Passageiros revoltados, crianças dormindo no chão, salas de embarque lotadas, filas imensas nos aeroportos. Essas cenas que se repetiram recentemente estão se tornando cada vez mais comuns e não apenas no Brasil. Qualquer problema no setor de transporte aéreo provoca um caos que envolve uma multidão de pessoas e atinge diversas atividades. Esse efeito cascata mostra o quanto os aviões se tornaram um meio de transporte cotidiano usado por um número cada vez maior de passageiros. As expectativas da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) apontam para um crescimento de cerca de 18% do setor no Brasil, em 2007. Expansão, maior ou menor, deve se dar em todo o mundo, o que tem preocupado os cientistas, uma vez que as emissões de gás carbônico (principal responsável pelo agravamento do aquecimento global) pelos aviões – por conta da queima de combustível fóssil – respondem por 2% do total de emissões provenientes de atividades humanas.
Esse é um dos tópicos abordados pela segunda parte do relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), da Organização das Nações Unidas (ONU). De acordo com os autores, as emissões do transporte aéreo devem aumentar devido ao aumento do uso dessa modalidade de transporte, mas também porque existe uma assimetria. Enquanto o setor cresce, em média, 5% ao ano, os avanços em economia de combustível não superam os 1% a 2% anuais, o que não é suficiente para contrabalançar os 5% de aumento de uso de transporte aéreo.
Conforme a Anac, a quantidade de CO2 emitida em cada vôo depende do tipo de aeronave, mas, em média, atinge 70 gramas por passageiro por quilômetro. Em um trajeto de ida e volta entre São Paulo e Rio de Janeiro – um vôo relativamente curto, portanto -, cerca de 34,5 toneladas de CO2 são emitidas, considerando um Boeing 737, com capacidade para 150 passageiros.
Já uma viagem de ida e volta de Porto Alegre a Recife emite 1,9 tonelada de gás carbônico por passageiro. Essa mesma quantidade de CO2, que o homem levou apenas algumas horas para emitir, levaria 37 anos para ser absorvida por 13 árvores da Mata Atlântica em seu processo de fotossíntese. Os números são da Iniciativa Verde, organização não-governamental especializada em projetos de neutralização de carbono.
Marcelo Theoto Rocha, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Cepea/Esalq), lembra ainda que outros gases de efeito estufa (como óxidos de nitrogênio e vapor de água) lançados na atmosfera pelos aviões podem potencializar os efeitos do CO2 sobre o clima por conta das grandes altitudes em que são emitidos. A comunidade científica ainda está avaliando o grau de interferência desses gases no processo de aquecimento global.
Num país grande como o Brasil, em que alternativas menos poluentes como os transportes ferroviários e hidroviários são pouco desenvolvidos, as viagens de avião muitas vezes são inevitáveis. Mas o consumidor consciente tem como contribuir para controlar suas emissões. O site do Conpet, programa do Ministério das Minas e Energia para uso racional de derivados de petróleo e gás natural, traz algumas dicas.
- Refletir sobre a real necessidade da viagem de avião
- Substituir reuniões de negócios com participantes de várias localidades por telefonemas ou teleconferências.
- Planejar bem as atividades de modo a evitar viajar várias vezes para o mesmo lugar.
- Diminuir o volume da bagagem ao mínimo necessário. Segundo o Conpet, cada quilo de bagagem emite um quilo de CO2, em uma viagem de cerca de dez horas.
- Uma dica curiosa diz respeito ao uso do banheiro no avião: cada descarga dada no ar consome um litro de combustível, liberando quase 5 quilos de poluentes na atmosfera. Portanto, a dica é usar o banheiro o menos possível durante a viagem.
- Dar preferência a vôos diretos ou com o mínimo de escalas porque o pouso e a decolagem são os processos que mais consomem combustível e, portanto, mais emitem gases de efeito estufa.
Empresas aéreas
Em relação às empresas, a Organização de Aviação Civil Internacional (OACI) e a International Air Transport Association (IATA) produziram materiais de orientação recomendando medidas operacionais para minimização de uso de combustível e redução de emissões. Segundo a Anac, para diminuir as emissões, as empresas devem otimizar as trajetórias dos vôos e adotar um melhor gerenciamento no solo, por meio da redução do tempo em que os motores ficam acionados, além de investirem em aviões mais eficientes.
Nesse ponto, a Anac garante que a frota de aeronaves comerciais do Brasil é uma das mais modernas do mundo. A agência lembra que uma aeronave produzida na década de 70 emitia 50% mais gases de efeito estufa por passageiro por quilômetro do que os aviões utilizados atualmente pelas linhas aéreas brasileiras. Boa parte dessa modernização se deve à competição entre as empresas fabricantes em busca de aviões com menores custo operacional e consumo de combustível. O consumidor também pode estimular positivamente esse processo, preferindo voar com empresas que utilizem aeronaves tecnologicamente mais eficientes.
Atualmente, estão sendo realizados testes de “vôos verdes” na Suíça, com introdução de novas tecnologias para economizar combustível. A principal novidade é uma melhor comunicação entre os pilotos e os controladores de vôo para evitar as “filas” de aviões à espera de autorização para pousos e decolagens. Durante a espera, as aeronaves são obrigadas a voar em círculos, queimando combustível desnecessariamente. Com a tecnologia dos vôos verdes, os controladores têm como organizar melhor ou mesmo eliminar a necessidade de uma “fila” de aviões no céu. Segundo informa Rocha, existem também empresas estrangeiras que realizam vôos neutros em carbono, plantando árvores que absorvam uma equivalente à quantidade de CO2 emitida. Embora seja uma medida apenas paliativa, deve ser valorizada. Mas, no Brasil, isso ainda não ocorre.
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