Os próximos carregamentos de alimentos importados do Japão passarão por análise para verificar se estão contaminados por radiação. A medida foi anunciada na quarta-feira (30/3) por representantes da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e dos ministérios da Agricultura e da Saúde. O objetivo é evitar a entrada de produtos contaminados no Brasil, após o vazamento de material radioativo em consequência do terremoto seguido de tsunami no dia 11 de março.
De acordo com Denise Resende, gerente de Alimentos da Anvisa, a chance de um alimento contaminado por radiação chegar ao Brasil é baixa, já que o Brasil importa poucos alimentos de origem japonesa e a maioria é formada de massas para a fabricação de produtos de padaria, pastelaria e biscoitos. “O governo japonês já proibiu a exportação [de produtos da região de Fukushima] e a quantidade que vem para o Brasil é pouca”, afirma em nota.
Segundo a Anvisa, a última importação de alimentos do Japão chegou ao Brasil em data anterior ao dia em que aconteceu a catástrofe por lá.
Em nota divulgada anteriormente, na segunda-feira (28/3), o Sindicato Nacional dos Fiscais Federais Agropecuários (Anffa), já contestava a versão da Anvisa sobre os alimentos importados do Japão. “Ao contrário do que afirma a Anvisa, que em comunicado informou que o Brasil só importa misturas e pastas para a preparação de produtos de padaria, pastelaria e da indústria de bolachas e biscoitos, categoria de alimentos sem indícios de contaminação, semanalmente arroz arbóreo, bebidas alcóolicas (saquê), shiitake e algas marinhas desidratadas, para citar alguns exemplos, chegam ao Porto de Santos”.
De acordo com a entidade, os próximos carregamentos do Japão devem chegar ao Brasil na segunda semana de abril.
“Da mesma forma que o consumidor consciente deve exigir das indústrias informações sobre a procedência e os ingredientes usados na confecção dos alimentos que consome, neste caso específico do acidente no Japão, que tem dimensões mundiais, ele deve ficar atento às ações das autoridades e exigir delas um posicionamento, uma orientação concreta”, defende Camila Mello, gerente de mobilização comunitária do Akatu.
Com o vazamento de componentes radioativos, o risco passa a ser a entrada de material contaminado na cadeia alimentar humana, por meio do consumo da água, de vegetais ou de carne de animais mantidos com alimentação contaminada, alerta Gilson Delgado, oncologista e professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). “Com essa exposição frequente aparecem problemas crônicos como câncer de pulmão, de pele ou de sangue (leucemia), problemas na tiroide e esterilidade”, disse.
Monitoramento
Fiscais da Anvisa vão coletar amostras dos alimentos e enviá-las aos laboratórios que integram a rede da comissão nuclear, localizados no Rio de Janeiro e em São Paulo. Enquanto isso, a carga ficará retida nos portos e aeroportos e liberada somente depois do aval da comissão. Não foi estipulado prazo para o resultado da análise laboratorial, mas segundo Resende, a avaliação deve ser rápida.
Outra medida prevê exigir das autoridades japonesas que os produtos alimentícios de 12 províncias próximas à Usina Nuclear de Fukushima Daiichi, onde ocorreu o vazamento de material radioativo, cheguem ao Brasil com um certificado comprovando exame e liberação por parte da autoridade sanitária japonesa.
Nos aviões, serão emitidos avisos pelo sistema de som alertando os passageiros que é proibido ingressar no Brasil com comida proveniente de outro país.
O Brasil não é grande importador de alimentos japoneses, mas alguns produtos da cultura oriental são frequentes por aqui. É o caso de peixes (principalmente o salmão), algas (como o nori, muito utilizada em sushis), saquê (bebida alcóolica que é usada para compor a caipirinha) e massas (principalmente o macarrão tipo sobá, usado na preparação do yakissoba).
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