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01.07.20 às 15:08

Qual a relação entre aquecimento global e biodiversidade?

O aumento da temperatura ameaça milhares de espécies. A causa disso? Nossas atividades realizadas de forma insustentável. No Dia do Meio Ambiente, confira como mudar este cenário.

As alterações do clima prejudicam a biodiversidade porque exigem uma adaptação das espécies que não é natural. Quando a temperatura média dos oceanos e da camada de ar próxima à superfície da Terra é elevada, animais e plantas são obrigados a mudar de habitat, a alterar seu ciclo de vida ou até mesmo a desenvolver novas características físicas para sobreviver. Este impacto é tão negativo que fortes evidências científicas indicam as mudanças climáticas como as maiores causas de perda de biodiversidade até o fim do século.

São várias as espécies de flora e de fauna que correm risco de extinção considerando um aumento de 1,5º a 2ºC na temperatura global. Outras, sofrem impacto em suas taxas de fecundidade e reprodução. Muitas plantas, por exemplo, por estarem profundamente conectadas à sazonalidade do ambiente, têm seus períodos de florada e perda de folhas alterado, impactando na reprodução de insetos, pássaros e anfíbios. Já a vida nos mangues é ameaçada sempre que há um aumento do nível do mar. E os corais, essenciais para o equilíbrio da manutenção de animais marinhos, ficam em risco com a elevação da temperatura dos oceanos.

Mas por que a temperatura está aumentando? Sobretudo por causa das atividades humanas, feitas de maneira insustentável. Estima-se que nossas ações sejam responsáveis por 90% do aumento na temperatura média da superfície global observado entre 1951 e 2010 — os outros 10% tem a ver com fenômenos naturais, como erupções vulcânicas e decomposição de animais, por exemplo.

Este aquecimento é resultado direto das emissões de gases de efeito estufa (GEE). Quando liberados, gases como o metano (CH4), o gás carbônico (CO2) e o óxido nitroso (N2O) formam uma camada ao redor da Terra impedindo que o calor absorvido pela radiação solar se dissipe — este é o efeito estufa! —, causando a elevação da temperatura da superfície. 

As principais atividades responsáveis pela emissão de GEE no mundo são: queima de combustíveis fósseis para geração de energia (25%); agricultura, florestas e outros usos do Solo (24%); indústria (21%); transportes (14%) e construção civil (6%). 

O Brasil está na triste lista dos países que mais emitem gases de efeito estufa. Em 2018, emitiu 1,939 GtCO2e, o que corresponde a pouco mais que 5% da emissão global (36,573 GtCO?).

A maior parte das emissões brasileiras é proveniente do desmatamento e das mudanças no uso do solo (44%), seguido da agropecuária (25%) e da geração de energia (23%). E nossos números têm aumentado principalmente porque desmatamos mais: entre agosto de 2018 e julho de 2019, o Brasil bateu recorde de desmatamento na Amazônia destruindo 9.762 km², 29,5% mais que no mesmo período anterior. Estes quase 10 mil km² representam 1,4% de toda a Amazônia já desmatada (700 mil km²). 

Um estudo do IPAM recém-publicado indica que nem a crise do coronavírus, que começou a afetar a economia  no fim de fevereiro, foi suficiente para dar um golpe significativo na produção e no consumo a ponto de ajudar a manter as florestas em pé. No primeiro trimestre de 2020, o desmatamento na Amazônia aumentou 51% em relação ao mesmo período de 2019.

Além da emissão de GEE que intensifica o aquecimento global, o desmatamento pode contribuir para o surgimento de novas doenças que ameaçam a humanidade e outras espécies. O próprio coronavírus é um exemplo derivado do consumo humano de carne de animais silvestres — ao que tudo indica, dos morcegos. É possível que eles tenham se deslocado para regiões mais próximas de centros urbanos devido a um desequilíbrio em seu habitat original. 

Cientistas alertam há décadas que na medida em que avançamos sobre as florestas aumenta a probabilidade de micro-organismos (até então em equilíbrio com seu habitat) migrarem para áreas próximas de agrupamentos humanos e virem a causar doenças que podem fazer vítimas.

Em entrevista recente, Carlos Nobre, presidente do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, foi além: “A Amazônia tem a maior quantidade de microorganismos do mundo. E estamos perturbando o sistema o tempo todo, com populações urbanas se aproximando, com desmatamento e com comércio de animais silvestres. Então, talvez tenha sido sorte que a pandemia não tenha começado no Brasil”, disse. 

Se não conseguirmos conter o desmatamento, vamos continuar arriscando a sobrevivência da espécie humana e de todas as outras que habitam a Terra.

– Nossos padrões de produção e consumo e o significativo crescimento populacional são os grandes responsáveis pelo aumento da emissão de GEE, os causadores do aquecimento global. Prova disso é que a pegada de carbono da humanidade mais que triplicou desde 1970.

– Quase 9% de todas as espécies de árvores conhecidas já sofrem risco de extinção. Dependendo do cenário climático nos próximos anos, estima-se que de 1 a 10% das espécies de plantas da Europa sejam extintas até 2100. Por aqui, na Mata Atlântica, que atualmente possui menos de 12% da cobertura vegetal nativa, de 25 a 50% das espécies vegetais sofrerão redução em sua área de ocorrência.  

– Os corais já sentem os efeitos do aquecimento dos oceanos e pesquisas indicam um aumento deste impacto negativo se não mudarmos nossa forma de produzir e consumir. A Grande Barreira de Corais da Austrália, por exemplo, pode perder até 95% de seus corais até 2050 devido a mudanças na temperatura do oceano.

– As mudanças climáticas também atingem a produtividade agrícola, logo, podem afetar a disponibilidade de alimentos e a economia. O estresse térmico e os solos mais secos como resultado do aquecimento global podem reduzir os rendimentos das culturas em até ? nos trópicos e subtrópicos.

– No Polo Ártico, a temperatura nos últimos 100 anos chegou a aumentar 5°C, indicando a tendência de não haver mais gelo cobrindo os oceanos durante o verão já nas próximas décadas. 

– Para que o mundo se mantenha de acordo com a meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais, os países têm de zerar suas emissões até 2050 e precisam reduzir as emissões em 45% até 2030. Até mesmo para ficar abaixo dos 2°C é requerido um esforço significativo na redução das emissões globais, o que não está acontecendo mesmo diante da existência de políticas e compromissos ambientais.

– Pode ser difícil ter a sensação de estar freando o desmatamento, mas, você pode, sim, fazer a diferença a partir de seus hábitos. Se diminuir o consumo de carne bovina estará reduzindo também os impactos associados à sua produção, pois reduzirá a pressão pela abertura de novos pastos, que provocam desmatamento e consequentemente emissão de gases de efeito estufa, além do causado pela pecuária em si (o processo digestivo do gado também libera GEE). Pense: se um número grande de pessoas fizer o mesmo, será gerado um enorme impacto positivo para o país. 

– Quando for consumir de carne — seja ela bovina, suína, frango ou peixe —, opte por produtos certificados, que garantem uma origem sustentável e uma produção não atrelada ao desmatamento.

– Antes de uma compra, faça a clássica pergunta: “Eu preciso deste produto?” A fabricação de todo e qualquer item envolve processos que emitem GEE, como a extração e o processamento de matéria-prima, o uso de água e energia e o gasto de combustível no transporte. E, sempre que der, opte pela compra de produtos de segunda mão, cujo ciclo de produção ocorreu no passado e a compra não causa mais emissão de GEE.

– Não desperdice alimentos, aprendendo a utilizar cada ingrediente integralmente. Além da agropecuária ser um dos maiores emissores de GEE, os resíduos orgânicos em decomposição, derivados do desperdício de alimentos, também emitem GEE em aterros. 

– Vai sair de um ambiente? Apague as luzes. O setor de energia corresponde a mais de 20% das emissões de GEE no Brasil, além de, nos períodos de estiagem, ser necessário acionar as usinas termelétricas, que emitem ainda mais gases de efeito estufa.

– Caminhar faz bem à saúde e ajuda a combater o aquecimento global. Em casos de deslocamento em trechos curtos, faça-os a pé. Ou tente usar meios de transporte que não dependam da queima de combustíveis, como a bicicleta e os patinetes: das emissões correspondentes ao setor de energia, 49% estão relacionadas ao transporte.

– Lembre-se que você é um consumidor e, por isso, tem um grande poder mobilizador em suas mãos. Cobre mudanças de empresas e do governo: precisamos de políticas públicas que diminuam o desmatamento, invistam no reflorestamento e na conservação de áreas naturais, incentivem o uso de energias renováveis e tecnologias de baixa emissão de carbono. Cada um precisa fazer a sua parte para viabilizar um novo jeito de produzir e consumir.

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