Desde sua origem, os plásticos se tornaram indispensáveis para a vida moderna, sendo parte essencial de uma série de indústrias e cadeias produtivas, como componente dos produtos em si ou de suas embalagens. Isso possibilitou a substituição de uma série de materiais usados no passado, dada a atratividade de algumas das principais propriedades dos plásticos, como a durabilidade, a moldabilidade, a reciclabilidade de grande parte deles, a facilidade de higienização, e o baixo preço.
Por outro lado, o fato dos plásticos serem extremamente duráveis é também uma das principais razões pelas quais é fundamental que a produção, o uso e o descarte desses materiais sejam muito cuidadosos para que não representem uma ameaça ao meio ambiente.
Um problema muito sério e bastante discutido nos últimos anos é a presença de enormes quantidades de plástico nos oceanos: de acordo com a Fundação Ellen McCarthur, ao menos 8 milhões de toneladas de plásticos são descartados nos oceanos todos os anos, o que significaria despejar o conteúdo de um caminhão de lixo cheio de plástico por minuto no oceano. A mesma fundação estima que se for mantido o mesmo ritmo, em 2050 haverá mais plástico do que peixes (em peso) nestes ecossistemas.
Um passo em direção à mitigação deste problema foi dado no começo deste ano, quando o Reino Unido proibiu a fabricação de cosméticos e produtos de higiene que contenham, em sua formulação, microesferas de plástico. A proibição já havia sido aprovada em 2017 e acaba de entrar em vigor. Em julho, deverá ser vetada também a comercialização desses artigos.
O termo “microplásticos” foi introduzido na última década para descrever pequenas partículas de plástico, usadas em produtos cosméticos e de higiene pessoal, possuindo tamanhos que vão de 0,001 milímetro (a milésima parte de 1 milímetro) até 1 milímetro.
Essas pequenas esferas – encontradas geralmente em esfoliantes, sabonetes, cremes hidrantes, pastas de dente e esmaltes – são praticamente invisíveis a olho nu, e têm sido grandes poluidoras do meio ambiente. Elas não são biodegradáveis e, por estarem presentes em vários produtos de beleza e higiene pessoal, passam pelos ralos das pias e dos chuveiros e chegam até o esgoto, onde passam facilmente pelos filtros dos sistemas de tratamento de água, e chegam aos córregos, rios, lagos e mares. No final, essas micropartículas acabam fazendo parte das imensas ilhas de lixo que se acumulam nos oceanos do planeta.
Além disso, são ingeridas por animais marinhos e passam a compor a cadeia alimentar, se alojando em peixes e outros animais marinhos que são consumidos por muitos de nós, podendo trazer riscos à saúde. Assim, comprometem o nosso próprio bem-estar.
Mas os problemas não se resumem apenas à nossa saúde ou segurança alimentar. Os oceanos são responsáveis pela produção de boa parte do oxigênio do planeta, sintetizado pelas algas marinhas. Também servem como uma “esponja” de calor, que é distribuído pela Terra por suas correntes marítimas, influenciando todo o clima do planeta. Portanto, a preservação desse ecossistema é fundamental para a manutenção de toda a vida na Terra.
Medidas adotadas em outros países
Além do Reino Unido, outras nações também já sancionaram leis que proíbem a fabricação de produtos contendo micropartículas plásticas, mas de forma menos abrangente do que o Reino Unido. No final de 2015, o ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, assinou decreto que bania o uso dessas microesferas em alguns cosméticos. Em dezembro passado, dois países anunciaram a proibição: a Nova Zelândia (a partir de maio deste ano) e a Itália (em 2020).
E a mobilização nessa direção está crescendo cada vez mais no mundo todo. Existe uma campanha internacional contra o uso dos microplásticos. É a “Beat the Micro Bead” (“Acabe com as microesferas”, em tradução livre), que já tem a adesão de 91 organizações de 38 países.
O Brasil, por enquanto, não tem regulamento que proíba o uso de microesferas de plástico em produtos cosméticos ou de higiene pessoal.
Como contribuir por aqui?
O consumidor consciente deve compreender que a eliminação do uso de microesferas de plástico nos produtos é um processo que leva tempo, pois exige uma nova formulação dos produtos de forma a poderem cumprir as suas funções sem este componente. Empresas brasileiras de cosméticos e higiene pessoal já vêm trabalhando nessa direção.
Prova disso pode ser vista nos aplicativos que identificam essas substâncias em cosméticos, como o Beat the Microbead, disponível para smartphones.
Outra forma de identificar a sua presença é analisar os rótulos das embalagens de produtos e verificar se na composição do produto há ‘polyethylene’ ou ‘polypropylene.’
Ao dar preferência a produtos que não contém as microesferas de plástico, o consumidor consciente estará contribuindo para o bem estar do meio ambiente e, como consequência, da própria humanidade.