A versão 2010 da pesquisa dos Institutos Ethos e Akatu a respeito da percepção do consumidor brasileiro sobre a responsabilidade social empresarial mostrou alguns resultados interessantes para a discussão do desenvolvimento sustentável.
A pesquisa constata que o consumidor “médio”, hoje, é de classe C, tem entre 16 e 44 anos e escolaridade até o nível médio. De modo geral, trata-se de alguém com baixo engajamento no debate sobre sustentabilidade e, embora se preocupe com a degradação da natureza, não relaciona o problema com o seu cotidiano. A sustentabilidade ainda é vista como uma imposição restritiva a quem chegou agora à “festa” do consumo.
O que mais conta pontos positivos, na decisão de compra, são as relações do trabalho: 80% comprariam produtos de empresas com políticas de promoção da diversidade e da igualdade para negros, mulheres e pessoas com deficiência.
No entanto, estas não são as prioridades das empresas, e sim relações com o consumo e meio ambiente.
Esta falta de sintonia talvez explique outros dados da pesquisa: a alta expectativa que o consumidor tem no papel regulador e disciplinador do Estado; e a falta de confiança depositada nas informações sobre ações responsáveis divulgadas pelas empresas.
Por que o consumidor desconfia das empresas, a ponto de querer que o Estado regule a relação?
As respostas são complexas, mas algumas explicações podem ser dadas pelo prisma dos direitos humanos e da cidadania. O Brasil ainda é uma sociedade muito desigual, e esta desigualdade também se reflete nas empresas. Ainda são poucas as que de fato elevam o tema dos direitos humanos ao mesmo patamar das outras políticas, de meio ambiente, de inovação etc.
Por isso os empregos nas maiores empresas ainda estão distantes de negros, mulheres e pessoas com deficiência. Pior, ainda há racismo e discriminação social e de gênero em muitas médias e grandes empresas. O desrespeito ocorre mais com funcionários de menor remuneração, justamente aqueles que compõem a “nova classe média”, dominante no consumo brasileiro. Aí, então, o paradoxo: a nova classe consumidora é a maior vítima da discriminação e se ressente com as empresas.
Por isso, a gestão socialmente responsável não pode mais separar consumo de direitos humanos e cidadania.
Respeito precisa começar no escritório e na fábrica. Só aí vai chegar ao mercado e aos corações e mentes dos consumidores. Assim, todos entenderão que sustentabilidade é também um modo de vida que não pode prescindir de dignidade e oportunidades iguais para todos.
Ricardo Young integra o conselho deliberativo do Instituto Akatu
*Artigo originalmente publicado no jornal Folha de S.Paulo
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