Agora que os saques foram autorizados pelo governo federal, o que você vai fazer com o dinheiro da sua conta inativa do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), caso seja o seu caso? Para o Instituto Akatu, ONG que atua há 15 anos pelo consumo consciente, o consumidor deve refletir antes de sair gastando. “Não vale a pena fazer compras por impulso, pois se acaba comprando o que não se precisa e não é para isso que cada um de nós ganha o seu salário”, afirma Helio Mattar, diretor presidente do Instituto Akatu.
Uma boa ideia de uso do FGTS inativo é pagar dívidas, principalmente aquelas com altos juros, como os do cheque especial e os do cartão de crédito. Outra dica é guardar esse dinheiro para alguma emergência ou para realizar um sonho. Para isso, uma opção é aplicar o dinheiro em um investimento financeiro. Para fazer uma boa escolha, observe sempre quanto você vai receber no investimento depois de abatidos tudo o que é descontado dos ganhos, isto é, a taxa de administração cobrada pelo banco e o Imposto de Renda que deverá ser descontado. Se for aplicar em fundos, é preciso analisar se o perfil do investimento, em termos de risco, é adequado ao que você acha adequado como nível de risco. Se o risco é grande, há probabilidade de se ganhar muito mas também de perder muito. Outro item importante é escolher bem o tempo de duração: curto, médio ou longo prazo, dependendo de quando você acha que vai precisar do dinheiro. Não vale a pena fazer um investimento a longo prazo, que em geral oferece taxas de juros mais altas, se você vai precisar do dinheiro a curto prazo, pois retirando um investimento antes do prazo, pode haver uma perda grande nos rendimentos. Tudo vai depender do que o seu orçamento familiar está apontando quanto ao prazo no qual o dinheiro vai ser necessário.
Se a opção for a de usar o dinheiro do FGTS para fazer compras, é importante refletir sobre a real necessidade de cada item, de forma a evitar comprar algo que não é necessário, o que é um desperdício ou pode levar a um arrependimento. Ou comprar algo que leve a um endividamento quando melhor seria economizar e pagar à vista negociando um desconto.
Além disso, vale lembrar que tudo o que consumimos gera uma série de impactos, os quais, muitas vezes nem percebemos. Como exemplo, tudo o que é produzido utiliza recursos naturais (água, energia, minerais, etc.) e gera gases de efeito estufa que causam o aquecimento global e as mudanças climáticas. Até mesmo o descarte nos aterros sanitários causa impactos ambientais e sociais. Assim, comprar apenas o necessário é uma forma de respeitar o meio ambiente.
Para auxiliar na reflexão na hora de comprar, o Instituto Akatu recomenda que o consumidor responda às 6 Perguntas do Consumo Consciente:
1. Por que comprar?
2. O que comprar?
3. Como comprar?
4. De quem comprar?
5. Como usar?
6. Como descartar?
* Conheça o passo a passo das Seis Perguntas no final do texto.
Contexto
No final de 2016, o governo anunciou a autorização do saque de contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço. Os mais de 10 milhões de trabalhadores que possuem saldo em contas inativas do fundo poderão sacar os recursos a partir de março, conforme calendário divulgado. Há atualmente 18,6 milhões de contas inativas há mais de um ano, com saldo total de R$ 41 bilhões, sendo que a maior parte delas têm saldo de menos de um salário mínimo. Essas contas são aquelas que deixaram de receber depósito de empresas devido à extinção ou rescisão do contrato de trabalho.
Vale lembrar que, originalmente, essa reserva era disponibilizada apenas para casos emergenciais e específicos, como, por exemplo, em situações de doenças graves , desastres naturais ocorridos na residência do trabalhador, ou ainda para pagar parcelas de empreendimentos imobiliários.
As Seis Perguntas do Consumo Consciente
1. Por que comprar?
Pergunte-se, antes da compra, se você realmente precisa do produto ou se está sendo estimulado por propagandas ou impulso do momento, que podem levá-lo a comprar mais do que necessita ou pode comprar. É importante lembrar os limites dos recursos naturais do planeta e o que realmente é importante na vida de cada um. Isso muitas vezes vai significar “ter” algo não material no lugar do material, como dedicar mais tempo a atividades com a família e os amigos.
2. O que comprar?
É neste momento que definimos qual produto queremos comprar, ao analisar o que as opções disponíveis oferecem e escolhendo as características que realmente atendem às nossas necessidades. Atributos demais que nunca serão usados são puro desperdício. Busca-se definir também a qualidade e durabilidade do produto, suas características de segurança no uso, eficiência energética e outros critérios que permitam selecionar sua escolha.
3. Como comprar?
Devo comprar à vista ou a prazo? Conseguirei manter as prestações pagas em dia? Vou comprar perto ou longe de casa? Como vou buscar e levar minhas compras? De carro, ônibus, bicicleta, a pé? Fazer compras de bicicletas no final de semana com a família pode ser divertido e uma ótima experiência para todos. E prefira sempre sacolas duráveis, ou mesmo caixas de papelão, a opções descartáveis.
4. De quem comprar?
Ao escolher a empresa fabricante do produto a ser comprado, é importante considerar as características de produção, o cuidado no uso dos recursos naturais, o tratamento e a valorização dos funcionários, o cuidado com a comunidade e a contribuição para a economia local. Assim, o consumidor pode reconhecer e valorizar com suas escolhas as empresas que melhor cuidam da sociedade e do planeta, além de atender às características definidas na etapa “o que comprar?”.
5. Como usar?
É essencial encontrarmos formas de usar de maneira consciente os produtos e serviços adquiridos de modo a evitar a troca sucessiva de itens sempre que algo novo surge no mercado ou entra na moda. Alguns exemplos: ser cuidadoso no uso, usar os produtos até o final da sua vida útil, consertá-los se quebrarem antes de pensar em comprar um novo, desligar aparelhos eletrônicos quando não estão em uso e consumir somente o necessário de recursos, como a água, nas diversas atividades domésticas.
6. Como descartar?
É o momento de se perguntar se o que se quer descartar não tem mais nenhuma utilidade, seja para você ou para outras pessoas. Caixas e embalagens podem se transformar em brinquedos para as crianças, e roupas antigas com nova costura, móveis reformados e eletrodomésticos consertados podem ser doados ou trocados. Quando realmente não houver novos usos para o produto, deve-se descartar os resíduos de maneira correta, buscando enviar o que for possível para a reciclagem. E sempre lembrar que não existe “jogar fora”: o “fora” é o nosso planeta, onde todos vivemos.
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