezes, estoura cano, tem vazamentos. É custo para o colégio como desperdício de água.”
Zenilia disse que contou com a boa vontade da equipe para fazer as mudanças. Em alguns casos, no entanto, foi preciso alterar procedimentos, como no caso do pátio que deixou de ser lavado para ser limpo com pano. “Nós temos um pátio enorme para passar pano, mas nós realocamos funcionários para ter mais pessoas para ajudar a passar o pano em todo o local.”
O Colégio Pio XII, na zona sul paulistana, transformou um lago ornamental em jardim e passou a pedir que os alunos levem garrafinhas de água. “Para que as crianças ao pegarem água do bebedouro não jogassem o que sobrou fora”, explica a diretora adjunta Fátima Lopes dos Santos.
Segundo ela, os alunos têm se adaptado bem às mudanças. As crianças ficaram preocupadas, no entanto, com o destino das carpas que viviam no lago. Fátima fez questão de tranquilizá-las explicando que os peixes foram doados e hoje vivem bem. O local em que ficava o espelho d’água abriga atualmente uma estátua de São Francisco de Assis, padroeiro da instituição.
Além das medidas práticas, a preservação da água foi enfatizada em todo o currículo. Fátima explica que o tema será desenvolvido de forma interdisciplinar. “História vai fazer um levantamento, discutindo quais são as tomadas preventivas do uso consciente dos recursos hídricos na história. Geografia, a densidade demográfica e como é o uso e a captação da água em São Paulo.”
Na Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Felipe Mestre Jou, na zona norte da capital, a professora Maristane Lima disse que intensificou a conversa com os alunos sobre a preservação do recurso. Além disso, ela conta que tem passado instruções mais detalhadas para as crianças da pré-escola sobre o uso da água na higiene pessoal. “No momento da escovação, eles usam a canequinha”, exemplifica. “A gente acompanha também a lavagem das mãos. Passa o sabonete líquido primeiro e depois enxágua.”
As crianças entendem rapidamente o que é preciso fazer. “Eu pego a água do tanquinho e jogo na privada quando alguém faz xixi e cocô”, explica Ana Lúcia, 5 anos, aluna da Emei, sobre o que faz para economizar água. Ana sabe também que a cidade passa por um momento de escassez. “Está faltando na represa”, comenta, apesar de admitir não saber onde ficam os reservatórios que abastecem sua casa. Mesmo assim, a menina reduz o consumo também ao escovar os dentes. “Eu ponho [a água] na canequinha e fecho [a torneira]. Quando eu vejo que está pingando, fecho bem fechado.”
No mural da diretora Magali Lucas da Silva está pregado um lembrete: 170 metros cúbicos. Esse é o montante que a escola terá de economizar por mês (170 mil litros) caso queira cumprir a meta estabelecida pela prefeitura de reduzir em 20% o consumo de água nos equipamentos municipais.
O trabalho de economia com as crianças é complementado com orientações para os funcionários da limpeza e da cantina. “No próprio cardápio eles vão evitar incluir esses itens que precisam de mais higienização, como folhagens. Também um cardápio em que você utilize o mínimo de utensílios”, comenta sobre as medidas adotadas para que o gasto de água seja reduzido ao mínimo necessário.
Outro ponto importante é a avaliação sobre a quantidade de dias que a escola consegue ficar sem água – caso um rodízio severo seja implantado. Esse estudo está sendo feito em conjunto com a Sabesp. “Eu vou saber à medida que as crianças forem usando, com as medidas de prevenção que a gente tem. [É preciso garantir] o mínimo de qualidade da permanência da criança na escola. Inclusive com esse corte de fornecimento ao longo do dia”, diz sobre a água que chega à escola somente das 6h às 15h.
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