O que facilita e o que atrapalha a mudança para estilos de vida mais sustentáveis? Essa foi a questão central do estudo feito pelo Instituto Akatu, apresentando no Dia do Consumo Consciente (15/10). No evento de lançamento, realizado no Senac Consolação, em São Paulo, reuniram-se representantes de empresas, de universidade e especialistas, que debateram o tema.
A pesquisa Caminhos para Estilos Sustentáveis de Vida, de natureza qualitativa, realizou entrevistas em profundidade, em ambiente público (como em grupos focais) e ambiente privado (na casa das pessoas). Foram investigadas as práticas cotidianas de consumidores na compra, uso e descarte de produtos em quatro temas: alimentação, roupas, higiene e cuidados pessoais e limpeza da casa. “Essa pesquisa foi uma coleta de narrativas, um exercício de ouvir as pessoas para conhecer o jeito que elas levam a vida”, disse Gabriela Yamaguchi, gerente de Comunicação e Campanhas do Instituto Akatu.
Na visão de Ricardo Abramovay, professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP), as mudanças de comportamento das pessoas são determinadas fortemente pelo que fazem as empresas. “O grande problema é que as empresas não estão organizadas fundamentalmente para a inovação para a sustentabilidade. Elas estão organizadas para sua sobrevivência”, disse. “A inovação para sustentabilidade já se traduz em redes sociais diversificadas que envolvem atores privados, públicos, universidades e mercado financeiro. No Brasil, essa rede é precária.”
Para a mudança de hábitos das pessoas, não se deve focar apenas no consumidor, individualmente, disse a professora da Fátima Portilho, professora do CPDA/UFRRJ, doutora em Ciências Sociais pela Unicamp e Oxford, que também participou do debate no evento do Akatu. “As escolhas não são individualizadas. Elas têm expectativas construídas por diversos fatores como regras morais, oferta de produtos e serviços e políticas públicas”, disse.
Na opinião de Fátima, para impulsionar a mudança para estilos sustentáveis de vida, um dos desafios é desenvolver e divulgar produtos e serviços que sejam mais sustentáveis e, ao mesmo tempo, mais baratos, mais simples e mais práticos, que sirvam como “porta de entrada” a hábitos mais sustentáveis. Ela indaga: “será que as práticas sustentáveis não podem ser mais práticas? Será que a nossa vida não pode ser mais sustentável e também prática?”
Existem investidores que olham para empresas quem pensam em longo prazo e se esforçam para mudar o mercado em direção à sustentabilidade, apesar da pressão por resultados a curto prazo, observa Helio Mattar, diretor-presidente do Akatu. Ele cita o caso da Unilever, que abriu para os concorrentes a tecnologia para produzir embalagens de desodorante mais compactos, que usam menos matéria-prima e facilitam o transporte dos produtos. “Quando as empresas fazem isso, não é por generosidade. Elas entendem que vão se beneficiar no longo e médio prazo”, disse Helio.
Investigação do consumidor pela Sustentabilidade
A Unilever, uma das patrocinadoras da pesquisa, busca um novo modelo de negócio, segundo Ligia Camargo, gerente de Sustentabilidade da empresa. “Nossos produtos chegam a 2 bilhões de pessoas, o que nos traz orgulho, mas muita responsabilidade, proporcionalmente”, disse ela. Patrícia Cury, gerente de Sustentabilidade da Natura, também falou sobre esse compromisso com a sociedade. “Queremos deixar um legado maior às pessoas, não apenas vender nossos produtos.”
Lia Glaz, gerente do programa Health Kids da Nestlé, explica que a empresa está empenhada na “criação de valor compartilhado”, maneira de fazer negócios em que tanto o acionista quanto a sociedade se beneficie dos resultados. “Temos 38 comprometimentos com a sociedade em diversas áreas e o nosso desafio é transformá-los em práticas do dia a dia para colaboradores e consumidores”, disse. “A pesquisa do Akatu nos ajuda a fazer uma ponte com o consumidor.” A Nestlé, Grupo Malwee, Natura e Unilever patrocinaram o estudo Caminhos para Estilos Sustentáveis de Vida.
Quando começou a atuar no varejo do setor de vestuário, há 4 anos, o grupo Malwee notou uma baixa aceitação de produtos sustentáveis da empresa, disse Taise Beduschi, gestora de Sustentabilidade do grupo Malwee. “Queremos que o consumidor que vá comprar uma peça de roupa não pense apenas em ficar parecido com o ator da novela.”
Sociedade do bem-estar
Para que seja possível a mudança para um mundo mais sustentável, é preciso que uma ética leve a sociedade a pensar de forma diferente a própria necessidade dos produtos e serviços, disse Helio Mattar, diretor-presidente do Akatu. “Atualmente, a sociedade é baseada pelo consumo em si. É preciso que haja uma mudança de perspectiva, senão, a pessoa vai pensar que precisa de um carro, não de mobilidade. É preciso valorizar o bem-estar”, disse.