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20.03.17 às 11:12

Água invisível: tudo o que é produzido gasta recursos naturais que você não vê

No Dia Mundial da Água (22/3), o Instituto Akatu convida a população a refletir sobre os gastos de água na produção do que ela consome

Quanto você gasta de água por dia? Para fazer esse cálculo, você irá pensar na água usada para ações do cotidiano, como tomar banho, preparar a comida ou lavar roupas, cujo gasto total aparece na conta do final do mês. Mas saiba que há um gasto invisível de água na sua vida, que é usada durante a produção daquilo que você consome.

Pense no smartphone, por exemplo. Um dos principais objetos de desejo da atualidade, o smartphone costuma ser trocado rapidamente por modelos mais atuais com novas funções. Um único smartphone consome em sua produção 12.760 litros de água, segundo o relatório Mind your Step, produzido pela Trucost a pedido da Friends of the Earth, entidade de proteção ao meio ambiente – essa quantidade de água é a equivalente à transportada por um caminhão-pipa médio.

Para chegar a esses números da “água invisível”, os pesquisadores analisam toda a cadeia de produção de um bem de consumo – é importante saber que os cálculos são baseados em padrões, que variam conforme os processos e região de cada produtor.

No caso de uma fruta, por exemplo, a água da irrigação da planta durante todo o seu cultivo é levada em conta. A agricultura é responsável pelo maior consumo de água no mundo, segundo a ONU. A irrigação consome 70% da água doce disponível no planeta – no Brasil, o percentual é 60%, segundo a Agência Nacional das Águas. Por dia, cada pessoa consome de 2 mil a 5 mil litros de “água invisível” contida nos alimentos que come, de acordo com a ONU. Uma única maçã, por exemplo, consome 125 litros de água para ser produzida, segundo a Waterfootprint, rede multidisciplinar de pesquisadores e empresas que estudam o consumo de água nos processos produtivos. Isso é mais água do que o recomendado pela ONU para o consumo direto residencial – tomar banho, cozinhar, lavar louça, escovar os dentes etc. – de uma pessoa por dia, que são 110 litros.

A pecuária também é responsável por um consumo alto de água. Para cada quilo de carne bovina, são gastos mais de 15 mil litros de água**. Essa quantidade se refere não só à água utilizada para alimentar o gado até que ele atinja a maturidade – pense no tanto de alimento e água para beber que um boi precisa -, mas também a toda água gasta no processo do frigorífico, como na limpeza e no resfriamento do ambiente.

Já parou para pensar na água gasta para produzir todas as suas peças de roupas e acessórios? Uma simples calça jeans, por exemplo, consome em média 10.850 litros de água para ser produzida*. É uma quantidade suficiente para suprir o consumo residencial de uma pessoa por mais de três meses! Essa quantidade contabiliza desde água gasta na irrigação do algodoeiro, material usado para fabricar o tecido, até a água da confecção da peça.

Melhorar os processos de produção, para conseguir usar a água de forma mais eficiente, é um dever (e interesse) das empresas. “Do ponto de vista empresarial, é certamente preocupante ser dependente desse recurso que é cada dia mais escasso. E essa preocupação não deve ser só das empresas. As políticas públicas devem contribuir para evitar desperdícios hídricos e garantir a preservação dos mananciais. E, além disso, cada pessoa e cada família podem fazer a sua parte buscando consumir apenas o necessário, evitando o desperdício desse recurso tão essencial”, afirma Helio Mattar, diretor-presidente do Instituto Akatu.

Veja algumas dicas que podem ajudar a evitar o gasto desta “água invisível”:

– Antes de fazer qualquer compra, reflita sobre a necessidade de adquirir um novo item. Pense se você não pode pegar o item emprestado, comprar o produto usado (e mais barato!) ou fazer uma troca com outra pessoa. Com isso, você evita o impacto negativo da produção de novos itens (e economiza dinheiro!)

– Promova uma feira de trocas com os amigos e familiares; inúmeros artigos como roupas, acessórios, bijuterias, livros, entre outros, podem ser reaproveitados e ganhar uma nova vida nas mãos de outra pessoa.

– Dê preferência aos itens duráveis do que os descartáveis.

– Faça o uso compartilhado de bens e serviços. Se possível, alugue-os temporariamente ou combine o uso comunitário, entre várias pessoas.

– Produtos concentrados, como de higiene ou limpeza, utilizam menos água em sua produção e transporte; por isso, devem ser preferidos em relação aos produtos diluídos.

– Dê preferência aos alimentos produzidos próximos ao local onde você mora e compre aqueles que são da estação, pois isso fará com que durem mais e não haja desperdício.

– Planeje o cardápio da semana antes de ir ao mercado ou à feira, isso evitará compras desnecessárias. A produção de alimentos consome muita água.

– Na hora da refeição, sirva-se com consciência. Não encha demais o prato para não desperdiçar.

– Sobrou comida? Resfrie ou congele a tempo e consuma depois.

– Aproveite também aqueles legumes, vegetais e frutas “feios”. Apesar da aparência, você pode aproveitar as partes que ainda estão boas.

– Organize bem a geladeira e a dispensa, para que você não “esqueça” alimentos que não estão à vista.

– Aproveite cascas, sementes, talos e folhas de legumes, verduras e frutas. Essas partes que muitas vezes são jogadas fora também têm nutrientes e podem ser aproveitadas em inúmeras receitas.

– Diminua o consumo de carne bovina, que exige muita água em sua produção. Você não precisa eliminá-la de sua dieta, mas pode consumi-la com menos frequência, substituindo-a por outras fontes de proteína – e assim diminuir o impacto negativo de sua produção no meio ambiente e, consequentemente, na vida das pessoas.

*The Lifecycle  of a Jean, Levi’s Strauss & Co. 2015

– Onde entregar o óleo usado

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