Comentário Akatu: o trabalho infantil, prática ilegal que prejudica o desenvolvimento de crianças e adolescentes por todo o mundo, é um grave efeito do modelo de produção e consumo da sociedade atual. Empresas e seus stakeholders precisam criar formas de produzir que sejam ambientalmente sustentáveis e socialmente justas em todas as etapas da cadeia, e, entre outros, não levem crianças e adolescentes ao trabalho precoce, afastando-os do ambiente escolar, da convivência familiar, do lazer e até mesmo da saúde. Mesmo porque é justamente na infância e na adolescência que se estabelecem, especialmente na escola e no ambiente familiar, os valores, comportamentos e hábitos que vão permanecer por toda a vida. Por isso, para alcançarmos um novo modelo de civilização que valorize o bem-estar de todos mais do que o consumo em si, é primordial educar nossas crianças e jovens para o consumo consciente e a sustentabilidade. Assim, desde cedo, eles poderão fazer com consciência suas escolhas de consumo, com base no que é realmente importante para sua vida e bom para a sociedade e para o meio ambiente.
A exploração da mão de obra infantil no país cresceu 4,5% em 2014 em relação a 2013, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2013, havia 3,188 milhões de crianças e adolescentes na faixa de 5 a 17 anos de idade trabalhando e o contingente subiu para 3,331 milhões em 2014.
Os dados fazem parte de uma publicação da Fundação Abrinq lançada no dia 5 de abril, que reúne os indicadores relacionados à infância e adolescência divulgados por órgãos oficiais no Brasil. A ideia é, segundo a administradora executiva da fundação, Heloisa Oliveira, mostrar como os problemas envolvendo os jovens estão ligados entre si. “São coisas que vistas isoladamente podem não dizer nada, mas, de forma combinada, você enxerga áreas que precisavam receber atenção e desenvolvimento”, disse.
No caso da exploração da mão de obra infantil, antes do aumento registrado em 2014, o número de crianças usadas como mão de obra vinha caindo. “O mais preocupante é que esses dados ainda não refletem a crise econômica que a gente está vivenciando”, disse Heloisa.
Para a administradora executiva, o dado do aumento do trabalho infantil é um indicativo de problemas interligados. “As famílias estão tendo mais dificuldade de se sustentar e estão, cada vez mais, utilizando as crianças no trabalho infantil para complementação da renda. É uma sinalização de vulnerabilidade social aumentando”.
Acesso a creches
A publicação da Fundação Abrinq também traz estatísticas compiladas no Cenário da Infância e Adolescência – 2016 que mostra que, segundo o Ministério da Educação, em 2014, 25,7% das crianças de até 3 anos estavam matriculadas em creches.
“Esse é um dado que é importante porque poderá levar a outros dados negativos. Uma família de vulnerabilidade social, em que a mãe precisa trabalhar para prover o sustento da família. Se ela não tiver um espaço protegido para deixar a criança, essa criança vai estar muito mais vulnerável a situações de violência”, disse Heloisa.
Para a administradora da Fundação Abrinq é especialmente importante dar atenção a essas situações neste ano, quando vão acontecer as eleições para prefeitos e vereadores. “Nas eleições municipais a gente escolhe o principal gestor das políticas públicas para infância”, diz. Segundo Heloisa, cabe ao Executivo Municipal viabiliza a maior parte das políticas públicas ligadas a educação e a saúde da infância. “É um ano importante da gente ter essas informações para refletir sobre isso e cobrar dos candidatos o que eles pensam em fazer a respeito dessas questões”.
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