Somos mais de 212 milhões de habitantes no Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE), consumindo alimentos e realizando uma série de atividades diariamente. Você já parou para pensar na quantidade de resíduos orgânicos que produzimos?
De acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE), cada brasileiro descarta 170 kg de matéria orgânica por ano e apenas 1% desses restos de alimentos, cascas e plantas é reaproveitado. Além disso, 6,3 milhões de toneladas de resíduos em geral (entre materiais orgânicos, resíduos recicláveis e rejeitos sólidos) são jogados no meio ambiente todos os anos de forma irregular.
Tantas toneladas de resíduos orgânicos destinados de maneira inadequada em aterros irregulares ou mesmo na natureza geram graves consequências para a sociedade, a economia e o meio ambiente. Entre os principais problemas estão a contaminação dos lençóis freáticos pelo chorume; a emissão de metano (CH4) e outros gases de efeito estufa; a proliferação de animais, como mosquitos, ratos e baratas; e o aumento de doenças, como leptospirose, febre tifóide, infecções intestinais, dengue e zika, entre outras, colocando em risco a saúde humana.
Isso sem falar no desperdício de alimentos em um país com tantas desigualdades sociais e que tem, em 2020, 13,7 milhões de brasileiros passando fome e vivendo abaixo da linha da pobreza extrema.
Mas existe uma solução simples para mudar a nossa relação com os resíduos orgânicos e gerar impactos positivos para o meio ambiente e para todos nós: a compostagem. Assim como o consumo consciente de alimentos, como o combate ao desperdício e o reaproveitamento de sobras, talos, sementes e cascas, essa prática pode fazer parte do seu dia a dia, na sua casa. E contribui muito para uma vida mais saudável e sustentável.
O que é compostagem?
A compostagem é o processo biológico de decomposição e de reciclagem da matéria orgânica, como sobras de frutas, verduras e alimentos, além de plantas, cascas de ovos e outros materiais orgânicos que ocorre na presença de oxigênio. O resultado é um composto orgânico altamente nutritivo que pode ser aplicado para melhorar o solo, sem contaminar o meio ambiente. Em outras palavras, é uma técnica que transforma sobras de origem vegetal e animal em adubo natural.
“A compostagem é um sistema natural onde fungos, bactérias e outros microrganismos transformam os resíduos orgânicos em compostos ricos em húmus e nutrientes. Ela dá uma nova utilidade a resíduos que costumamos descartar”, explica Bruno Yamanaka, analista de metodologias do Akatu.
Existem dois tipos de técnicas, a vermicompostagem e a compostagem seca. “A vermicompostagem é feita com a utilização de minhocas que são responsáveis pela transformação dos resíduos em húmus. Essa é uma técnica considerada mais rápida”, conta Bruno. “A compostagem seca tem os mesmos princípios da vermicompostagem, mas a degradação dos resíduos ocorre apenas por parte de microrganismos, sendo um processo mais lento”.
Nos dois casos, o produto final é o adubo rico em nutrientes que pode ser usado em jardins, hortas, para revitalizar vasos e melhorar terras enfraquecidas.
Por que adotar essa prática?
Com esse método simples, econômico e seguro, cerca de 50% dos resíduos orgânicos urbanos poderiam ser reciclados em casas, comunidades ou em escala industrial, de acordo com o manual Compostagem Doméstica, Comunitária e Institucional de Resíduos Orgânicos. Ou seja, a prática dá uma nova utilidade aos resíduos trazendo os seguintes benefícios:
- Reaproveitamento de matéria orgânica e redução do desperdício;
- Produção de adubo caseiro rico em nutrientes para enriquecer o solo e a reter a umidade em hortas, plantas e jardins;
- Redução do volume de resíduos enviado a aterros e lixões ou despejados na natureza;
- Redução das emissões de gás metano resultante do descarte de matéria orgânica em aterros, lixões ou na natureza;
- Redução de emissões de gás carbono e economia aos municípios nos custos de transporte e no funcionamento dos aterros sanitários;
- Redução de doenças e pragas que se proliferam com o descarte irregular de lixo orgânico;
- Adubo ecológico para a produção de alimentos orgânicos e alimentação mais saudável;
- Diminuição do mau cheiro do lixo doméstico e benefícios para o meio ambiente em geral;
- Redução do uso de fertilizantes químicos, entre outros.
“A compostagem tem sido utilizada com sucesso como ação de educação ambiental capaz de empoderar as pessoas na reprodução do ciclo da matéria orgânica e na mudança de suas relações com resíduos no geral. E o melhor: é uma prática acessível, que o consumidor pode fazer em casa e transformá-la em hábito diário”, enfatiza Bruno Yamanaka.
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Exemplos a serem seguidos
Em países como Suécia, Canadá e Estados Unidos, algumas cidades já fazem compostagem em grande escala em que os resíduos orgânicos coletados de forma seletiva são compostados de forma industrial. Ou seja, os cidadãos são responsáveis por separar seus resíduos e a prefeitura por recolher e compostar o material. Essas ações são possíveis por meio de iniciativas e políticas públicas focadas em sustentabilidade, reciclagem e biodigestão — processo que estabiliza os resíduos sólidos transformando em composto simples — trazendo benefícios para todos.