O alto preço percebido dos produtos sustentáveis e a falta de informação e indisponibilidade de produtos são questões-chave para o consumidor brasileiro adotar mais intensamente práticas sustentáveis. Nesse sentido, há uma categoria de barreiras para tal adoção em que os consumidores percebem necessidades de esforço como um conjunto de ações que os leva na contramão de tais práticas.
Este foi um dos resultados da “Pesquisa Akatu 2018 – Panorama do Consumo Consciente no Brasil: desafios, barreiras e motivações”, que está em sua quinta edição e apresenta a evolução do grau de consciência dos brasileiros no comportamento de consumo, além de indicar os principais desafios, motivações e barreiras à prática do consumo consciente, inclusive segmentados por regiões do país.
Além disso, revela as percepções e expectativas do consumidor brasileiro quanto às práticas de sustentabilidade e de responsabilidade socioambiental das empresas e descreve a preferência dos consumidores em relação a caminhos voltados à sustentabilidade em oposição aos do consumismo.
O grau de consciência dos consumidores brasileiros é dividido nos seguintes perfis: indiferente, iniciante, engajado e consciente. Estes segmentos são avaliados com base em 13 comportamentos segmentantes da consciência de consumo. A partir desses 13 comportamentos, considera-se: indiferentes aqueles que aderiram a até 4 comportamentos, iniciantes de 5 a 7, engajados de 8 a 10 e conscientes de 11 a 13.
A pesquisa conclui que os “indiferentes” e os “iniciantes” estão ainda no “estágio do bolso”, pois a questão financeira é determinante na adoção de comportamentos conscientes. Já os engajados estão no estágio do planejamento, significando que, além das práticas com impacto financeiro, aderem a práticas de planejamento de compras que refletem uma maior consciência no consumo. Por último, os “conscientes” são aqueles que apresentam um comportamento ativo, além da casa, e que estão dispostos a comportamentos cujos impactos são de mais longo prazo e para o coletivo da sociedade.
Como dito acima, a principal barreira para a adoção de práticas sustentáveis é a necessidade de esforço. Nessa categoria, estão contemplados o esforço de mudança nos hábitos da família ou nos próprios hábitos, o esforço por haver uma percepção de que são produtos mais caros, ou que exigem mais informação sobre as questões/impactos ambientais e sociais, sendo mais trabalhoso e mais difíceis de encontrar para comprar.
Dentre os que concordam que o esforço é a maior barreira, a percepção de que os produtos sustentáveis são mais caros se destaca. Esse é um resultado que merece reflexão, já que, na realidade, a opção pelo caminho sustentável não se relaciona necessariamente com maiores gastos. Por exemplo, optar pela compra de frutas da estação é uma forma de se alimentar conscientemente de modo mais saudável e, ao mesmo tempo, gastar menos do que ao comprar frutas que não são naturalmente cultivadas naquela época do ano em regiões próximas de onde ocorre o consumo.
Por outro lado, ao se considerar a escolha por produtos duráveis, embora de fato representem um gasto maior de imediato, a sua durabilidade evita a necessidade de compras contínuas de produtos para sua reposição, como ocorre nos produtos descartáveis ou de obsolescência mais rápida. A durabilidade pode até mesmo permitir “reembolsar” a diferença de preço paga pelo consumidor ao se diluir ao longo de um longo período de uso. Um bom exemplo é o caso das lâmpadas LED, que duram até 13 anos e consomem muito menos energia elétrica para a mesma luminosidade. O preço maior pago pela LED é “devolvido”, pela redução da conta de energia do consumidor, em apenas 1 ano ao substituir uma lâmpada incandescente, e em 3 anos ao substituir uma lâmpada fluorescente.
Dentro da categoria de barreira da “necessidade de esforço”, a segunda mais importante é “ter mais informações sobre impactos sociais e ambientais”. Por isso, é importante que empresas deem visibilidade a tais impactos e que o governo estabeleça regulação que leve as empresas a informarem melhor sobre os mesmos.
A terceira maior barreira às práticas sustentáveis é a desconfiança quanto ao governo, às empresas e à comunidade. Existe uma percepção do consumidor brasileiro de que se o outro não faz, não há motivo para ele próprio o faça. Nesse quadro, os consumidores “engajados” são os que percebem como mais forte a falta de confiança nos pares e nos produtos, além da barreira de mudança de hábitos próprios e de familiares.
Gatilhos para práticas sustentáveis
E o que estimula o consumidor às práticas mais sustentáveis? Os consumidores tendem a valorizar um pouco mais os gatilhos que falam do impacto coletivo, sobre o mundo e a sociedade. Nesse sentido, a pesquisa identificou dois grupos de gatilhos: os emocionais (com benefícios para o outro) e os concretos (com benefícios para si próprio). O gatilho mais importante na primeira categoria se revelou ser “contribui para um futuro melhor para filhos/netos”, enquanto que na segunda categoria se revelou ser “traz benefícios à minha saúde”.
Ao dividir os resultados por regiões, o Sudeste foi o mais sensibilizado pelos gatilhos emocionais (96,9%), o Nordeste pelos gatilhos concretos (89,8%) e o Norte e o Centro-oeste também pelos gatilhos concretos (85%).
Curiosamente, a pesquisa revela que os consumidores “indiferentes”, aqueles mais sensíveis ao bolso, são os que são mais sensíveis aos gatilhos emocionais. Enquanto que os “iniciantes”, “engajados” e “conscientes”, por já terem incorporado mais comportamentos sustentáveis à sua rotina, são mais sensíveis a gatilhos mais concretos, pois sabem claramente o que lhes falta para adotar práticas mais sustentáveis.
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