Um estudante encaminha um e-mail a poucos colegas contestando a veracidade das imagens de palestinos comemorando o sucesso dos atentados de 11 de setembro, transmitidas pelo canal americano de TV CNN. O e-mail se espalha. Duas semanas depois, a CNN vai a público para provar que as imagens eram verdadeiras. O episódio foi utilizado durante o seminário As Novas Relações de Consumo do Século 21, realizado ontem, em São Paulo, para exemplificar em que proporções a globalização da informação e a revolução tecnológica estão influenciando a relação entre consumidores e empresas.
“Hoje, qualquer ser humano pode contestar, denunciar e, em poucos minutos, tornar mundialmente público seu ponto de vista, exigindo, como no caso citado acima, uma explicação rápida de quem está do outro lado”, diz Hélio Mattar, presidente do Instituto Akatu para o Desenvolvimento Consciente. “A revolução tecnológica dos últimos 30 anos possibilitou o crescimento de uma massa crítica de consciência dos consumidores, por meio da densidade de informações recebidas diariamente e, em grande parte, do trabalho de conscientização realizado pelas ONGs. Conscientes das questões que preocupam o mundo, como meio ambiente e pobreza, os consumidores exigirão mais do que produtos de qualidade e bom serviço das empresas. Demandarão delas responsabilidade social e comprarão de companhias que defendem causas com as quais se identificam.”
Queda – O fenômeno é visível em várias partes do mundo. Um exemplo foi a queda de 20% na compra de ações da Nike, que passaram a valer a metade de um dia para o outro, quando se descobriu que a empresa terceirizada serviços que utilizavam mão-de-obra infantil do Sudeste Asiático. A destruição da flora e da fauna por uma fábrica da Mitsubishi, localizada no México, fez com que milhares de americanos ameaçassem boicotar os produtos da empresa. O mesmo ocorreu na França, depois que a Danone anunciou uma demissão em massa.
Pesquisa realizada em 23 países detectou que 23% dos consumidores já se beneficiaram ou puniram uma empresa de acordo com a sua atuação social e 40% fariam o mesmo. No Estados Unidos, além de optar por verduras mais frescas, os consumidores já preferem produtos ecologicamente corretos. E os supermercados passaram a oferecer sacolas de papel reciclado quando perceberam que estavam sendo boicotados por usarem sacolas não biodegradáveis.
O perfil do novo consumidor atinge também investidores – em 2000, os americanos investiram U$ 2,2 trilhões em empresas socialmente responsáveis, um volume 180% maior do que quatro anos antes, enquanto os investimentos como um todo subiram 40% no mesmo período. “É a globalização da solidariedade”, diz Mattar. Segundo ele, a propaganda também terá de se adaptar.
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