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06.03.17 às 12:32

Valores femininos devem nos guiar rumo à sociedade do bem-estar

No Dia Mundial das Mulheres (8/3), devemos nos lembrar da importância para a sociedade e para o meio ambiente de valores femininos como a ética do cuidado, o capital emocional, a colaboração e a visão holística da vida

Atualmente, a expressão “abraçador de árvores” é empregada de forma pejorativa, para ridicularizar as pessoas que são consideradas defensoras radicais da natureza. O que nem todos sabem é que esse gesto aparentemente inocente foi símbolo de um movimento de forte resistência, iniciado por mulheres que defenderam suas florestas usando seus próprios corpos pela sobrevivência de suas famílias.

Em 1974, a indiana Gaura Devi liderou um grupo de 27 mulheres que, inspiradas pelo pacifismo nacionalista de Mahatma Gandhi, abraçaram as árvores de sua vila no norte da Índia e após quatro dias de resistência conseguiram impedir a derrubada das árvores pelos madeireiros. Este foi um marco do Movimento Chipko, que ganhou força, protegeu as áreas florestais na Índia da exploração predatória e culminou em 1980 com o banimento do corte de árvores no estado de Uttar Pradesh por 15 anos.

Este movimento não agressivo, mas de impacto, serve de inspiração para o Dia Internacional das Mulheres (8/3), oportunidade para chamar atenção para a importância dos valores femininos na construção de uma sociedade que cuide melhor da vida e proporcione mais bem-estar a todos. Se hoje temos um mundo caracterizado pela competitividade, pela agressividade e pelo pensamento racional e linear, temos que harmonizá-lo com mais cooperação, visão holística da vida, pensamento intuitivo, sem desprezo às emoções, visando sempre o cuidado com as pessoas e com a natureza para preservar a vida.

O abraço, símbolo do carinho e cuidado, foi usado pelas mulheres do Movimento Chipko para preservar aquilo que era essencial para a sobrevivência de sua comunidade. “No que se referem à vida, as mulheres são especialistas. Não porque nosso genes ou biologia nos fazem assim, mas porque nos deixaram cuidar do sustento da vida. Isso nos faz experts para uma ponte para o futuro, quando teremos que voltar às considerações de como manter a vida nesse planeta”, disse a indiana Vandana Shiva, que nos anos 70 se dedicou ao Movimento Chipko e hoje é PhD em física e uma das ecoativistas mais conhecidas no mundo. Autora do livro “Permanecendo Vivos”, Shiva defende que a degradação da natureza e a violação e a marginalização das mulheres estão associadas, como consequência do modo ocidental de desenvolvimento econômico. Para ela, o desprezo pelo conhecimento feminino de agricultura levou à destruição da natureza e degradação de áreas rurais.

A mudança para um mundo mais equilibrado conta com a mobilização não só de governos ou de empresas, mas de indivíduos. Cada pessoa pode, em seu cotidiano, mudar seu comportamento para que pequenas atitudes façam uma grande diferença. É importante perceber-se como parte interdependente da vida no planeta e, como tal, cuide da vida pela vida em si e acolha a humanidade em toda a sua diversidade.

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