A educação integral torna-se possível com a construção das cidades educadoras e o estímulo de diversas áreas de conhecimento
Foto: Creative Commons/Little Kids
Educador, escritor e psicanalista, Rubem Alves dizia: “Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas. Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do voo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o voo. Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em voo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o voo, isso elas não podem fazer, porque o voo já nasce dentro dos pássaros. O voo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.”
As palavras do escritor serviram como uma metáfora do que pode ser a educação integral e as cidades educadoras quando citada por Maria Antônia Goulart, coordenadora executiva do Movimento de Ação e Inovação Social (MAIS), durante o Seminário Internacional de Educação Integral: Práticas para uma Cidade Educadora, que aconteceu na capital fluminense nos dias 10 e 11 de junho.
O evento reuniu professores, educadores, gestores, jornalistas e arquitetos, entre outros profissionais. “O seminário é um espelho do que pode ser uma cidade educadora, uma obra que é coletiva mesmo e não apenas de um setor", comemora Natacha Costa, diretora da Associação Cidade Escola Aprendiz, que também concebeu e é responsável pelo desenvolvimento estratégico do Centro de Referências em Educação Integral.
Em comum, muitos dos participantes e palestrantes do evento levaram a ideia de que só existirá uma educação integral, com o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes, se existirem cidades educadoras. O que significa que para a construção destas cidades é essencial que comunidades inteiras, abrangendo todas as áreas de conhecimento, pensem juntas sobre processos educativos. Além de participarem na construção e manutenção destes territórios.
Saindo dos muros da escola e encorajando o voo, como dizia Rubem Alves, o Edukatu, rede gratuita e aberta de aprendizagem, promovida pelo Instituto Akatu em parceria com a Braskem, é uma proposta que contribui com a educação integral e com a construção destas cidades educadoras, segundo Silvia Sá, gerente de educação do Instituto Akatu. “O Edukatu estimula ONGs, secretarias de educação, gestores, professores, alunos, suas famílias e comunidades a olhar para as atividades do dia-a-dia de uma forma mais sustentável e consciente", diz.
As atividades propostas pelo Edukatu no espaço virtual expandem-se para o cotidiano, para explorar e desmistificar territórios. Elas estimulam o movimento de trazer comunidades e famílias para dentro da escola, para trabalharem juntas, ao mesmo tempo em que incentivam estudantes e professores a fazerem o caminho contrário, saindo da escola e agindo em seus bairros.
Alguns exemplos práticos são os planos de aula e desafios, entre outras propostas da plataforma, que buscam estimular o protagonismo de estudantes com o consumo consciente. Essa é a proposta da atividade "Escreva seu Manifesto", que possui algumas dicas para promover o debate sobre os 4Rs (Repensar, Reduzir, Reutilizar e Reciclar).
Também é incentivada a conexão com o cotidiano da escola ao mesmo tempo que as saídas de campo – que exploram um território fora do ambiente tradicional de aprendizagem – e convidam a comunidade a compartilhar seus conhecimentos com os estudantes, como na atividade “Roteiro para entrevista”, que incentiva alunos a conhecerem melhor novas pessoas e histórias.
A plataforma contribui ainda com cidades educadoras quando cria alianças com diferentes segmentos, como é o caso da parceria com as Secretarias de Educação de Salvador (BA), Vila Velha (ES) e Roraima e com organizações sociais que já atuam no território para melhoria da qualidade da educação como a Fundação SOS Mata Atlântica, Instituto Educadigital, Instituto Lagoa Viva entre outros.
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