A quantidade de água no planeta é finita e sua disponibilidade depende de um ciclo, cuja estabilidade está ameaçada em consequência das Mudanças Climáticas. O ciclo da água que usamos para nos hidratar, para a nossa higiene, na fabricação de todos os produtos que usamos, no cultivo e preparo alimentos, está sendo impactado pelo aumento médio da temperatura na Terra. Para enfrentar esse problema urgente e de escala global, é necessário o envolvimento de todos: governos, empresas e cidadãos, que devem se conscientizar e precisam agir conjuntamente.
O aumento da concentração de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera, causada por diversas atividades humanas nos últimos séculos, especialmente relacionadas à mudança no uso da terra (diminuição da cobertura vegetal), à queima de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e derivados), agropecuária e produção de energia, é responsável pelo aquecimento global. Uma das consequências é o aumento da frequência de situações extremas, com regiões que sofrem de enchentes, enquanto outras passam por longos e intensos períodos de estiagem, como alerta o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), do qual fazem parte renomados cientistas do mundo inteiro. Eles apontam especial vulnerabilidade em regiões áridas e semiáridas, como a bacia do Mediterrâneo, o oeste dos EUA, a África Austral e o Nordeste do Brasil.
Já estamos experimentando esses efeitos, inclusive no Brasil, o que tem nos levado a repensar nossa relação com a água. O ano de 2015 foi o mais quente já registrado, ultrapassando o recorde anterior de 2014. A década inteira foi cheia de recordes de temperaturas, sendo que os dez anos mais quentes da história ocorreram depois da virada deste século – com exceção de 1998. Em 2015 a temperatura média do planeta foi 1 grau Celsius mais alta que a média do período anterior à industrialização. Parece pouco, mas é o suficiente para mudar o equilíbrio do sistema climático do planeta e causar tempestades, secas e inundações.
Embora as Mudanças Climáticas globais não sejam a única causa das secas pelo mundo e a recente crise hídrica no Brasil, os especialistas alertam para o aumento da frequência de anormalidades no ciclo de chuvas nos últimos anos, coincidindo com o registro de temperaturas mais altas, e apresentam cenários que mostram que, com um mundo cada vez mais quente, os intervalos (períodos) entre os chamados “eventos climáticos extremos” ficarão menores, isto é, aumenta a frequência desses eventos.
Uma importante consequência da mudança nos padrões de precipitação e as secas é o deslocamento de populações e conflitos. De acordo com as Nações Unidas, o planeta enfrentará um déficit de 40% no abastecimento de água até 2030. Um relatório de 2015 mostra que em 2050 a demanda por água deve aumentar em 55%, por causa do aumento da população e da demanda de produção, geração de eletricidade e uso doméstico.
As secas são noticiadas frequentemente em várias partes do globo, de São Paulo até a Califórnia, além de regiões da África e parte da Ásia onde a escassez se tornou mais duradoura nos últimos anos. Na Síria, por exemplo, a seca duradoura que afetou a produção de alimentos foi um dos gatilhos para o deslocamento da população rural para zonas urbanas, aumentando os problemas sociais que levaram à guerra iniciada em 2011. No outro extremo, estão as grandes tempestades e inundações que, além de deixar milhões de pessoas desabrigadas, provocam a contaminação da água potável em regiões onde o saneamento básico é mais precário e a população mais frágil.
Consenso científico
O aquecimento do planeta é causado pela emissão de gases de efeito estufa, consenso entre cientistas que pesquisam sobre o clima. Esses gases, como o metano (CH4), gás carbônico (CO2) e óxido nitroso (N2O) se acumulam, aumentando em excesso a camada responsável por reter o calor proveniente do sol e manter a temperatura média positiva e estável, condição necessária para a manutenção da vida.
O desmatamento é também fonte de emissões, pois as árvores derrubadas liberam gases de efeito estufa na atmosfera. Além disso, a mata derrubada faz falta porque as plantas, no processo de fotossíntese, absorvem o CO2 presente na atmosfera e emitem oxigênio (O2), essencial aos seres vivos. A dinâmica e renovação da floresta retira CO2 da atmosfera que passa a compor a biomassa.
Cientistas do clima alertam para os impactos das mudanças climáticas sem receber a devida atenção há muitos anos. A boa notícia é que nos últimos anos esse assunto começou a ressoar nas sociedades e governos do mundo inteiro, que têm tomado providências para reduzir suas emissões, estabelecer metas e engajar seus cidadãos, em parceria com o setor privado.
Em dezembro de 2015, 20 edições após a primeira Conferência das Partes (COP), as nações finalmente chegaram a um acordo para frear o aquecimento do planeta e estabilizar o clima. Em conferência das Nações Unidas, 195 países concordaram em se esforçar para limitar o aumento da temperatura média global em 2°C em relação à média observada antes da industrialização.
Para que o acordo não fique só no papel, os governos precisam adotar uma série de medidas, como planejar a geração de eletricidade de modo a trocar fontes altamente emissoras de gás carbônico por uma matriz limpa e renovável – como a energia solar e eólica –, investir em novos combustíveis para automóveis, buscar uma produção agrícola com menos emissão de gases de efeito estufa, combater o desmatamento, além de investir em restauração florestal.
O que eu posso fazer para combater as Mudanças Climáticas?
Cada indivíduo pode ser protagonista nessa história. Além do fundamental papel do poder público, atitudes individuais fazem toda a diferença na redução das emissões dos gases de efeito estufa. Não é apenas uma questão de preservar a natureza, mas de preservar a qualidade de vida das pessoas, especialmente assegurar alimentação e necessidades básicas. A maior parte das causas e consequências da mudança do clima está diretamente ligada a necessidades e hábitos cotidianos.
Essas escolhas podem ser feitas nas refeições, por exemplo. No Brasil, a agropecuária é uma das maiores fontes de emissão de GEE, e a atividade também está ligada às emissões por mudanças no uso da terra (conversão de florestas em outros fins, como pastos e agricultura). Além das emissões envolvidas na produção dos alimentos, principalmente em propriedades com solos degradados e grandes rebanhos, os animais emitem, em seu processo digestivo, o gás metano (CH4), que contribui significativamente para o aquecimento do planeta.
Uma forma de dar sua contribuição pessoal na luta contra as Mudanças Climáticas é reduzir a quantidade de carne vermelha consumida, variando as fontes de proteína. Também se pode optar por consumir alimentos produzidos localmente, evitando emissões do transporte, e de pequenos produtores, sobretudo daqueles que têm práticas sustentáveis de manejo do solo e da água.
De acordo com os dados mais recentes do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima, o setor de energia (que compreende o uso de combustíveis por transportes e indústria e também a geração de eletricidade) responde por cerca de 30% das emissões no Brasil, sendo que esta fatia é composta por 14% correspondem às emissões do transporte: 1,7% do transporte coletivo, 4,3% do transporte individual e 6,7% do transporte de cargas.
Assim, você pode contribuir para frear as Mudanças Climáticas ao evitar o uso do transporte privado individual, especialmente se o carro for movido à gasolina ou a óleo diesel. A vantagem do etanol é que, ao crescer e formar a biomassa, a cana de açúcar utiliza CO2 da atmosfera, na fotossíntese, melhorando o balanço de carbono.
Economizar energia elétrica também é uma medida importante, em especial nos períodos secos, quando é necessário acionar as usinas termoelétricas, que emitem mais GEE. [Veja aqui dicas para economizar energia]
Cuide da água
No contexto das Mudanças Climáticas, além de contribuir para evitar emissões, também é preciso cuidar da água em nosso cotidiano. Todos devem consumir de forma mais consciente esse recurso não só em casa, mas em todos os ambientes que estivermos (Veja abaixo o box com dicas de uso consciente da água).
É bom lembrar que cuidar da água é também evitar o desperdício de alimentos e o consumo exagerado de produtos que utilizam muita água em sua produção, a chamada “água virtual”, à qual corresponde a “pegada hídrica” desses produtos. Por isso, compre somente o necessário, questionando-se sempre sobre a real necessidade do que se está pretendendo comprar.
As mudanças de hábito individuais parecem pequenas quando analisadas isoladamente, mas quando consideradas em um longo período de tempo ou adotadas por um grande número de pessoas, produzem um enorme impacto.
Para enfrentar o desafio de frear as Mudanças Climáticas, precisamos de uma transformação profunda na sociedade e na economia, fazendo a transição dos combustíveis fósseis para energias renováveis e para a produção e o consumo sustentáveis. Quanto mais gente tiver consciência do que precisa ser feito, mais fácil será gerar impactos positivos em políticas públicas e ações do setor privado.
Dicas para você ajudar a combater as Mudanças Climáticas
• Não desperdice alimentos. A agropecuária é uma das maiores fontes de emissão de gases de efeito estufa no Brasil;
• Reduza o consumo de carnes vermelhas. Em seu processo de digestão, bois e vacas emitem metano, um gás mais poderoso que o gás carbônico em relação ao efeito estufa;
• Consuma produtos produzidos localmente, evitando emissões de gases com o transporte;
• Sempre que possível, evite o uso do transporte privado individual. Prefira o transporte público, a bicicleta ou uma caminhada, pelo menos em alguns trechos;
• Economize energia elétrica, principalmente nos períodos secos, quando é necessário acionar as usinas termoelétricas, que emitem mais GEE;
• Reflita antes de fazer uma compra: você precisa mesmo disso? A fabricação dos produtos envolve extração e processamento de matéria-prima, uso de água e de energia na produção, além do gasto de combustível no transporte da mercadoria. Todos esses processos causam a emissão de GEE.
Dicas para evitar o desperdício de água
Na cozinha
• Cozinha com a quantidade certa de água
• Usar um só copo evita o desperdício
• Descongele alimentos na geladeira com antecedência
• Louça de molho: menos trabalho, mais economia
No banheiro
• Reduza em 5 minutos o tempo do seu banho
• Fechou bem a torneira? Tenha sempre certeza
• Conheça os tipos mais econômicos de descarga
No jardim e na calçada
• Sol forte não combina com irrigação das plantas
• Largue a mangueira e limpe a calçada com a vassoura
• Gramado alto é mais úmido e saudável
Na área de serviço
• Lave suas roupas só com a máquina cheia
• Reutilize a água que sai da lavadora de roupa
Na vizinhança
• Ajude seu condomínio a poupar água
• Viu um vazamento de água na rua? Acione o poder público
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Campanha #ClimaMuitoLoko conecta cotidiano das pessoas às Mudanças Climáticas