A cidade de São Paulo continua como a mais importante financiadora da devastação da floresta amazônica por ser a principal consumidora de seus produtos. Foi a conclusão da segunda pesquisa do projeto Conexões Sustentáveis, apresentada nesta quarta-feira (23/2) em São Paulo.
O projeto Conexões Sustentáveis é uma iniciativa do Fórum Amazônia Sustentável e da Rede Nossa São Paulo, tem a adesão de empresas, setores empresariais, do Instituto Akatu e outras ONGs e da Prefeitura de São Paulo. O levantamento sobre cadeias produtivas foi realizado pela ONG Repórter Brasil e pela Papel Social Comunicação.
“Ao fazer negócios com fornecedores envolvidos em crimes ambientais e trabalhistas, empresas com sede em São Paulo contribuem para a manutenção de relações comerciais predatórias e que não levam em conta a legislação e as práticas socialmente responsáveis”, é uma das conclusões do estudo.
O primeiro levantamento, feito em 2008, já apontava conclusões semelhantes e um dos resultados foi a criação dos pactos setoriais da soja, da madeira e da pecuária.
O novo estudo revelou a situação atual do desmatamento e do trabalho escravo na região amazônica e as conexões destas práticas nas cadeias produtivas da madeira, da soja e da pecuária.
Na cadeia da madeira, o levantamento apontou que os setores da construção civil, da indústria de móveis e de pisos são grandes financiadores da devastação da floresta. E que um esquema fraudulento torna “legal” madeira retirada de áreas proibidas, para alimentar fornos de siderúrgicas com carvão vegetal.
No caso da soja, a pesquisa alerta que o desmatamento não é o único tema de discussão. Um motivo de preocupação é o impacto na água da região, devido ao assoreamento associado ao corte da mata ciliar ou à contaminação dos rios por agrotóxicos. Também foram constatados casos de trabalho escravo em fazendas de soja.
A pecuária, segundo a pesquisa, é a principal causa do devastação na Amazônia. O Ministério do Meio Ambiente estima que 70% das queimadas sejam provocadas para a criação de pastagens. Além disso, mais da metade dos empreendimentos flagrados na Lista Suja do Ministério do Trabalho (relação de empregadores que exploram mão-de-obra escrava) são fazendas de gado.
Após a apresentação da pesquisa, feita pelo jornalista e cientista político Leonardo Sakamoto, da Repórter Brasil, e pelo jornalista Marques Casara, da Papel Social Comunicação, houve um debate sobre as conclusões do estudo com Valmir Ortega, ex-secretário do Meio Ambiente do Pará e diretor do Programa Cerrado-Pantanal, da Conservação Internacional do Brasil, Leda Maria Aschermann, secretária-adjunta municipal do Verde e Meio Ambiente de São Paulo, e Roberto Smeraldi, diretor da Amigos da Terra.
Os debatedores destacaram a importância da criação de políticas públicas que possam acompanhar e fiscalizar as atividades em toda a cadeia produtiva, a urgência no combate à corrupção, a necessidade de implementação de selos e certificações que facilitem a identificação dos produtos sustentáveis para o consumidor e a ampliação e o detalhamento das listas de empregadores e estabelecimentos que desrespeitam direitos humanos, trabalhistas e a legislação ambiental.
“Além disso, precisamos de políticas positivas de compras. Critérios que as grandes compradoras do varejo devem definir e dar publicidade e só comprar daqueles que os seguirem. Não basta abandonar os que figuram nas listas sujas. Tem de criar um processo que melhore as práticas na cadeia produtiva. Um processo que ouça inclusive os consumidores”, disse Roberto Smeraldi, da Amigos da Terra.
“Precisamos fortalecer a estrutura do poder público, para fiscalizar mais e melhor e reduzir a corrupção. Também é necessário um papel ativo do varejo: empresas e consumidores têm de pressionar a cadeia, senão não teremos resultados”, comentou Walmir Ortega, da Conservação Internacional do Brasil. Ortega alertou que a corrupção é um dos grandes “devoradores” da Amazônia. “No Pará, um dos grandes negócios da economia local é a regularização fraudulenta de terras públicas roubadas”, disse ele.
Segundo Ortega, o setor mais fraudado ainda é o da madeira: são extraídos cerca de 4 milhões de metros cúbicos de madeira legalizada por ano e estimam-se quase outros 4 milhões de metros cúbicos de madeira ilegal. “Tudo acontece devido à falta de estrutura de fiscalização do poder público ou por agentes públicos corrompidos por empresas.”
O que é o Conexões Sustentáveis
A iniciativa “Conexões Sustentáveis: São Paulo – Amazônia” busca mobilizar as cadeias de valor dos setores da pecuária, da madeira e da soja por meio de pactos setoriais para a preservação da Floresta Amazônica e seus povos.
Os signatários dos documentos se comprometem a financiar, distribuir e comercializar produtos com certificação (ou que estejam em processo de regularização) e provenientes de fornecedores que não façam parte da Lista Suja do Trabalho Escravo ou de áreas embargadas pelo Ibama.
E, no caso do Pacto da Soja, que estejam localizados nas áreas liberadas pela “Moratória da Soja”.
O texto dos pactos também prevê a mobilização, por parte dos signatários, para ampliar o número de adesões e a realização de campanhas de esclarecimento com seus consumidores e fornecedores. O cumprimento dos termos de compromisso em cada setor será monitorado pelo comitê de acompanhamento dos Pactos.
Além dos pactos empresariais, a prefeitura de São Paulo também se comprometeu com a iniciativa, assinando um termo de compromisso para desenvolver políticas públicas que ajudem a construir uma Amazônia sustentável. Acesse aqui o Termo de Compromisso assinado pelos candidatos à prefeitura de São Paulo em 2008 no I Seminário Conexões Sustentáveis.
Conheça os signatários de cada pacto:
Madeira
Total de Empresas Signatárias = 38
Lista de Adesão
– Amata
– Amigos da Terra – Amazônia Brasileira
– Associação Brasileira dos escritórios de Arquitetura – ASBEA
– AVISLIMP ECOLOGIC CLEANING
– BERACA SABARÁ QUÍMICOS E IGREDIENTES LTDA
– Carrefour Comércio e Indústria Ltda
– Ecolog Indústria e Comércio Ltda
– Espaço da Madeira
– Fazendinha Sustentável Jardinagem e Piasagismo ltda
– FSC – International
– Fundação Amazônia Sustentável
– Fundação Orsa
– Grupo Eco
– Grupo Pão de Açucar
– IFC – International Finance Corporation
– IMAFLORA – Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola
– Instituto Akatu
– Instituto Carvão Cidadão
– Instituto de Conservação Ambiental – TNC
– Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazonia
– Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social
– Instituto Peabiru
– Instituto São Paulo Sustentável
– ISA – Instituto Sócioambiental
– Leo Madeiras, Máquinas e Ferragens Ltda
– Mil Madeiras – Precious Woods
– Multimeio Comunicação e Marketing
– Natura
– Organização Internacional do Trabalho – Washington
– Orsa Celulose
– Orsa Florestal
– Produtores Florestais Certificados na Amazônia – PFCA
– Reporter Brasil
– Tramontina Belém S.A.
– Tulipe Consultoria em Projetos Sustentáveis
– Vale Grande Indústria e Com. De Alimentos S/A
– Wal-Mart
– www.legalmogno.co
Soja
Total de Empresas Signatárias = 17
Lista de Adesão
– Amigos da Terra – Amazônia Brasileira
– Carrefour Comércio e Indústria Ltda
– Fundação Amazônia Sustentável
– Grupo Pão de Açucar
– IFC – International Finance Corporation
– IMAFLORA – Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola
– Instituto Akatu
– Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social
– Instituto São Paulo Sustentável
– MEDEIROS & BORGES LTDA
– Multimeio Comunicação e Marketing
– OIT – Washington
– Reporter Brasil
– The Nature Conservancy
– Tulipe Consultoria em Projetos Sustentáveis
– Vale Grande Indústria e Com. De Alimentos S/A
– Wal-Mart
Pecuária
Total de Empresas Signatárias = 17
Lista de Adesão
– ABIRC – Associação Brasileira das Instituições de Rastreabilidade e Certificação
– Agropecuária Labrunier Ltda
– BERTIN S/A
– CANAÃ ALIMENTOS LTDA
– Carrefour Comércio e Indústria Ltda
– Comércio de Carnes Tiroleza Ltda
– Cooperativa dos produtores de carne e derivados de gurupi
– CORMEQ AGROPECUARIA E COMERCIO LTDA
– Cugnier Ltda.
– Cugnier Ltda.
– Fazendinha Sustentável Jardinagem e Piasagismo ltda
– Figorífico Vale do Sapucaí Ltda
– Frigol Comercial Ltda
– Frigorífico ASTRA do Paraná
– FRIGORIFICO SILVA INDÚSTRIA E COMÉRCIO LTDA
– Frigorífico Vangélio Mondelli Ltda.
– Frimaster Comercio de Alimentos Ltda
– Fundação Amazônia Sustentável
– Gelita do Brasil
– Grupo Pão de Açucar
– IFC – International Finance Corporation
– Instituto Akatu
– Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social
– Instituto São Paulo Sustentável
– ISA – Instituto Socioambiental
– JBS – Friboi
– Marfrig
– Margen AS
– Minerva S.A
– Multimeio Comunicação e Marketing
– NAVI CARNES INDUSTRIA E COMERCIO LTDA
– OIT – Washington
– Reporter Brasil
– RODOPA EXPORTACAO DE ALIM E LOGISTICA LTDA
– SADIA AS
– SERVIÇO BRASILEIRO DE CERTIFICAÇÕES
– The Nature Conservancy
– Tulipe Consultoria em Projetos Sustentáveis
– Wal-Mart
– WESSEL CULINÁRIA E CARNES LTDA
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