Ao mesmo tempo em que parte da população dos países emergentes melhora de vida, tendo mais acesso a bens de consumo como geladeiras, computadores e telefones celulares, cresce a preocupação com o destino desses equipamentos. Carregados de componentes tóxicos, eles são muitas vezes descartados incorretamente e abandonados em lixões, contaminando o solo, a água e provocando danos à saúde dos seres humanos.
A situação deve ficar pior nos próximos anos, de acordo com o relatório Reciclando – Do lixo eletrônico a recursos, divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). A venda dos produtos eletrônicos crescerá muito na China, na Índia e em mais nove países representativos dos emergentes na África e na América Latina. Segundo o relatório, se não houver a adequada coleta e a reciclagem desses materiais, esses países em desenvolvimento terão de conviver com montanhas de lixo eletrônico tóxico, o que trará graves conseqüências para o meio ambiente e para a saúde pública.
Atualmente, o mundo gera 40 milhões de toneladas de lixo eletrônico por ano. São pilhas e pilhas de velhos e abandonados computadores, impressoras, telefones celulares, pagers, câmeras fotográficas digitais, tocadores de música digitais, geladeiras, televisores e brinquedos. A China, com 2,3 milhões de toneladas anuais, já é a vice-campeã mundial em quinquilharias descartadas, perdendo apenas para os Estados Unidos (3 milhões de toneladas anuais). Até 2020, esse número deve crescer entre 200% e 400%. Na Índia, o salto dever ficar em torno de 500%.
O Brasil ocupa o pouco honroso primeiro lugar no ranking de descarte de computadores per capita, que chega a pouco mais de 0,5kg por pessoa ao ano – como comparação, o índice na China é de 0,2kg por pessoa ao ano. Esse cálculo, conforme está explicado no relatório, é uma inferência a partir da expectativa de durabilidade dos computadores que já estão no mercado há alguns anos. Isso porque, segundo o relatório, não há dados consolidados disponíveis sobre a quantidade de computadores colocados atualmente no mercado, nem sobre o lixo eletrônico gerado.
Entre os 11 países avaliados, o Brasil passa pelo pequeno vexame de não ter dados disponíveis em vários gráficos, e de ainda receber o comentário de que as informações relativas ao país são “preliminares e incompletas”, pois “a informação sobre a situação do lixo eletrônico no Brasil é rara e não temos conhecimento de nenhuma avaliação abrangente”.
Transformar o problema em oportunidade
Segundo o relatório do PNUMA, a maior parte do lixo eletrônico na China é descartada e manejada incorretamente. Os recicladores – literalmente de fundo de quintal – costumam incinerar os equipamentos para extrair metais valiosos, como ouro, o que libera gases tóxicos e impede a recuperação de outros metais presentes nos aparelhos.
“Esse relatório mostra a urgência de estabelecer processos ambiciosos, formais e regulados para a coleta e a gestão do lixo eletrônico na China”, afirmou Achim Steiner, diretor-executivo do PNUMA, na divulgação do relatório. Ele chamou a atenção para o fato de que a China não está sozinha nesse desafio. “A Índia, o Brasil, o México e outros países também devem enfrentar danos ambientais e problemas de saúde se a reciclagem de lixo eletrônico for deixada às imprevisibilidades do setor informal.”
Steiner acredita que, agindo agora e planejando para o futuro, muitos países podem transformar o que ele chama de “desafio eletrônico” em uma “oportunidade eletrônica”. “Além de evitar problemas de saúde, aumentar os índices de reciclagem de lixo eletrônico nos países em desenvolvimento pode gerar empregos, reduzir a emissão de gases de efeito estufa e recuperar uma ampla gama de metais valiosos, incluindo prata, outro, paládio, cobre e irídio”, completou Steiner.
Um ponto positivo do Brasil, apontado pelo relatório, é o fato de ser um dos países com grande potencial de introduzir tecnologias de ponta em reciclagem, pois o setor informal em manejo de lixo eletrônico é relativamente pequeno, ao contrário do que acontece na China, por exemplo. Os outros países em situação semelhante à brasileira são Colômbia, México, Marrocos e África do Sul.
Para acessar o relatório completo (em inglês), clique aqui.
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