Todos nós podemos nos envolver nessa questão e dar a nossa contribuição para que haja o suficiente, para todos e para sempre. A primeira atitude que deve ser evitada nas residências, comércio e indústria é o desperdício de alimentos. Afinal, a agropecuária é um dos maiores emissores de gases de efeito estufa e o processo de decomposição dos alimentos também libera gases de efeito estufa na atmosfera. Segundo estimativa do Instituto Akatu, com base em dados do IBGE e Abrelp, 41 mil toneladas de alimentos são desperdiçados no Brasil por dia, o que alimentaria 25 milhões de pessoas (também por dia), 13% da população do Brasil, quase comparável à soma da população das Regiões Metropolitanas de São Paulo (20 milhões) e do Rio de Janeiro (12 milhões).
Esse desperdício todo está associado a hábitos que podemos modificar no nosso cotidiano. Um estudo recente realizado em parceria pela Fundação Getúlio Vargas e a Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, mostra que as famílias brasileiras preferem a abundância de comida e também têm aversão ao consumo das sobras das refeições. Isso gera desperdício e atrapalha as tentativas de economizar nos gastos com alimentação. O hábito de comprar mais que o necessário e a conservação inapropriada dos alimentos também são causas de desperdício de comida. Por isso, é importante deixar de lado o discurso: “melhor sobrar do que faltar”.
O Instituto Akatu propõe três soluções que resumem o que podemos aprender para diminuir o desperdício de comida em casa:
- cuidado com a quantidade ao comprar alimentos que estragam antes de serem usados;
- aproveitar ao máximo todas as partes dos alimentos;
- e reaproveitar as sobras de comida em novos pratos.
No preparo das receitas, podemos aprender a aproveitar folhas, talos e cascas de alimentos. Há receitas de bolos, pães e outros pratos que podem ser enriquecidos com partes dos alimentos que são desprezados pela população. Que tal preparar um doce com a casca de laranja? Ou um bolinho com talos de brócolis e beterraba? Além de economizar dinheiro e evitar o desperdício de recursos naturais, você evita emissões de gases de efeito estufa desnecessárias e aproveita ao máximo o valor nutricional dos alimentos que comprou.
Outra atitude que pode fazer a diferença é dar preferência à compra de produtos locais, de preferência diretamente dos produtores, em feiras e pequenos mercados, como recomenda a FAO. Cultivar algumas plantas em hortas domésticas ou comunitárias também é uma opção. E qual é a vantagem disso? Ao diminuir o trajeto do produto até o consumidor final reduz-se o desperdício na logística, o que é importante visto que é na etapa do manuseio e do transporte dos alimentos que acontecem a maior parte das perdas (50%) no Brasil.
Consumir frutas e vegetais “da estação” também ajuda a evitar problemas climáticos. Isso porque a produção aproveita melhor os recursos naturais, como água e solo. Isso evita empobrecer o solo, por exemplo, afastando problemas como a desertificação – a transformação de uma área em um deserto, com pouca ou nenhuma vida, o que influi no ciclo da água e, consequentemente, no clima.
Alguns alimentos, como a carne bovina, tem uma grande “pegada de carbono”, que se refere à quantidade de gases de efeito estufa emitida durante as etapas de produção. Por isso, reduzir a quantidade de carne bovina no cardápio é uma contribuição importante para diminuir as emissões que causam o aquecimento global. Além de emissão de gases durante o processo de desmatamento para abertura de pastos, o próprio boi emite, em seu processo de digestão, o gás metano, que causa o efeito estufa em uma proporção 21 vezes maior do que o gás carbônico, contribuindo fortemente para o aumento da temperatura média do planeta. Isso não quer dizer que é preciso dispensar aquele churrasco que você gosta tanto: basta substituir a carne bovina por outros tipos de carne ou reduzir a quantidade de consumo e você já dará a sua contribuição.
Mais dicas de como evitar o desperdício de alimentos:
- Planeje o cardápio da semana e vá à feira, hortifruti ou mercado com a lista pronta.
- Pense antes de comprar e compre somente o necessário, buscando sempre se limitar aos itens que compõe a lista de compras.
- Lembre-se que os talos, cascas e folhas também podem ser consumidos e são muito boas fontes de nutrientes;
- Conheça a origem do produto que você consome e divulgue a seus amigos e familiares os produtos que você identificar como sendo produzidos de forma mais sustentável;
- Prepare somente a quantidade para consumo imediato e, se sobrar, coloque na geladeira e consuma mais tarde. Se não for consumir as sobras a curto prazo, congele os alimentos para que não se deteriorem.
- Outra opção é criar novas receitas para aproveitar tudo o que tiver preparado, antes que tenha que ir para o lixo;
- Fique atento ao prazo de validade dos produtos e armazene os alimentos de forma a retirar primeiro os que vão vencer antes.
O papel do governo e dos agricultores
Os governos também têm um papel importante para frear as mudanças do clima e também para planejar a segurança alimentar. Na COP21, a conferência de clima das Nações Unidas realizada em dezembro de 2015, as nações se comprometeram a reduzir suas emissões de gases causadores do efeito estufa como contribuição a buscar manter o aquecimento do planeta abaixo dos 2 graus Celsius acima do registrado no período pré-industrial. No planejamento de segurança alimentar, é necessário investir em produção sustentável, tecnologias que aumentem a produtividade com menos impacto ambiental e também em políticas de preservação e reflorestamento, importantes para a qualidade do solo e disponibilidade de água.
A agricultura sustentável, com preservação da vegetação e uso correto do solo, é importante para preservar recursos hídricos, melhorar a produtividade e reduzir as emissões dos gases que causam o efeito estufa. A Embrapa recomenda, por exemplo, a rotatividade na produção entre leguminosas, que garantem a fixação natural de nitrogênio e enriquecem o solo para as próximas culturas, reduzindo a necessidade de uso de fertilizantes e, consequentemente, preservando o solo e mananciais. Assim, não é preciso expandir a área de produção, evitando o desmatamento (que é outra causa das emissões de gases).
Outra recomendação é o cultivo simultâneo de leguminosas e outras espécies no mesmo espaço, tornando o uso do solo mais eficiente.
Também a preservação de vegetação nativa em áreas de produção, previstos no Código Florestal, é essencial para conservar a água e a qualidade do solo.
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