Mais do que uma proteção ao corpo humano, a roupa é uma importante expressão cultural. Sendo assim, é justo que as pessoas escolham e comprem suas roupas e acessórios de acordo com o seu estilo e o seu bolso. Por outro lado, será que faz sentido o consumo de itens de moda não parar de crescer, ao mesmo tempo que a vida útil deles parece só diminuir? Os consumidores compraram, em média, globalmente, 60% mais peças em 2014 em comparação ao ano de 2000, mas esses itens duraram 50% menos tempo do que os do período anterior, segundo levantamento da consultoria McKinsey & Company.
Não podemos ignorar que, por trás de um ato corriqueiro como escolher uma blusa ou uma camisa básica para o seu guarda-roupa, existe um processo produtivo com impactos relevantes, muitas vezes negativos, tanto na vida das pessoas como no meio ambiente. Isso deve ser levado em consideração não só no momento da escolha ou descarte da peça de vestuário, mas também no seu uso, de forma que cada peça tenha sua vida útil estendida ao máximo.
E quais são esses impactos? A produção de algodão, que atualmente é a principal matéria-prima de metade da produção têxtil mundial, consome intensamente recursos naturais e exige a aplicação de fertilizantes e pesticidas. Segundo a WWF, embora o algodão corresponda a 2,4% das plantações, consome 24% do mercado mundial de inseticidas e 11% das vendas globais de pesticidas. Como consequência, degradação do solo, poluição da água e contaminação da vida selvagem são alguns dos impactos desse cultivo, segundo relatório dessa entidade ambiental.
Se a produção de algodão deixa esse rastro, seria melhor comprar peças feitas com tecidos sintéticos? A fabricação do poliéster, a fibra têxtil sintética mais utilizada no mundo, tem até um menor impacto na água e no solo, mas emite na sua produção muito mais gases de efeito estufa – causadores do aquecimento global – em comparação à produção de algodão. Uma camiseta de poliéster, por exemplo, emite na sua produção o dobro de GEE que uma camiseta de algodão, segundo a consultoria McKinsey.
Além disso, os tecidos sintéticos trazem outro impacto negativo, ainda pouco discutido, que é a geração de microplásticos. Os tecidos sintéticos são responsáveis por uma parte significativa da produção dessas pequenas partículas de plástico que poluem os oceanos, segundo relatório da IUCN (Internacional Union for Conservation of Nature). Ao ser consumido por animais marinhos, os microplásticos entram no ciclo alimentar, trazendo risco de contaminação às pessoas, já que podem carregar consigo substâncias tóxicas.
Na fabricação das roupas, o impacto continua, tanto no meio ambiente como nas pessoas. Estudos concluíram que trabalhadores da indústria de curtume de couro, por exemplo, tem um risco aumentado de câncer, entre 20 e 50%. As condições precárias do trabalho nas linhas de produção de confecções são uma situação mundialmente conhecida, e, embora algumas empresas – desde grandes multinacionais até confecções menores, algumas já nascendo com esse valor intrínseco – venham se posicionando de maneira mais responsável, essa é uma realidade que ainda é combatida com dificuldade, já que as produções tendem a ser globais e a pressão por preços cada vez mais baixos é uma constante. Esse contexto faz com que trabalhadores que vivem em condição de miséria sejam submetidos a condições muito ruins de trabalho. E o Brasil não é exceção, pois há 37 marcas de roupas que estão envolvidas com trabalho escravo, segundo a ONG Repórter Brasil.
Com o aumento do consumo de roupas, aumenta também o descarte (e todos os seus impactos). Enquanto as pessoas livram suas gavetas (e suas consciências) de roupas que mal usaram e não querem mais, países como Paquistão ou Malásia recebem toneladas de peças. As roupas usadas, porém, já começaram a ser rejeitadas por alguns países, que veem ameaçadas a sua indústria local. Ruanda, Quênia, Uganda, Tanzania, Sudão do Sul e Burundi anunciaram recentemente que pretendem parar de importar roupas usadas até 2019, para poder reativar sua própria indústria.
Há, então, uma grande oportunidade para o consumidor consciente tomar atitudes que podem ajudar ao menos a reduzir esses impactos negativos em toda a cadeia de produção das roupas e acessórios de moda. Veja a lista aqui e faça parte dessa mudança!