A Cidade do Cabo – a segunda maior metrópole da África do Sul – está sofrendo uma das piores secas de sua história. As seis represas que abastecem a cidade, somadas, estão somente com 24,4% do volume. Se o nível cair para menos de 13,5%, o governo instituirá o Dia Zero, data em que será cortado o fornecimento de água em residências e empresas até o inverno (a estação das chuvas). O abastecimento será mantido apenas em locais onde há serviços essenciais, como hospitais. Por enquanto, a previsão é que aconteça no dia 4 de junho.
E o que acontecerá se de fato for cortado o abastecimento hídrico da cidade? A população terá de se dirigir a um dos 200 postos de distribuição espalhados pela cidade, que serão controlados por forças de segurança, para receber apenas 25 litros de água por pessoa diariamente (equivalente a menos da metade da água necessária para um banho médio). As ruas estarão com muitos policiais para evitar saques e roubos.
Os impactos na saúde pública poderão ser devastadores. Com um saneamento básico deficiente, haverá o risco de disseminação rápida de doenças perigosas, principalmente em regiões mais pobres. Outro problema será com as tubulações, que poderão quebrar em condições de secas, ameaçando a futura distribuição de água na cidade.
Para evitar que haja todo esse colapso hídrico, desde o dia 1º de fevereiro, o governo africano estipulou um racionamento de 50 litros diários de água por pessoa. Quem ultrapassar o limite paga multa. Está proibido lavar o carro, encher uma piscina ou irrigar plantas.
A situação caótica que a Cidade do Cabo enfrenta já ocorreu, de forma mais branda, em outras áreas urbanas pelo mundo. A Itália enfrentou, em 2017, uma das maiores secas dos últimos 60 anos, a ponto de centenas das icônicas fontes espalhadas nas ruas serem desligadas. A Califórnia, nos Estados Unidos, enfrentou durante cinco anos uma seca que se encerrou no ano passado. A China e sua capital, Pequim, também lidam com a falta de água – o país concentra 21% da população mundial e 7% de água fresca do planeta. E sentimos de perto aqui no Brasil, nas regiões metropolitanas de São Paulo, Belo Horizonte e Brasília.
Consumo consciente da água
A mudança permanente de comportamento do consumidor para um uso mais consciente da água é essencial para combater a escassez hídrica. Economizar água não deve ser uma atitude exclusiva de situações de crise, quando os reservatórios das cidades caem a um nível crítico.
A crise na África do Sul, no Brasil e em outros países foram grandes oportunidades para a mudança de comportamento do consumidor. Na Grande São Paulo, por exemplo, a população reduziu o gasto de água em 15% desde o início da crise, em 2014, até hoje.
Mas ainda há espaço para muita economia. A média de consumo per capita de água no Brasil em três anos (de 2012 a 2014) foi de 165,3 litros por habitante ao dia. A região Sudeste é a que tem o maior consumo de água per capita de todas as região do País: 192,2 litros por habitante ao dia, segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS). A ONU (Organização das Nações Unidas) recomenda o volume de 100 litros/dia é aara atender às necessidade básicas de uma pessoa.
Vale lembrar que, a água na Terra pode ser abundante, mas o percentual de água doce, usada nas atividades humanas vitais do dia a dia, é pequeno. Se toda a água do planeta coubesse em uma garrafa de 1 litro, a água doce disponível equivaleria a pouco mais de uma gota!
Essa escassez, somada à administração ineficaz dos recursos hídricos, ao crescimento populacional, ao aumento do consumo de bens e alimentos e às mudanças climáticas em consequência do aquecimento global, complica a situação em muitas cidades ao redor do globo.
Neste contexto, todos os atores sociais devem participar para que haja uma mudança real. O engajamento dos consumidores é tão importante quanto a atenção das organizações da sociedade civil, do governo ou das empresas.
Quer saber o que fazer para economizar água? Veja 10 dicas sugeridas pelo Instituto Akatu.