Exposições, seminários acadêmicos ou corporativos, feiras repletas dos mais sofisticados stands são atrações que movimentam um grande e promissor filão de mercado: o de promoção de eventos. Dos praticantes de esportes radicais aos fãs inveterados de música erudita, todo mundo ajuda a aumentar o público desses acontecimentos.
As estimativas apontam que são realizados cerca de 330 mil eventos por ano no país, capazes de atrair quase 80 milhões de participantes. A região sudeste concentra a maior parte dos eventos, promovendo quase 170 mil a cada ano, cerca de 52% do total, seguida pela região sul com 63 mil eventos anuais (19% do total). Tudo isso é muito bom para a economia nacional. No entanto, essas realizações costumam deixar uma conta ambiental elevada.
Os impactos acontecem principalmente devido ao excesso de consumo de energia e da grande quantidade de lixo produzidos ao final de cada produção. Preocupados com essas questões, promotores de eventos e empresas que investem no setor estão à caça de alternativas para minimizar esses problemas.
“Começamos a pensar em eventos sustentáveis ao ver aquele monte de materiais que voltam de um evento. Acabou o evento e ninguém se lembra que tem um caminhão de lixo lá fora com o qual ninguém sabe o que fazer”, conta Kátia Souza, diretora de uma empresa que investe no novo filão (KSR Eventos) e que ministra o curso de Produção de Eventos Artísticos e Culturais, no SENAC. “Quando acaba um evento, a maioria dos materiais utilizados em sua montagem são simplesmente descartados, como convites, panfletos, brindes e até o próprio cenário. Cinco sextos de tudo o que foi usado vai para o lixo e só cerca de 17% desse material será reaproveitado”, descreve.
Kátia estima que, com a adoção de medidas de minimização de impacto, como priorizar os recicláveis e reutilizáveis na escolha dos materiais usados na produção e confecção do cenário e evitar imprimir o que não for absolutamente necessário, é possível reduzir em até 80% o volume de lixo dos eventos. Ela conta que sua empresa produz, em média, 10 caçambas de lixo por mês e a meta e diminuir para apenas 2 caçambas de resíduos por mês, num futuro próximo.
Para atingir o objetivo, Kátia se inspirou nos ensinamentos de Al Gore, ex vice-presidente dos E.U.A. e autor do premiado documentário “Uma verdade Inconveniente”. Ela formulou uma proposta para reduzir o impacto ambiental da produção de eventos em geral. As dicas da empresária pretendem ajudar aqueles que querem contribuir no combate ao aquecimento global sem abrir mão dos eventos.
Aqui vão algumas orientações da especialista:
Profissional
Ø Cada vez é mais fácil encontrar empresas organizadoras de eventos que se preocupam com o impacto ambiental dessa atividade. Antes de contratar qualquer organizador, lembre-se de indagar a respeito desses cuidados.
Energia
Ø Na hora de escolher o espaço, optar por locais que tenham iluminação natural.
Ø Prestar atenção também no sistema de refrigeração de ar. Ele deve ser eficiente do ponto de vista energético, diminuindo o gasto de eletricidade.
Ø A iluminação dos stands e cenários pode consumir até 75% de toda a energia elétrica gasta em um evento. O ideal é escolher equipamentos que tenham melhor aproveitamento da energia, como os refletores profissionais que utilizam LEDs como elemento de iluminação.
Ø Evitar ao máximo o uso de geradores porque consomem combustíveis fósseis para funcionar e, portanto, emitem CO2, um dos principais gases de efeito estufa.
Transporte
Ø Buscar, sempre que possível, fornecedores locais para evitar que o material usado no evento seja transportado por longas distâncias.
Ø Verificar se os veículos utilizados pelos fornecedores estão em bom estado de manutenção de modo a consumir pouco combustível.
Ø Preferir empresas que abasteceçam os veículos com biocombustível.
Redução de resíduos
Ø Imprimir somente o imprescindível.
Ø Optar por brindes de material reciclável ou reciclado, com baixo impacto ambiental em sua cadeia produtiva.
Ø Usar copos, pratos, talheres e xícaras reutilizáveis.
Ø Cuidado com os brindes! O ideal é preferir os duráveis e funcionais, que têm bem menos chance de acabar na lata do lixo, logo que termina o encontro.
Ø Dar a destinação correta para o lixo após o evento, de modo a diminuir o impacto ambiental.
Ø Separar e enviar os recicláveis para as cooperativas de coleta seletiva.
Ø Reaproveitar o que for possível.
Ø Doar o que puder ser útil para terceiros.
Ø Tudo isso garante que menos lixo acabe lotando aterros sanitários e lixões, e diminui a necessidade de gastar ainda mais dinheiro dos impostos para a gestão dos resíduos sólidos.
Fornecedores
Ø Uma forma de proteger o meio ambiente é trabalhar com empresas que têm a preocupação com o impacto das ações sobre o mesmo. Portanto, analisar de quem e onde comprar é importante.
Ø Procurar sempre parceiros e fornecedores que adotem boas práticas socioambientais e evitar por completo aqueles que não respeitam os direitos dos trabalhadores, utilizam mão-de-obra infantil ou criam atritos com as comunidades onde estão suas instalações.
Investindo em soluções – Por ser o aspecto mais visível, o cenário e os materiais que o compõe são os principais fatores de investimento das empresas preocupadas com a sustentabilidade e são os itens que mais têm se desenvolvido no campo dos eventos popularmente conhecidos como “verdes”, até o momento.
O stand do Banco Real, parceiro pioneiro do Akatu, montado na área de exposições do SPFW (São Paulo Fashion Week), que aconteceu em janeiro passado, é um exemplo acertado de como é possível minimizar impactos e aplicar, na prática, os princípios de sustentabilidade nos eventos.
No stand, a madeira usada para a montagem foi substituída por MDF, uma chapa de fibra de madeira de média densidade, produzida com fibras de Pinus de reflorestamento. O piso recebeu revestimento fabricado com plástico 100% reciclado. Foram ainda utilizados tecidos e tapetes de fibras vegetais, confeccionados com fios de origem vegetal, como linho juta e algodão cru orgânico. Para o revestimento dos móveis foi usada uma malha fabricada com fibra reciclada de garrafa pet. Já para a iluminação foram adotadas as lâmpadas de LED, que consomem menos energia que as lâmpadas profissionais tradicionalmente usadas na cenografia dos eventos.
As escolhas de materiais e iluminação, como as do stand do Real, demonstram que já existem opções no mercado para quem pretende apostar na sustentabilidade. E, apesar das dificuldades ainda existentes na busca de novos modos de pensar e planejar um evento, exemplos como o acima mostram que, cada vez mais, a preocupação com o impacto que as atividades humanas podem provocar tanto no presente, como no futuro, sobre o meio ambiente e a sociedade criam um cenário favorável para o desenvolvimento do setor, mas com nuances cada vez mais corretas do ponto de vista socioambiental.
Outra tendência entre os eventos que buscam sustentabilidade é a neutralização das suas emissões de carbono, por meio do plantio de árvores. A idéia é utilizar a a capacidade das árvores de captar CO2 e armazená-lo em forma de biomassa (nos galhos, folhas, frutos etc.), para retirar da atmosfera uma quantidade equivalente à dos gases de efeito estufa emitidos pelo evento.
Em média, uma árvore da mata atlântica, por exemplo, absorve 180 quilos de CO2, em 37 anos de crescimento, segundo dados da ONG Iniciativa Verde, que promove os projetos de neutralização. Já uma árvore como o Pinus absorve, no processo de fotossíntese, 400 kg de CO2 ao longo de 20 anos.
Assim, após fazer as contas de quanto CO2 é liberado nas atividades de um evento, é possível calcular quantas árvores terão que ser plantadas para compensar as emissões totais de gases emitidos e o tempo que será necessário para tal acumulação.
Apesar da boa intenção, a neutralização está longe de ser uma solução. Além do desequilíbrio de tempo, já que as árvores levam décadas para absorver os gases que o evento libera em horas ou dias, também há o risco de as árvores não sobreviverem o tempo necessário para completar o ciclo. A forma mais garantida é evitar que os gases de efeito estufa sejam liberados. Portanto, o que se recomenda é repensar a organização do evento de modo a reduzir cada vez mais as emissões.
Para isso, o consumidor, seja no papel de promotor de um evento ou de público final, desempenha papel relevante ao valorizar atitudes e ações em prol de um maior compromisso com a promoção da sustentabilidade da vida humana no planeta, a cada pequena escolha em seu dia a dia.
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