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22.03.14 às 14:47

“Não adianta mais só ser neutro. É preciso gerar impacto positivo”

Maria Emília Correa, do Sistema B, foi uma das debatedoras do painel “Empresas para uma nova sociedade”, durante o 8º Congresso GIFE
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Mudanças radicais na forma de produzir para construir para a sociedade do bem-estar. Esta foi a tônica do debate Empresas para uma nova sociedade, mediado por Caio Magri, presidente do Instituto Ethos, realizado na última quinta (20), durante o 8º Congresso GIFE. Influenciadas pelas emergências socioambientais e pela necessidade de cooperação com outros atores, diversas empresas têm desenvolvido novas formas de atuação, mais alinhadas com objetivos que vão além dos interesses diretos do negócio.

“Não adianta mais só ser neutro. É preciso gerar impacto positivo”, enfatizou Maria Emília Correa, cofundadora do Sistema B – que reúne companhias dispostas a usar a força de seus negócios para resolver problemas sociais e ambientais da atualidade –, reforçando que as empresas preocupadas apenas com mitigar impactos negativos não fazem parte da nova sociedade mais sustentável e justa que deve ser construída. Para fortalecer esse aspecto, segundo Maria Emília, é preciso mudar o sentido de sucesso. “O sucesso de uma empresa ainda é medido pelo lucro. Mas como e para quem ele é gerado? A que custos?”. A diretora do Sistema B provocou a reflexão ainda questionando as consequências sofridas pela sociedade diante dessa atual medida de sucesso.

“As empresas são responsáveis por grande parcela do nosso modo de viver”, indicou Clemente Ganz, Diretor Técnico do DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), reforçando que têm ampla responsabilidade na transformação para uma sociedade de bem-estar. Além disso, Ganz ressaltou que a ciência, o Estado e o mercado estão trabalhando a partir de uma lógica contraditória: “Nunca fomos tão capazes de produzir a vida e de simultaneamente destruí-la”.

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“O lucro pelo lucro não tem sentido transformador, ele precisa de um pano de fundo”, afirmou Ganz. Para ele, a forma de inserir o elemento transformador nas empresas é permitir que os trabalhadores participem de sua condução, podendo reunir-se sindicalmente dentro das empresas, tendo a oportunidade de, na relação de trabalho, vivenciar a democracia, a negociação, as possibilidades de escolha.

Sonia Favaretto, Superintendente do Instituto BM&FBOVESPA, afirmou que o principal papel das empresas é gerar lucro, embora elas possam escolher caminhos para fazê-lo. Ressaltou ainda que os investidores internacionais estão privilegiando empresas preocupadas com os impactos sociais e ambientais que causam. Para Sonia, o processo de transformação das empresas já está acontecendo e é inevitável. “Há três modos de mudar. Por amor, pela dor e pela inteligência. Há empresas que estão mudando por vontade altruísta de seus líderes, de seus conselhos. Outras, depois de um escândalo de trabalho escravo ou infantil na cadeia produtiva, já buscam soluções para alterar o seu modo de produção. E há aquelas que estão inovando, investindo no diferencial competitivo”, afirmou Sonia.

“A inovação é essencial”, reforçou Maria Emília. “Mas é preciso entender que inovar não é fazer algo do passado de forma excelente ou mais eficiente. É construir algo realmente novo”. A solução apontada por ela para as empresas da nova sociedade seria ampliar o mandato dos acionistas, “para que o seu objetivo de maximizar os lucros tenha o mesmo peso e importância em estatuto que a geração de benefícios para a sociedade”. Indicou ainda que as empresas B são um laboratório para essa nova forma de pensar inovação, governança corporativa e transparência.

Poder das pessoas
“Os consumidores são uma força tremenda. Têm um poder extraordinário de transformação nas mãos”, afirmou Maria Emília, sobre a pressão que as pessoas podem fazer nas empresas para construção da sociedade de bem-estar. “Cada vez que uma pessoa compra um produto ela dá um voto para aquela empresa”, explicou. Para ela, ao usar esse poder de escolha as pessoas podem indicar o que querem que o mercado produza ou não. Para Sonia Favaretto, esse poder é essencial, mas ainda tem muito que crescer. Clemente Ganz acredita que a pressão dos consumidores só funcionará se eles de fato se reunirem. “As ações pontuais não têm poder”, disse.

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