Nos primeiros sete anos desta década, o Ministério do Trabalho e do Emprego já registrou um número maior de empreendimentos de economia solidária do que em toda a década passada. De acordo com o Relatório Nacional do Sistema Nacional de Informações em Economia Solidária, já são mais de 21 mil organizações brasileiras que obedecem aos critérios de cooperação, autogestão, viabilidade econômica e, sobretudo, solidariedade, que permitem que elas sejam incluídas nesse estudo.
O estado com maior número de empreendimentos de economia solidária é o Rio Grande do Sul, com 2.085, seguido pelo Ceará, com 1.854 e por Pernambuco, com 1.526. O Relatório mostra que as organizações se dedicam, em sua maioria, às atividades rurais. 48% são exclusivamente rurais, 17% são rurais e urbanas e apenas 35% desenvolvem trabalhos urbanos.
A relação das 30 atividades mais desenvolvidas pelas organizações de economia solidária está focada na produção e comércio de produtos oriundos de cinco setores: lavoura; têxtil; manufatura de madeira, palha e cordas; alimentos; e reciclagem.
O principal motivo que leva as pessoas a organizarem um empreendimento de economia solidária é que ele representa uma alternativa ao desemprego. Em segundo lugar, porque é uma oportunidade de ganhar mais do que o que obtinham com outras formas de trabalho. E em terceiro lugar, a economia solidária aparece como um complemento de renda.
Mas a renda obtida com esses empreendimentos ainda é bastante modesta. A maior fatia, 36%, fatura entre R$ 1.000 e R$ 5.000 por mês; 24% não consegue ultrapassar os R$ 1.000 mensais; e apenas 4,8% registram uma entrada de caixa superior a R$ 100 mil.
Os empreendimentos não são pequenos. A maior parte deles reúne de 20 a 50 pessoas, mas esses trabalhadores admitem que encontram muita dificuldade para colocarem seus produtos no mercado. Quando questionados sobre que obstáculos seriam esses, a primeira resposta que aparece é “que apesar das tentativas, o empreendimento não conseguiu encontrar clientes suficientes”. Depois surge o problema da falta de mão-de-obra porque ninguém na organização quer cuidar das vendas. E existe ainda o fato de que o empreendimento já levou muitos calotes e não sabe como evitá-los.
Esses depoimentos mostram como é difícil consolidar algo tão importante como uma empresa baseada nos princípios da economia solidária. O consumidor consciente pode ajudar, procurando saber onde estão esses empreendimentos e apoiando-os pela compra de seus produtos. Quem quiser conhecer o Relatório na íntegra, pode consultá-lo no site do Ministério do Trabalho e Emprego, no endereço www.mte.gov.br/ecosolidaria/sies.asp.
O que é economia solidária?
O site do Ministério do Trabalho e Emprego define com o seguinte texto o que é economia solidária.
Economia Solidária é um jeito diferente de produzir, vender, comprar e trocar o que é preciso para viver. Sem explorar os outros, sem querer levar vantagem, sem destruir o ambiente. Cooperando, fortalecendo o grupo, cada um pensando no bem de todos e no próprio bem.
A economia solidária vem se apresentando, nos últimos anos, como inovadora alternativa de geração de trabalho e renda e uma resposta a favor da inclusão social. Compreende uma diversidade de práticas econômicas e sociais organizadas sob a forma de cooperativas, associações, clubes de troca, empresas autogestionárias, redes de cooperação, entre outras, que realizam atividades de produção de bens, prestação de serviços, finanças solidárias, trocas, comércio justo e consumo solidário.
Nesse sentido, compreende-se por economia solidária o conjunto de atividades econômicas de produção, distribuição, consumo, poupança e crédito, organizadas sob a forma de autogestão.
Considerando essa concepção, a Economia Solidária possui as seguintes características:
a. Cooperação: existência de interesses e objetivos comuns, a união dos esforços e capacidades, a propriedade coletiva de bens, a partilha dos resultados e a responsabilidade solidária. Envolve diversos tipos de organização coletiva: empresas autogestionárias ou recuperadas (assumida por trabalhadores); associações comunitárias de produção; redes de produção, comercialização e consumo; grupos informais produtivos de segmentos específicos (mulheres, jovens etc.); clubes de trocas etc. Na maioria dos casos, essas organizações coletivas agregam um conjunto grande de atividades individuais e familiares.
b. Autogestão: os/as participantes das organizações exercitam as práticas participativas de autogestão dos processos de trabalho, das definições estratégicas e cotidianas dos empreendimentos, da direção e coordenação das ações nos seus diversos graus e interesses, etc. Os apoios externos, de assistência técnica e gerencial, de capacitação e assessoria, não devem substituir nem impedir o protagonismo dos verdadeiros sujeitos da ação.
c. Dimensão Econômica: é uma das bases de motivação da agregação de esforços e recursos pessoais e de outras organizações para produção, beneficiamento, crédito, comercialização e consumo. Envolve o conjunto de elementos de viabilidade econômica, permeados por critérios de eficácia e efetividade, ao lado dos aspectos culturais, ambientais e sociais.
d. Solidariedade: O caráter de solidariedade nos empreendimentos é expresso em diferentes dimensões: na justa distribuição dos resultados alcançados; nas oportunidades que levam ao desenvolvimento de capacidades e da melhoria das condições de vida dos participantes; no compromisso com um meio ambiente saudável; nas relações que se estabelecem com a comunidade local; na participação ativa nos processos de desenvolvimento sustentável de base territorial, regional e nacional; nas relações com os outros movimentos sociais e populares de caráter emancipatório; na preocupação com o bem estar dos trabalhadores e consumidores; e no respeito aos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras.
Considerando essas características, a economia solidária aponta para uma nova lógica de desenvolvimento sustentável com geração de trabalho e distribuição de renda, mediante um crescimento econômico com proteção dos ecossistemas. Seus resultados econômicos, políticos e culturais são compartilhados pelos participantes, sem distinção de gênero, idade e raça. Implica na reversão da lógica capitalista ao se opor à exploração do trabalho e dos recursos naturais, considerando o ser humano na sua integralidade como sujeito e finalidade da atividade econômica.
Se você quiser seguir o Akatu no Twitter, clique aqui.