Poluição, fome, devastação de florestas, trabalho infantil, aquecimento global. Diante de grandes desafios sociais, ambientais e econômicos, gestos individuais podem parecer inúteis ou insuficientes. Porém, as escolhas dos consumidores fazem diferença, sim, principalmente quando consideradas em escala e ao longo de um período de tempo.
Para se ter ideia do potencial de contribuição de uma única pessoa em um recurso natural tão precioso como a água, veja esse exemplo: ao fechar a torneira para escovar os dentes três vezes ao dia, um único indivíduo pode economizar, ao longo de 70 anos de sua vida, uma quantidade de água equivalente a três quartos de uma piscina olímpica cheia de água. E esse é o menor gesto de consumo de água; imagine o que acontece ao considerar todos os demais!
Tomando o caso brasileiro, o fato é que a expectativa de vida cresceu de 50 para 73 anos em pouco mais de 60 anos. E, se o consumo dos brasileiros se comportou como a média mundial, hoje o consumo por pessoa é três vezes maior do que era há 60 anos e segue crescendo.
A humanidade já está consumindo 50% mais recursos renováveis do que a Terra consegue repor ou absorver. Isso significa que foi ultrapassada a capacidade do planeta de purificar o ar, produzir água potável, recuperar áreas agricultáveis e absorver todo tipo de resíduo gerado no consumo. Estas são ameaças que estão presentes hoje na vida de toda a humanidade. A situação social e ambiental é extremamente vulnerável com impactos negativos para todos. Não se trata de um problema futuro.
Mas a tecnologia não pode ajudar a resolver esse problema?
Para que não houvesse aumento da pegada ecológica, a mudança tecnológica teria que ser capaz de um aumento de quase cinco vezes na produtividade do uso de recursos naturais. Isto é, seria necessário que as novas tecnologias fossem capazes de usar cinco vezes menos recursos naturais para prover as populações de países desenvolvidos e subdesenvolvidos com o mesmo bem estar atual das populações mais ricas do planeta. Com certeza a humanidade poderá chegar a esses patamares de inovação, mas não em um prazo compatível com a sustentabilidade da vida no planeta.
Mudanças no modelo de produção, ainda que incluam um extraordinário esforço para reduzir significativamente o impacto negativo sobre o meio ambiente, estariam longe de propiciar o gigantesco ganho de produtividade que seria necessário, no uso dos recursos naturais, para que o atual modelo de consumo prevalente nas populações mais ricas pudesse ser disseminado pelos 84% da população mundial hoje responsável por apenas 22% do total do consumo.
Por isso, é preciso acelerar a conscientização do consumidor quanto aos impactos do consumo e à importância das mudanças no comportamento de consumo que permitam prover o bem-estar desejado com um uso muito inferior de recursos naturais. Assim como é preciso que as empresas encontrem formas de atender ao bem-estar do consumidor com um uso de recursos naturais que seja apenas uma pequena fração do que hoje é usado.
A solução para a sustentabilidade exige a participação de diversos agentes sociais e a mobilização consciente dos setores produtivos e dos consumidores, em parceria com o poder público, em busca de qualidade de vida. Por isso, o Instituto Akatu sugere que todos se empenhem para seguir os Dez Novos Caminhos para a Produção Responsável e o Consumo Consciente (http://bit.ly/akatu-10caminhos).
Ao consumir valorize:
1. Os produtos duráveis mais do que os descartáveis ou de obsolescência acelerada
2. A produção e o desenvolvimento local mais do que a produção global
3. O uso compartilhado de produtos mais do que a posse e o uso individual
4. A produção, os produtos e os serviços social e ambientalmente mais sustentáveis
5. As opções virtuais mais do que as opções materiais
6. O não desperdício dos alimentos e produtos, promovendo o seu aproveitamento integral e o prolongamento da sua vida útil
7. A satisfação pelo uso dos produtos e não pela compra em excesso
8. Os produtos e as escolhas mais saudáveis
9. As emoções, as ideias e as experiências mais do que os produtos materiais
10. A cooperação mais do que a competição