Comentário Akatu: Diante da crise hídrica, alguns hospitais em São Paulo já estão utilizando a água de forma mais consciente, como mostra a reportagem abaixo. É preciso inovar nos padrões de produção e de consumo para que seja possível alcançar o bem-estar desejado pela sociedade com um uso muito menor de recursos naturais, como a água. Hoje, já consumimos e descartamos 50% mais recursos naturais renováveis do que o planeta é capaz de regenerar e absorver, inclusive a água. Necessitamos, ao mesmo tempo, de uma produção mais responsável e de um consumo mais consciente.
A crise hídrica em São Paulo tem feito muitos consumidores adotarem ou intensificarem medidas criativas e sustentáveis para fugir do racionamento e contribuir para a diminuição do consumo de água no estado. Hospitais da capital paulista, por exemplo, têm recorrido a reformas da estrutura hidráulica, ao reaproveitamento da água produzida em aparelhos a vapor e até mesmo à instalação de garrafas PET em descargas para reduzir a vazão.
Enquanto os paulistas se esforçam para economizar, o Sistema Cantareira, principal fonte de abastecimento da região, não dá sinais de recuperação. Ontem, 26/11, o volume armazenado caiu pelo 12º dia seguido e ficou em 9,2%.
No Hospital Samaritano, foram instaladas garrafas PET preenchidas com pedras no interior das bacias sanitárias para diminuir a vazão. De acordo com a instituição, essa solução caseira, iniciada em abril, resulta em uma economia de 1,5 litro de água a cada descarga. Além disso, o hospital trocou tubulações antigas, chuveiros e vasos. No caso dos sanitários, optou-se pelo sistema dual flush (caixa sanitária com dois botões que permitem descargas com níveis diferentes de água) e a redução, de 9 para 6 litros, da caixa acoplada. Todas essas mudanças trouxeram, até outubro, uma economia de quase R$ 700 mil, segundo dados do hospital.
A instalação de equipamentos mais modernos também foi uma das alternativas encontradas pelo Hospital do Coração (Hcor) para economizar água. Foram instalados, por exemplo, redutores de vazão (pequenos anéis que controlam a saída de água) em torneiras e chuveiros. O gerente de Engenharia Hospitalar, Gleiner Ambrósio, destaca que isso é feito respeitando as normas técnicas. “Se reduzo a quantidade de água para lavagem de mãos ou banhos, o processo de limpeza pode se tornar precário. As vazões são mantidas dentro de um limite mínimo definido pela Associação Brasileira de Normas Técnicas.”
Além de mudar equipamentos, o HCor reaproveita a condensação gerada pelos equipamentos de vapor, como as máquinas secadoras da lavanderia. Essa medida permitiu uma economia de água de 600 metros cúbicos por mês (m³/mês), ou 600 mil litros. De acordo com Ambrósio, isso equivale a 600 caixas d’água. Outra solução que gerou queda de consumo foi a instalação de um sistema eletrônico de irrigação do jardim. “O hospital está economizando em torno de 3,5 mil m³/mês. Estamos deixando de captar da concessionária por reaproveitar”, disse ele.
Temporizadores e redutores de vazão também foram instalados no Hospital Alvorada. A medida, adotada em 2011, reduziu em 30% o consumo de água. No contexto de crise hídrica, novas soluções foram encontradas. Uma delas foi aumentar a temperatura dos aquecedores de chuveiros para que a água esquente rapidamente, evitando o desperdício da água fria durante o banho. Desde abril deste ano, a instituição passou a fazer palestras sobre água, energia e reciclagem para conscientizar funcionários e o público em geral sobre a importância de economizar. A campanha reduziu em 8% o consumo de água.
No Hospital São Camilo, a lavanderia, que já trata a água para reúso desde 2007, ampliou o horário de funcionamento da estação de tratamento. “Até agosto, era até as 15h. A partir de então, colocamos para trabalhar até as 19h. Aumentamos em quase quatro horas”, informou a gerente do setor, Maria Aparecida Mastroantonio. Segundo Maria Aparecida, o processo ocorre automaticamente com a colocação de produtos químicos no afluente. Além disso, a água passa por filtros e bactericidas, como o gás ozônio. “Tínhamos, até agosto, reaproveitamento de 40% e o percentual aumentou para 60%. Em novembro, talvez a gente consiga um pouco mais”, projetou.
Outra saída que está sendo adotada por consumidores comuns e também condomínios residenciais e comerciais é a instalação de cisternas para captação da água de chuva. O interesse por esse produto na empresa EcoCasa, por exemplo, aumentou 375% entre janeiro e outubro, de acordo com o coordenador de Marketing, Hiago Vilar. Ele disse que as regiões metropolitanas de São Paulo e de Campinas são as áreas com maior procura no estado. De acordo com Vilar, um reservatório residencial custa de R$ 6 mil a R$ 13 mil, dependendo do projeto, que pode variar de 5 a 10 mil litros de capacidade. “É possível reduzir até 50% do consumo de uma família”, estimou.
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