Os blocos são muitos. Os foliões, verdadeiras multidões. E as ruas, palcos de uma festa sem hora para acabar. Mas quando acaba e todo mundo vai embora, a quantidade de lixo e resíduos deixados costumam ser o rastro que ninguém quer ver.
Ninguém, exceto os catadores. Estes profissionais são os grandes responsáveis por recolher muitos dos resíduos sólidos gerados no carnaval, contribuindo para a limpeza das ruas e para o processo de reciclagem dos materiais. Este trabalho “de formiguinha”, de pegar uma garrafa aqui e uma latinha ali, pode ser mais fácil se os foliões fizerem a sua parte. Como? Descartando corretamente seus resíduos.
“Não misture. Jogue as latinhas onde tem latinha, jogue o plástico onde estão os plásticos, jogue o vidro junto com outros vidros. Isso ajuda demais na hora da separação. Quando está tudo misturado com lixo, fica muito mais difícil. E se a Prefeitura colocou as lixeiras separadas para cada material, respeite cada uma delas e coloque seu resíduo no lugar certo”, explica Sebastião Xavier, de 67 anos.
Catador que trabalhava puxando carrocinha nas ruas, Sebastião diz que o trabalho não é fácil, mas extremamente importante. “Tinha muito desrespeito e discriminação. Achavam que catador não tem valor nenhum, mas na verdade não é assim. Quando eu tive consciência do impacto do meu trabalho, tudo mudou”.
Graças à atuação destes profissionais e de outros do setor, como os varredores de rua, a cada carnaval cidades como Rio de Janeiro e São Paulo têm coletado e conseguido encaminhar para a reciclagem um montante significativo de materiais. Durante os dias de festa de 2019, o Rio recolheu 1.227 toneladas de resíduos, segundo a Comlurb; em São Paulo, por sua vez, o total foi de 916 toneladas, de acordo com a Amlurb.
Para este ano, a Prefeitura de São Paulo anunciou uma operação especial na coleta de lixo. Serão 2.947 funcionários, entre varredores, motoristas e ajudantes de serviços. Para que os foliões também contribuam, serão instalados 505 contêineres, 1.140 cestos aramados e 247 Pontos de Entrega Voluntária (PEVs), que recebem os resíduos recicláveis (vidro, papel, metal e plástico).
Para o carnaval deste ano, o Pimp My Carroça também firmou uma parceria com 74 blocos de rua de São Paulo. De acordo com Adriane Andrade, coordenadora do projeto Carnaval 2020, todo o material coleto pelos catadores durante o carnaval será pesado e eles receberão pela venda desse material. “Além disso, eles têm metas diárias de materiais para coletar, seja alumínio, papelão, plástico ou vidro e se eles batem essa meta, eles também recebem pelo serviço prestado”, completa.
A parceria envolve 700 catadores no município, sendo 500 deles, de cooperativas e 200 catadores autônomos, que foram mobilizados, cadastrados e orientados pelo Pimp My Carroça e Cataki.
A partir dessa operação e contando com o descarte correto por parte dos cidadãos, espera-se ruas paulistanas mais limpas durante os dias de festa. Um verdadeiro ganha-ganha: uma recente pesquisa feita pela MindMiners aponta que 71% dos 500 entrevistados citaram a sujeira como o principal ponto negativo do carnaval.
O que é feito com o material recolhido pelos catadores?
Depois que as carrocinhas dos catadores ficam cheias de resíduos recicláveis, estes podem ter dois destinos: serem vendidos a ferro-velhos ou encaminhados para cooperativas.
É nas cooperativas que o material passa por uma triagem mais cuidadosa e um tratamento que o deixa pronto para a reciclagem. Para se ter uma ideia, estima-se que foram reciclados 50% dos resíduos coletados no carnaval paulistano de 2019, ou seja, cerca de 458 toneladas.
Sebastião deixou de ser catador nas ruas e hoje trabalha nesta etapa do processo, a triagem dos resíduos. Ele é funcionário da Yougreen, uma cooperativa que atua na coleta de resíduos em empresas, na gestão integrada de resíduos, na logística reversa e ainda conta com ecopontos para que as pessoas também possam destinar seus materiais para a reciclagem. “Eu sou feliz e me sinto útil com meu trabalho. O que eu faço colabora com o meio ambiente e com o futuro das pessoas”, diz.
A taxa de reciclagem no Brasil ainda é muito baixa, pois o país tem uma limitada estrutura física para a coleta e a triagem dos materiais. Além de descartar nossos resíduos corretamente, nós, consumidores, podemos ainda mudar nossos hábitos para gerar menos resíduos no dia a dia e durante festas especiais, como o carnaval. Afinal, todo mundo pode se divertir fazendo a sua parte: confira uma lista de dicas para você ser um folião mais sustentável e consciente.