Nos últimos 40 anos, o consumo excessivo dos recursos naturais cresceu a um ritmo acelerado e hoje já consumimos 50% mais do que a capacidade de renovação do planeta, seja em ar limpo, água potável, terra ou recursos naturais e agrícolas. O resultado desse excesso é a perda da biodiversidade mundial, que chegou a 30% no período.
Os dados são da edição de 2010 do Relatório do Planeta Vivo, da Rede WWF, publicada mundialmente na quarta-feira (13/10). Produzido a cada dois anos, o levantamento mede a saúde de quase 8.000 populações de mais de 2.500 espécies.
A pegada ecológica, um dos indicadores da devastação ambiental utilizados no relatório, mostra que a demanda da humanidade por recursos naturais duplicou desde 1996 e, atualmente, utilizamos o equivalente a um planeta e meio para sustentar nosso estilo de vida. Se continuarmos a viver além da capacidade do planeta, aponta o relatório, até 2030 precisaremos de uma capacidade produtiva equivalente à exploração de dois planetas.
Segundo o relatório, os ricos demandam mais recursos, mas a degradação e a conseqüente perda da biodiversidade são mais acentuadas nas regiões tropicais – como o Brasil –, que também são as mais pobres, onde houve uma queda de 60% das espécies de plantas e animais.
Segundo o relatório, nas regiões temperadas (e mais ricas), houve uma recuperação de 29% das espécies, graças, em parte, ao aumento dos esforços de conservação da natureza e a um melhor controle da poluição e do lixo.
“É alarmante o ritmo da perda de biodiversidade que se verifica nos países de baixa renda, em sua maioria situados nos trópicos, enquanto o mundo desenvolvido vive num falso paraíso, alimentado pelo consumo excessivo e elevadas emissões de carbono”, alerta Jim Leape, diretor geral da Rede WWF.
O documento aponta a perda, alteração e fragmentação de habitats, a exploração excessiva de espécies selvagens, a poluição e a mudança do clima como os principais fatores que ameaçam a biodiversidade.
Clique aqui para ler a versão completa do relatório.
Consumo desigual
O relatório reafirma um dado que já é conhecido: além de excessivo, o consumo é desigual. O excesso é predominante em nações mais ricas. Apenas os 32 países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) – grupo das economias mais ricas e industrializadas do planeta – são responsáveis pelo consumo de 40% dos recursos disponíveis.
Brasil, Rússia, índia e China não fazem parte da OCDE, mas, somados, têm o dobro dos habitantes dos países do grupo. E o relatório alerta que, mantido o atual modelo de desenvolvimento, os chamados países emergentes seguirão a mesma trajetória de degradação ambiental dos ricos.
“Seriam necessários quatro planetas e meio para atender a uma população mundial (6,8 bilhões de pessoas) com um estilo de vida equiparável ao de quem vive hoje nos Emirados Árabes ou nos Estados Unidos”, alerta Leape.
Mudanças climáticas
Segundo o documento, devido ao aumento da geração e emissão de gases de efeito estufa na atmosfera, causado principalmente pela queima de combustíveis fósseis, desmatamento e processos industriais, o planeta entrou em uma espécie de “cheque sem fundo” ecológico.
Nossa pegada de gás carbônico, principal causador do efeito estufa, aumentou em 35% nos últimos 20 anos e atualmente é responsável por mais da metade da pegada ecológica global.
Segundo o documento, os dez países com a maior pegada ecológica per capita são: Emirados Árabes Unidos, Catar, Dinamarca, Bélgica, Estados Unidos, Estônia, Canadá, Austrália, Kuwait e Irlanda. O Brasil ocupa a 56º posição neste ranking.
Mais uma vez, a maior pegada é a dos países de alta renda. Em média, a pegada desses países é cinco vezes maior do que a dos países de baixa renda.
“As espécies são a base dos ecossistemas,” afirmou Jonathan Baillie, diretor do Programa de Conservação da Sociedade Zoológica de Londres, entidade que participou do levantamento. “Ecossistemas saudáveis constituem as fundações de tudo o que nós temos – se perdemos isso, destruímos o sistema do qual depende a vida”, completou Baillie.
Brasil
O Brasil possui uma alta biocapacidade – relação entre a área disponível para agricultura, pastagem, pesca e florestas e o potencial de produtividade –, mas isso não nos coloca em uma situação confortável.
“A redução da desigualdade com aumento do poder aquisitivo da população brasileira é uma conquista positiva. No entanto, também nos coloca frente a um grande desafio que é o de crescer sem esgotar nossos recursos naturais”, destaca a Secretária-Geral do WWF-Brasil, Denise Hamú.
Para Helio Mattar, diretor-presidente do Instituto Akatu, o consumo das riquezas naturais é indispensável para a vida no planeta e é fator determinante do crescimento econômico. “O que precisamos é consumir menos e diferente. Ou seja, consumir de forma mais responsável, buscando um equilíbrio entre nossas necessidades e a capacidade da renovação da Terra”.
“O principal benefício do relatório é servir de ferramenta para os tomadores de decisão estimularem uma economia de baixo carbono, uma economia verde, criando novas oportunidades de crescimento para o país e protegendo os serviços ecossistêmicos que são a base de nosso desenvolvimento econômico”, afirma Hamú.
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