O surfista potiguar Ítalo Ferreira estampou no peito a de ouro; nossa fadinha Rayssa Leal arrasou no skate e trouxe pra casa a de prata; e o judoca Daniel Cargnin vibrou muito ao conquistar a de bronze. Além de representarem a alegria extrema proporcionada pelo esporte, você sabe o que essas medalhas, só algumas das que o Brasil já garantiu nas Olimpíadas de Tóquio, têm em comum? São todas feitas de material 100% reciclado.
Todas as cerca de 5 mil medalhas desta edição dos Jogos foram produzidas inteiramente com metais extraídos de equipamentos eletrônicos. Esta é a primeira vez que uma Olimpíada atinge esse marco — nos Jogos do Rio de 2016, 30% das medalhas de prata e bronze derivaram de materiais reciclados —, portanto, eis um dos legados que a organização dos Jogos Olímpicos de Tóquio vai deixar para o mundo no campo da sustentabilidade.
A iniciativa foi além: o Comitê Olímpico mobilizou a população local a participar por meio da doação de uma quantidade impressionante de celulares, laptops, computadores e outros equipamentos eletrônicos.
O governo japonês recolheu 78,9 mil toneladas de lixo eletrônico, o que corresponde ao peso de quase 5 mil ônibus. E a maior operadora de telefonia local coletou 6,21 milhões de smartphones: é como se cada habitante da cidade do Rio de Janeiro tivesse entregado um aparelho. Impressionante, não?
Depois da coleta, os materiais foram separados para a extração de ouro, prata e metal presente em pequenas quantidades nas placas-mãe e circuitos elétricos. Após o processo de separação manual dos equipamentos, da trituração das placas e da decantação dos materiais, chegou-se a aproximadamente 32 kg de ouro, 3,5 mil kg de prata e 2,5 mil kg de bronze, usados integralmente para moldar as chamadas medalhas verdes.
“A iniciativa do Japão ilustra bem os múltiplos benefícios da reciclagem: além de recolher uma grande quantidade de equipamentos que poderiam se acumular em aterros ou lixões, a ação deu uma nova vida a materiais que ainda tinham valor. A mensagem que fica extrapola a maior competição esportiva do mundo”, afirma Felipe Seffrin, coordenador de comunicação do Instituto Akatu.
Inspire-se no legado olímpico e cuide do seu lixo eletrônico
A iniciativa dos Jogos de Tóquio é um ótimo exemplo para mostrar o quanto podemos avançar na reciclagem de materiais eletrônicos no Brasil. Somos o 5º país que mais gera lixo eletrônico no mundo, com uma média de 1,5 milhão de toneladas por ano, só atrás de China, Estados Unidos, Índia e Japão, de acordo com o Global E-Waste Monitor 2020, das Nações Unidas. O problema é que reciclamos somente 3% de todos os celulares, computadores e equipamentos eletrônicos recolhidos. É muito pouco.
O descarte inadequado de celulares, computadores e baterias desses aparelhos representa uma ameaça para o meio ambiente, pois eles podem contaminar o solo e poluir rios e mares com derivados do plástico e metais pesados como chumbo, bromo, cloro, mercúrio, cádmio, lítio e níquel. Quando queimados de forma irregular, podem ainda exalar gases poluentes altamente tóxicos, representando um risco para a saúde pública. E, se deixados na natureza, podem levar até 500 anos para se decompor.
A questão também é econômica: estima-se que o Brasil perde cerca de US$ 2,2 bilhões por ano com a má gestão ou o subaproveitamento de resíduos eletrônicos. Ou seja: se fizermos a destinação correta de celulares e computadores estimulando a reciclagem de materiais causamos impactos positivos para a sociedade, para o meio ambiente e para a economia.
Saiba como contribuir para o descarte adequado e para a reciclagem de eletrônicos:
- Não descarte eletrônicos (ou qualquer outro tipo de material) na natureza, na rua ou em terrenos abandonados
- Verifique no site da prefeitura do seu município se existe alguma iniciativa pública para recolher celulares, computadores, laptops e outros equipamentos eletrônicos
- Localize o ponto de coleta ou ponto de entrega voluntária (PEVs) mais próximo da sua casa por meio da plataforma da Associação Brasileira de Reciclagem de Eletroeletrônicos e Eletrodomésticos, do portal e-Cycle ou da gestora de logística reversa Green Eletron
- Verifique se o fabricante do seu equipamento possui um programa de logística reversa, em que ele recolhe o produto para então dar a ele uma destinação adequada
- Antes de descartar, doe equipamentos que você não usa mais, mas estão em bom estado, para organizações sociais que possam fazer melhor uso deles
- Outra opção é vender equipamentos em bom estado no mercado de segunda mão, ou, ainda, vender a sucata eletrônica para organizações que compram esses resíduos.
Para mais dicas sobre gestão adequada de resíduos, clique aqui.