Quais seus critérios de escolha no consumo de alimentos? E quais os critérios que serão mais incorporados pelos consumidores neste século 21 e, consequentemente, por produtos e empresas?
Preço, qualidade e marca ainda respondem à primeira questão, mas, como resposta da segunda despontam sustentabilidade, valor de origem e saudabilidade. Valores cuja importância tende a crescer a cada ano deste século de mudanças na sociedade mundial, transformações demográficas profundas, alterações no mundo do trabalho, preocupação crescente com a saúde e aquecimento global.
Mais:a responsabilidade individual pelo consumo também tende a aumentar ao mesmo tempo em que o Estado tende a regular ainda mais o mercado de alimentos, o que pode tornar menos flexível a vida cotidiana e mesa sobretudo de nossos filhos e netos.
O diagnóstico é da antropóloga Lívia Barbosa, diretora de pesquisa do Centro de Altos Estudos da Propaganda e Marketing da Escola Superior de Propaganda e Marketing (CAEPM/ESPM), doutora em antropologia social e integrante do Conselho Acadêmico do Instituto Akatu.
Lívia participou do painel de abertura do 1º Seminário “Tendências do Consumo Contemporâneo”, promovido pelo CAEPM/ESPM em parceria com a Toledo e Associados e Enzo Donna Food Service, nos dias 8 e 9 de junho.
“A responsabilidade individual estará em alta, o que pode alterar até nossa relação com planos de saúde, que podem criar dificuldades na cobertura de doenças de origem alimentar, como obesidade e cardiovasculares. Também o Estado tende a regular mais fortemente o dia a dia, tanto do produtor e do distribuidor como do consumidor”, disse a antropóloga na palestra “O prato nosso de cada dia: tensões e inovações no comer contemporâneo”.
Enzo Donna, diretor da ECD Consultoria, especializada em food service, e coordenador dos Distribuidores Especializados em Food Service (Diefs), dividiu o painel com Lívia e apresentou a palestra “Tendências na alimentação fora de casa e no Food Service”.
Ele apontou que o setor dos serviços de alimentação (hotéis, bares, restaurantes, deliveries, lanchonetes, fast foods) é um dos mercados com maior potencial de crescimento no país e hoje já movimenta um negócio de R$ 443 milhões por dia, quase R$ 162 bilhões por ano.
Segundo Donna, os estabelecimentos do setor têm procurado se adaptar aos imperativos da sustentabilidade e têm investido em embalagens recicláveis e biodegradáveis, de menor volume e com rótulos mais informativos para o consumidor. Este, por sua vez, pode acelerar esse processo de inovação optando por empresas mais comprometidas com a saudabilidade, a origem, a qualidade e os processos sustentáveis de produção, transformação e distribuição dos alimentos no momento do consumo e o descarte adequado das sobras eventuais e das embalagens.
“As pessoas tendem a comer cada vez mais fora de casa. Cozinhar em casa será mais um ato social e menos uma atividade cotidiana. E os serviços, em geral, têm oferecido mais variedade de sabores, com redução de desperdício”, disse Donna.
A gente não quer só comida
Lívia discorreu sobre a divisão que faz em saudabilidade funcional e saudabilidade holística dos alimentos. Na primeira os consumidores valorizam o lado saudável contido nos elementos constitutivos da alimentação. “É a ênfase no alimento não na comida”, define Lívia. Uma abordagem impulsionada sobretudo pelo aumento da longevidade, das doenças cardiovasculares e da “globesidade” (o aumento global do número de obesos).
Na saudabilidade holística, “somos o que comemos”, destaca-se a relevância e a interdependência da comida, com destaque para a preocupação ambiental e a produção da agricultura familiar e agricultura orgânica.
Segundo a antropóloga, o mercado de orgânicos cresceu 200% nos últimos anos, mas o Brasil, os demais emergentes e o mundo pobre ainda engatinham nesse negócio. EUA, Canadá, Japão e Europa concentram 97% do consumo mundial de orgânicos. “Na Alemanha, 80% da ‘baby food’ é orgânica.”
A origem dos alimentos será cada vez mais valorizada, seja por fruição do sabor do alimentos, por política e ética de sustentabilidade e comércio justo ou por preocupação com rastreabilidade.
A comida engole a sala
Como antropóloga, Lívia destacou que a tendência da mesa do século 21 também leva a uma ressignificação e estetização da cozinha. “A nova cozinha surge como espaço de lazer, com novos donos: os homens, que entram ‘armados’ para o espetáculo.”
O design e a tecnologia invadem pias, fornos e fogões; há uma diluição da separação entre sala e cozinha, que passa a ser o ambiente principal da casa. “O convidado não chega mais só para jantar, mas para ‘assistir’ à preparação.”
No 1º Seminário “Tendências do Consumo Contemporâneo”, foram discutidas também “As transformações no Morar”, “Tendências no Agronegócio, na Gastronomia e nas Embalagens” e “Tendências do Consumo com o Uso das Novas Mídias”.
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