Comentário Akatu: O desafio da nossa sociedade em implementar soluções para destinar corretamente mais de 70 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos coletadas no Brasil anualmente é gigante. Segundo o Panorama da Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais) de 2015, 42% desse total ainda têm como destino lixões e aterros controlados, considerados ambientalmente inadequados. Muito além de aumentar os indicadores ainda tímidos de reciclagem no Brasil, precisamos urgentemente reconhecer a urgência de evitar o consumo desnecessário que gera ainda mais resíduos. Não se pode esquecer que a reciclagem, por si só, embora eficiente do ponto de vista de menor retirada de recursos da natureza, é um processo que também gera impactos negativos na medida em que é um processo industrial que usa diversos insumos. Por isso, deve-se sempre lembrar que o melhor resíduo é aquele que não é gerado. Nesse sentido, os 4R’s, envolvendo REPENSAR, REDUZIR, REUTILIZAR, e RECICLAR são ações que estão ao alcance dos consumidores de modo a contribuir para melhores possibilidades de gestão de resíduos a mais curto prazo. O projeto Litro de Luz, descrito na notícia abaixo, tem o grande mérito de usar, de modo extraordinariamente útil, resíduos que deixarão de ser coletados ao reutilizar garrafas plásticas usadas para levar luz para comunidades carentes de energia elétrica.
A ONG Litro de Luz utiliza uma solução simples e ecológica para iluminar comunidades em áreas distantes das redes de energia elétrica. Inspirado em uma ideia do brasileiro Alfredo Moser, que usou garrafas plásticas com água e alvejante para iluminar a própria casa, o projeto agora usa a técnica simples para mudar a vida de pessoas em diversos lugares do mundo.
Com o aporte financeiro recebido em uma premiação internacional, o próximo passo da organização é levar a solução à Amazônia. “Sabemos que a região Norte do país é onde há maior dificuldade de acesso à energia elétrica. Inúmeras famílias ainda não contam com iluminação dentro de casa e proximidades, principalmente em comunidades isoladas da Amazônia. Quando nos inscrevemos na premiação, pensamos nesta realidade e agora, por meio das nossas soluções, conseguiremos ajudar a mudá-la”, afirma Vitor Belota, fundador do Litro de Luz Brasil. Ainda na região, a ONG empregará a verba de R$30 mil, valor recebido da BrazilFoundation, entidade que mobiliza recursos para ideias e ações que transformam o Brasil.
Mais de 800 pessoas serão impactadas pelo projeto que contemplará dez comunidades do município de Caapiranga, no interior do Amazonas: Jacarezinho, Jacitara, Dominguinhos, Taboca, Joari, Cachoeira, Bararuá, São Sebastião, Patoá II e Rosa do Sarón. São comunidades que não contam com uma rede de energia elétrica e usam geradores para terem acesso à iluminação. No estudo do Litro de Luz, verificou-se que o engajamento dos moradores é muito forte e há grande interesse e necessidade da instalação das luzes solares. Assim, com o apoio dos mesmos, a ideia é mobilizar outras pessoas para que a solução se dissemine em outras regiões após a conclusão deste primeiro projeto.
As “lâmpadas” funcionam de maneira simples. Alocadas em pequenos buracos nos telhados, as garrafas recebem luz solar na parte superior e, por meio do efeito de refração, os raios se espalham e iluminam a parte interna do ambiente, equivalendo à claridade de uma lâmpada de 60 watts, em média.
Atualmente, a ONG trabalha também com a lâmpada noturna, que é uma evolução da anterior e conta com uma pequena placa solar anexada à garrafa, permitindo a iluminação também durante a noite; e principalmente com os postes de luz, voltados à iluminação pública, que são eficientes do ponto de vista econômico e ecológico. Eles são compostos por materiais acessíveis como canos de PVC, além da própria garrafa pet, e seu circuito é elaborado para que a luz acenda automaticamente com a chegada da noite e apague ao amanhecer. O lampião tem o mesmo sistema do poste, mas permite o deslocamento da lâmpada solar para onde a pessoa for. A economia gerada pelas soluções empregadas supera o seu custo em apenas três meses e ainda possibilita a redução de cerca de 250 kg na emissão anual de CO2.
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