Material de mil utilidades, o poliestireno expandido, mais conhecido como isopor, chega às nossas casas sob diversas formas: desde bandejas que acompanham alimentos como carne, legumes e frios, até como componentes de embalagens de eletrodomésticos e aparelhos eletrônicos. Quimicamente, o isopor consiste de dois elementos, o carbono e o hidrogênio. Por ser um plástico celular e rígido, ele tem as vantagens de poder apresentar-se numa grande variedade de formas e de ter aplicações bastante diversas.
Muito bom, não é? Isso tudo seria ótimo se ele não fosse tão danoso ao meio ambiente e difícil de reciclar. As razões são várias.
Um dos problemas do isopor é sua composição: 98% de ar e 2% de plástico. Isso quer dizer que, quando derretido, o volume final do isopor cai para 10% do que foi coletado. Por essa razão, a maioria das cooperativas e empresas do setor de reciclagem sequer aceita doações, ao menos de pequenas quantidades do produto. E muito menos se dispõem a coletá-lo, já que, devido à sua baixa densidade, ele ocupa muito volume, o que encarece seu transporte e, conseqüentemente, a sua reciclagem, exigindo quantidades muito grandes para se viabilizar economicamente o processo como um todo.
Quando não vai para reciclagem o isopor pode provocar diversos prejuízos. Se for destinado ao lixo,pode levar, conforme estimativas, 150 anos para se decompor. Nos aterros sanitários, além de ocupar muito espaço e saturar com mais rapidez as áreas destinadas ao lixo, o que exige grandes investimentos públicos para a construção de novos aterros, a compactação causada pelos restos de isopor prejudica a decomposição de materiais biodegradáveis. E se for para lixões, estará deixando seu rastro no ambiente por um longo período de tempo.
Se jogado em rios e mares, as pelotas de isopor – produto do esfacelamento desse material – são ingeridas por cetáceos e peixes ao serem confundidas com organismos marinhos, e, muitas vezes, acabam por matá-los.
Por fim, se for queimado, o isopor libera gás carbônico contribuindo, portanto, para a poluição do ar e para o aquecimento global.
Reduzir ou Substituir
Por todas essas razões, Patrícia Blauth, da Consultoria Menos Lixo – Projetos de Educação em Resíduos Sólidos, recomenda que se evite comprar produtos armazenados e transportados com isopor. Segundo ela, diversos usos para o isopor são bastante questionáveis, como “as bandejinhas de frios, frutas e legumes, por exemplo, têm função meramente decorativa”, declara. Esse uso poderia ser substituído por outro material ou simplesmente eliminado sem prejuízos ao consumidor e com um enorme benefício para o meio ambiente, argumenta a pesquisadora. Nesse caso, o consumidor pode pedir no supermercado que seus produtos sejam embalados na hora e sem a inclusão da bandejinha de isopor.
No caso de eletroeletrônicos e eletrodomésticos, geralmente embalados com isopor para evitar danos aos produtos durante o transporte, o consumidor pode dirigir um questionamento à empresa fabricante indagando se o uso do isopor não poderia ser substituído ou mesmo dispensado. Se muitos consumidores fizerem a pergunta, com certeza as empresas buscarão formas de substituir o isopor. Ao adquirir um produto de pequeno porte, retirado na própria loja onde foi comprado, o consumidor pode deixar o isopor no local. No caso de produtos maiores, entregues em casa, pode-se pedir ao entregador que leve o isopor das embalagens de volta à loja. Isto certamente vai fazer com que os lojistas pressionem os fabricantes a substituir o isopor de suas embalagens por outro material que seja mais amigável ao meio ambiente.
Muitos restaurantes e lanchonetes adotam embalagens descartáveis de isopor. O consumidor, também nesse caso, pode sugerir ao estabelecimento para que substitua o isopor por materiais que sejam no mínimo recicláveis. Ou o consumidor pode passar a privilegiar os estabelecimentos que utilizam xícaras e copos reutilizáveis, influenciando seus amigos e familiares a fazer o mesmo, indicando aos estabelecimentos que esta é a sua preferência.
Produção da bioespuma: uma alternativa ao isopor
Algumas indústrias vêm apostando na substituição do isopor por uma solução biodegradável: a bioespuma. Obtida a partir de produtos naturais renováveis, derivados de plantas e sementes como cana-de-açúcar, soja, mamona e coco, também tem a vantagem de se degradar facilmente no meio ambiente. A Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), em parceria com a empresa Kehl Polímeros, de São Carlos no interior de São Paulo, desenvolveu uma bioespuma que se decompõe em, no máximo, dois anos, na presença de oxigênio. Sem oxigênio, o tempo de decomposição é de três anos.
O material pode substituir o isopor em diversas aplicações, como embalagens de produtos eletrônicos, bandejas de alimentos e substrato para a plantação de mudas na área agrícola.
O descarte da bioespuma, por ser composto de produtos naturais, vai gerar lixo de material orgânico e, conseqüentemente, o malfadado gás metano que é altamente poluente. Como é sabido, isto ocorre na decomposição de qualquer material orgânico. Assim, mesmo se degradando mais rapidamente que o isopor, a bioespuma também será responsável por poluir. Por esta razão, o excesso de embalagens descartáveis, mesmo que biodegradáveis, permanece sendo um grande problema.
Outra substituição bastante usada pela indústria como alternativa ao isopor é a polpa moldada (como as de caixa de ovos) feita a partir de papel reciclado e reciclável.
Para a professora Mara Lúcia Dantas, do Laboratório de Embalagem e Acondicionamento do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), ainda são necessários ajustes na formulação da bioespuma. Ela explica que um dos problemas é que as espumas feitas de produtos naturais podem atrair roedores e insetos aos armazéns de estoque.
Mesmo diante dessas possibilidades de substituição, para Patrícia Blauth, da Consultoria Menos Lixo, a melhor alternativa ainda é a redução no consumo de embalagens. Ela lembra que todo consumo gera impacto e que “no caso das soluções biodegradáveis, o impacto é também sobre a agricultura aonde a prioridade deveria ser a de plantar alimentos e não a de criar mais embalagens, muitas delas desnecessárias”.
Rede varejista aposta na reciclagem
Responsáveis por comercializar boa parte das 36,5 mil toneladas do material consumido no país (dado referente a 2006), as grandes redes varejistas do país têm se preocupado com a reciclagem das embalagens. O motivo é que são encontrados nas prateleiras dos supermercados inúmeros produtos com embalagens de isopor que são entregues principalmente pelas indústrias de alimentos. Por isso, algumas redes de supermercado tem participado de projetos que não visam lucros, mas sim reduzir o impacto das embalagens de isopor no meio ambiente e incentivar o trabalho de cooperativas de reciclagem que recebem o produto de graça.
Há três meses, o Grupo Pão de Açúcar (Parceiro Estratégico do Akatu) está testando em fase piloto um projeto, desenvolvido em parceria com a Plastivida – Instituto Sócio-Ambiental dos Plásticos. Por enquanto o programa se restringe ao isopor gerado por uma loja do Extra, no bairro do Morumbi na capital paulista. O produto coletado é todo doado para uma cooperativa. A Coopervivabem recebe o isopor e, após esse material passar por uma máquina de prensagem, a cooperativa vende à Proeco, empresa recicladora, que faz a reciclagem. O que viabiliza a reciclagem é que a quantidade disponível é muito grande o que permite uma escala viável do ponto de vista econômico. Segundo Beatriz Queiroz, gerente de sustentabilidade do grupo, “o projeto tem rendido bons resultados e deverá ser estendido para outras lojas do Extra”. Beatriz ressalta que, “além de cuidar do meio ambiente, o objetivo do projeto é gerar emprego e renda, e isso é possível ao entregarmos esse isopor sem custos para a cooperativa”.
O Carrefour também fez uma parceria com a Plastivida, semelhante ao firmado com o Extra. A rede está realizando a coleta e reciclagem do isopor descartado pelas 58 lojas da rede no Estado de São Paulo. O projeto começou em setembro e está funcionando muito bem. A expectativa do Carrefour é encaminhar para reciclagem 35 toneladas do material por mês, o que é um volume que viabiliza uma escala econômica para a operação. A medida deverá ser estendida futuramente para as lojas do Carrefour de outros estados do país. A coleta de todo isopor descartado pelas lojas da rede é realizada por firmas especializadas que entregam o material à Proeco, empresa responsável pela reciclagem.
Projetos que envolvem a reciclagem do isopor ainda podem ser considerados incipientes, principalmente, se levarmos em conta a grande quantidade de embalagens do produto que são utilizadas todos os dias. O consumidor consciente pode fazer a sua parte quando se dirigir ao supermercado. Ao procurar evitar produtos embalados com isopor, o consumidor passa uma mensagem clara que está atento às conseqüências causadas por aquilo que compra e seus efeitos posteriores.
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