Criada no ano 2000 para nos alertar sobre a necessidade de preservar e cuidar do planeta, a Carta da Terra completa 15 anos em 29 de junho deste ano. Mais atual do que nunca, o documento nos mostra a necessidade do equilíbrio entre homem, natureza e desenvolvimento sustentável
Pare por um momento. Por apenas alguns minutos. Desligue de toda correria da sua vida. Das preocupações e ansiedades. Agora vá até seu quintal, até o jardim mais próximo ou a praça da esquina. Qualquer lugar que tenha verde – muito verde. Tire os sapatos e feche os olhos. Feche seus ouvidos para toda a loucura da cidade. Agora, sinta a grama e a terra sob seus pés descalços. Preste bem atenção e ouça o barulho do vento nas folhas das árvores. Respire fundo e perceba o odor das plantas.
Esta é a Terra. Nossa casa. Ela tem sido nosso lar por milênios. Não importa se acreditamos no evolucionismo ou criacionismo, ela não faz distinção. Nos recebeu de braços abertos. Nos deu generosamente abrigo, alimento e proteção. A Terra nos oferece diariamente tudo o que ela tem de mais precioso: água, solo fértil, calor e paisagens naturais deslumbrantes.
Todavia, gananciosos e prepotentes como somos, não demos devido valor a quem nos acolheu. Da Mãe Terra, fomos extraindo tudo o que pudemos – simplesmente para nosso conforto e satisfação pessoal. Poluímos o ar, sujamos a água, derrubamos suas florestas e praticamente esgotamos seus recursos naturais.
Mas a Terra não resistiu a nossos maus-tratos. Nossa casa começou a dar sinais de que está doente. Foi então, na década de 70, quando a geração hippie tomou as ruas das cidades, que o movimento “paz e amor” iniciou uma reconexão com a natureza. Naquele tempo, foi celebrado pela primeira vez o Dia da Terra – Earth Day, em inglês. O ativismo ambiental começava a dar seus primeiros passos.
Alguns anos mais tarde, em 1987, uma comissão internacional, liderada pela diplomata norueguesa Gro Harlem Brundtland (uma mulher visionária, muito a frente de seu tempo, que já havia sido ministra do meio ambiente e primeira-ministra daquele país), elaborou o relatório Nosso Futuro Comum. O documento se tornaria um marco, já que pela primeira vez na história, usava a expressão desenvolvimento sustentável, ao falar de como aquele que satisfaz as necessidades da geração presente sem comprometer a habilidade das gerações futuras satisfazerem as suas necessidades.
Baseada neste relatório, as Nações Unidas recomendaram que fosse redigido um novo documento, que alertasse à população mundial sobre os desafios do século XXI rumo a um desenvolvimento mais justo e igualitário e, paralelamente, clamasse a atenção para a necessidade da conservação e proteção da riqueza e biodiversidade dos ecossistemas do planeta.
O primeiro rascunho deste documento, que recebeu o nome de Carta da Terra, foi feito em 1992, durante a Conferência Rio92, realizada no Rio de Janeiro. Mas foi somente oito anos mais tarde, em 29 de junho de 2000, depois que milhares de pessoas do mundo todo – os povos da Terra – fossem ouvidas, que a versão final foi divulgada, na sede da Unesco, em Haia, na Holanda.
A Carta da Terra não é um documento de burocratas. É um reconhecimento, um pedido de desculpas. Um compromisso poético para com o planeta Terra. É uma declaração de amor tardia. Ela nos mostra de maneira clara e contundente como precisamos agir se quisermos continuar morando aqui. Dela fazem parte mensagens sobre justiça social e econômica, cultura de paz, conservação ambiental, respeito ao diálogo e à vida em todas as suas formas (leia a Carta da Terra na íntegra aqui)
Ao definir, na prática, o que seria o que sempre chamamos teoricamente de um mundo melhor, a Carta da Terra desenha com palavras como devemos mudar nosso comportamento como moradores do planeta.
Após a publicação do texto, diversas organizações do mundo todo começaram a trabalhar com seu conteúdo. Muitas destas iniciativas são coordenadas pela organização internacional Earth Charter (este é o nome da Carta da Terra em inglês). No Brasil, a carta ganhou inclusive uma linda versão infantil, para que os pequenos habitantes do planeta aprendessem a cuidar de nossa grande casa e que está disponível no site Meu Planetinha, do Planeta Sustentável.
Em 2009, as Nações Unidas declararam que no dia 22 de março seria celebrado o International Mother Earth Day. Para a ONU, o termo Mãe Terra reflete a interdependência que existe entre o ser humano, os outros seres vivos e o planeta onde todos nós habitamos.
Nos permitimos perder a ligação com o que é mais vital e intrínseco à nossa existência. Nascemos na Terra e daqui partiremos. Nossa existência toda será em seu solo, em meio a suas águas e ao seu verde. Mas há tempo de despertar e a Carta da Terra nos proporciona esta oportunidade. Ela deve ser nosso livro de cabeceira, nosso guia, nosso ideal. Porque à Terra só temos a agradecer pela sua generosidade e compaixão com seus habitantes.