A mais recente pesquisa do Instituto Akatu – Rumo à Sociedade do Bem-Estar – indica que o consumidor brasileiro está mais bem informado sobre sustentabilidade e valoriza as práticas de RSE das empresas. Todavia, são bem críticos em relação à credibilidade delas: só 8 % acreditam no que as empresas divulgam.
Felicidade é…
Essa pesquisa do Akatu foi lançada no último dia 25 de abril e traz um recorte sobre o momento brasileiro, numa conjuntura de transição entre o modelo de consumo que a sociedade construiu e outro, que está por surgir.
Como os consumidores brasileiros estão reagindo aos estímulos, nessa pesquisa o Akatu conectou uma relação subjetiva entre consumo e felicidade, com os resultados mostrando que os brasileiros associam a felicidade muito mais ao bem-estar físico e emocional e ao convívio social do que a aspectos financeiros e posse de bens.
Uma vez satisfeitas as necessidades básicas, dois terços dos 6.000 entrevistados indicaram que para ser feliz é essencial: estar saudável e ter família saudável, bem como ter amigos e conviver bem com eles. Apenas três em cada dez brasileiros se referem à tranquilidade financeira (acima das necessidades básicas) como pressuposto para a felicidade. Isso significa que, para ser feliz, o consumidor brasileiro prefere os caminhos da sustentabilidade do que os do consumismo.
O comportamento das empresas
A pesquisa do Akatu ressaltou que os consumidores brasileiros valorizam, principalmente, seis práticas sustentáveis nas empresas. Essas práticas são utilizadas como parâmetro na hora de escolher entre um produto e outro.
São elas:
– Condições dignas de trabalho, sem trabalho infantil e sem trabalho escravo na cadeia produtiva. Essa foi a prática mais valorizada por quem respondeu a pesquisa;
– Diversidade e igualdade de oportunidades. Ter programas de promoção da diversidade de gênero, de raça e de idade é a segunda prática que os consumidores mais valorizam numa empresa;
– Remuneração justa que garanta um nível de vida decente, sem diferenciação por idade, gênero ou cor, é outra prática muito valorizada pelos consumidores;
– Bem-estar: os consumidores querem saber que medidas as empresas adotam para minimizar os impactos de suas atividades, produtos e serviços na saúde e na segurança do cidadão em geral, consumidor ou não desse produto ou serviço;
– Isonomia em relação ao trabalho terceirizado. Cuidar dos trabalhadores que prestam serviços à empresa é outra prática valorizada. Os consumidores entendem que os chamados terceirizados devem ter os mesmos cuidados em relação a saúde, alimentação e segurança que os trabalhadores contratados;
– Eficiência no uso da água.
Por outro lado, as práticas que mais negativamente impactam na decisão de compra são:
– Ter produtos que possam causar danos à saúde ou à segurança do consumidor/cidadão;
– Fazer propaganda enganosa.
Ceticismo
A pesquisa do Akatu também mostra que os consumidores estão mais céticos em relação à veracidade das práticas que as empresas afirmam adotar. Só 8% acreditam nas informações da empresa. Esse percentual caiu em relação ao apresentado pela pesquisa de 2010, que foi de 13%.
Um dos motivos para esse ceticismo tem a ver com o aumento do conhecimento, por parte das pessoas em geral, sobre a responsabilidade social empresarial e a sustentabilidade. Entre 2010 e 2012, o Akatu apurou que o grupo de pessoas que “ouviu falar” de sustentabilidade subiu de 44% para 60%. Aqueles que buscam informações subiram de 14% para 24%.
Os temas Sustentabilidade e Responsabilidade Social também se destacaram na pesquisa como dois daqueles sobre os quais os consumidores mais procuram se informar. Em 2012, respectivamente 24% e 25% dos consumidores afirmaram se interessar pelos assuntos, em empate técnico com temas tradicionais como Política (que tem 30% das preferências do consumidor) e Empresas & Negócios (com 26%).
Na verdade, pode estar havendo uma “cobrança” dos consumidores por maior transparência nas empresas. Transparência nos processos, na prestação de contas, no enfrentamento de dilemas. Transparência nos valores que abraça.
O ceticismo dos consumidores diz muito sobre a credibilidade das empresas na própria sociedade. E credibilidade é um processo que se constrói junto, com os acionistas, com as partes interessadas na empresa, com a sociedade. A credibilidade precisa de compartilhamento de valores e princípios que trazem consigo os fundamentos éticos sobre os quais a empresa vai construindo sua reputação.
A gestão sustentável parte do pressuposto de que as demandas das partes interessadas precisam estar internalizadas nas diretivas estratégicas do negócio. Esse processo depende de um “diálogo”, que não é uma simples conversa, mas uma “audição” e um “entendimento” profundo e multilateral das razões de cada parte e de como as demandas podem ser atendidas. Os valores, então, estruturam esse diálogo, porque garantem um alicerce comum a entes diferentes por natureza.
O ceticismo, assim, pode também indicar falta de diálogo e de transparência nas informações da empresa.
Jorge Abrahão é presidente do Instituto Ethos e Conselheiro do Instituto Akatu
Clique aqui para ler o artigo original, publicado no site do Instituto Ethos.