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26.04.18 às 14:26

Moda consciente: ajuste, troque, doe ou transforme as roupas que estão encostadas

Deixar as peças de roupa e acessórios parados no armário é um desperdício de recursos naturais e de trabalho

Com a chegada da “fast fashion”, modelo de negócio que promove uma troca cada vez mais rápida de coleções e incentivando um consumo acelerado, a sociedade passou a consumir uma quantidade crescente de roupas – o que aumentou os impactos na sociedade e no meio ambiente. O consumidor consciente leva em consideração esses impactos na hora da compra, do uso e do descarte das suas roupas e acessórios.

Um dos cuidados importantes do dia a dia é evitar manter no armário roupas que você não vai usar mais. Primeiro porque isso atrapalha na hora de organizar e escolher entre aquelas que você gosta; segundo porque impede que elas sejam usadas por outras pessoas ou que ganhem outra função.

Dê um novo destino às roupas que não servem ou que você não gosta mais, seja por meio do compartilhamento e da troca, da doação, ou do conserto. É nossa tarefa garantir que uma peça seja usada até o fim da sua vida útil, de modo que ela ganhe novos significados depois que não for mais sua, além de fazer valer o investimento de recursos naturais e trabalho empregados na produção dessa roupa.

A seguir, vamos apresentar algumas soluções para você não acumular roupas em casa nem jogá-las fora:

FAÇA AJUSTES

Pode não parecer mais vantajoso consertar ou ajustar suas roupas do que comprar novas peças. Mas quando enxergamos o enorme impacto social e ambiental na cadeia produtiva da moda, torna-se inaceitável descartar peças que podem seguir em uso com um simples ajuste.
Certos pontos devem ser levados em consideração na hora de fazer os ajustes:

• Faça um diagnóstico para entender se é possível consertá-la com as próprias mãos ou se será necessário alguma ajuda profissional. As vezes as dicas e tutoriais que encontramos na internet fazem os consertos parecerem ser mais fáceis do que são na prática, e aí, o ato de consertar ou ajustar uma roupa acaba inviabilizando o seu uso de vez.

• Se decidir por um profissional, leve a peça para um (a) costureiro (a) ou sapateiro (a) de confiança, indicado por alguém ou cujo trabalhovocê já conheça.. Esse profissional deve identificar o material que compõe o item, observar o seu acabamento e o seu caimento para ajustá-la da melhor forma.

• Se for o caso, busque uma especialista em reparos da peça específica. Itens mais delicados exigem um trabalho mais preciso. Roupas formais e de festa têm essa característica, por exemplo.

• É preciso estar ciente de que nem sempre o conserto manterá o modelo original, diz Vinicius Pelin, que administra o Hospital do Tênis.

COMPARTILHE SUAS PEÇAS
Uma das formas de estender a vida útil das roupas é compartilhá-las. Assim como já existem serviços de compartilhamento de imóveis, carros e bicicletas, também podemos compartilhar o nosso guarda-roupa, por meio das chamadas “bibliotecas de roupas”.

Já existem pessoas que querem colocar em circulação peças que não usam mais, além da procura para alugar peças em ocasiões específicas. O conceito de guarda-roupa coletivo surgiu para suprir essa demanda e funciona através de assinaturas mensais que dão direito a alugar diferentes itens por mês.

Foi com isso em mente que Luciana Nunes Pedrozo fundou a Lucid Bag. “Eu não usava certas peças do meu guarda-roupa de maneira significativa então fiz um acervo pessoal e abri um guarda-roupa coletivo”, diz Luciana.

O guarda-roupa coletivo também mostra vantagem quando o assunto é compras por impulso. Muitas vezes, compramos roupas que usamos uma única vez, em eventos pontuais. Nesse caso, é melhor alugar uma peça do que investir em um item que ficará parado ou que será descartado.

Conheça aqui outras iniciativas que também permitem o compartilhamento de roupas. 

TRANSFORME SUAS ROUPAS

A transformação acontece quando uma peça vira algo diferente do que era originalmente. Um tecido de roupa pode se tornar uma almofada, um estojo ou uma sacola, por exemplo. As roupas podem passar por dois processos diferentes: upcycling e downcycling. O primeiro é quando o produto é reconstruído, melhorado e transformado em um produto de maior valor agregado do que o original, como roupas velhas que se transformam em roupas novas. Já no downcycling, a peça é desconfigurada e transformada em um produto mais barato e/ou de menor vida útil que o original, como um pano de chão.

DOE

Quando pensamos em descarte, é comum que o primeiro pensamento seja o da doação. Mas, o ato de doar roupas não deve ser visto como uma forma de “se livrar” delas. O ideal é buscar saber se essas peças serão mesmo úteis para quem irá recebê-las e verificar se as roupas que queremos doar estão em boas condições.

Fique atento aos seguintes pontos quando for doar:
• Se os itens vão para uma pessoa conhecida, garanta que a numeração esteja correta.
• Se as roupas vão para uma ONG ou instituição, entenda o trabalho dela e para quem ela as destina. Essa atitude aumenta a chance de que o que foi doado realmente seja aproveitado.

Como ressalta o mini-documentário Unravel, cem mil toneladas de roupas doadas por países desenvolvidos são vendidas para a Índia todos os anos para serem recicladas. A maior parte das roupas que param na Índia vem das doações feitas em países ocidentais e que não foram usadas – isto é, tiveram uma vida útil menor do que o poderia ter.

Enquanto as pessoas livram suas gavetas (e suas consciências) de roupas que mal usaram e não querem mais, países como Paquistão ou Malásia recebem suas toneladas de peças. As roupas usadas, porém, começaram a ser rejeitadas por alguns países: Ruanda, Quênia, Uganda, Tanzania, Sudão do Sul e Burundi anunciaram recentemente que pretendem parar de importar essas roupas usadas até 2019, para poder reativar a sua indústria local.

TROQUE SUAS PEÇAS POR OUTRAS
Trocar roupas é um comportamento de consumo consciente, pois a peça ganha uma vida mais longa quando passa pelo guarda-roupa de mais de uma pessoa. Caso substitua a compra de uma nova roupa, a troca representa ainda uma economia financeira. Feita entre pessoas conhecidas, em bazares, feiras ou em lojas de segunda mão, tanto faz. Todas as partes saem beneficiadas nessa atitude que poderia ser mais explorada pelas pessoas.

A troca surge como uma solução para quem deseja uma peça e para quem está se desapegando dela. Aquelas que estão em ótimas condições ou que foram usadas poucas vezes podem ser facilmente trocadas por outras roupas de boa qualidade.

Foi com isso em mente que a articuladora do Roupa Livre, Mariana Pellicciari, criou um aplicativo que estimula a troca de roupas entre as pessoas. “Vemos excessos de um lado, faltas de outro, desequilíbrio e má distribuição e mesmo assim somos apegados a velhas regras. Por que não substituí-las? Mais do que comprar roupas usadas, nós podemos trocar nossas roupas sem envolver dinheiro. São atitudes que reforçam os laços entre as pessoas, que fazem nossas peças circularem e que também promovem o olho no olho; é a colaboração sem o lucro”, diz Mariana.

Outra opção é participar de encontros de troca, de modo que você aumenta o seu leque de acesso às roupas e cria uma rede maior de contatos.

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