Um estudo divulgado na quinta-feira (18/11) pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aponta o macarrão instantâneo e os temperos prontos desse macarrão como os produtos com maior concentração média de sódio, dentre 20 categorias de alimentos industrializados analisados.
Na concentração de gordura saturada, salgadinho de batata frita e batata palha lideram a lista, com concentração média ligeiramente maior na batata palha. O biscoito de polvilho, segundo o estudo, é o campeão na concentração de gordura trans.
Entre os refrigerantes e sucos industrializados, o estudo constatou que os refrigerantes de baixa caloria têm mais sódio que os normais, e os néctares apresentam maior teor de açúcar que os refrigerantes e os sucos.
O sódio participa de funções básicas importantes do organismo, sendo responsável por equilibrar a quantidade de água, contrações musculares, impulsos nervosos e ritmo cardíaco entre outros. Entretanto, o excesso da substância é apontado como um dos responsáveis pelo aumento dos registros de doenças crônicas, como hipertensão, problemas cardíacos, de colesterol e de rins e obesidade.
A gordura saturada é de origem animal e encontrada, principalmente, em carnes vermelhas e brancas e leite e seus derivados. Para um bom equilíbrio nutricional, o organismo humano necessita desse tido de substância, mas em quantidades pequenas. “A questão é que quando consumida excessivamente, elas podem causar problemas cardiovasculares”, explica Mariana Del Bosco, nutricionista da Liga de Obesidade Infantil do Hospital das Clínicas da USP e responsável pelo Departamento de Nutrição da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade (Abeso).
“Já as gorduras trans, devem ser evitadas. Não há benefício algum para a saúde humana derivado do consumo dessa substância”, alerta a especialista. “Esse tipo de gordura é responsável pela diminuição do colesterol benéfico ao organismo (HDL) e pelo aumento do colesterol ruim (LDL), elevando o risco de obesidade e complicações cardíacas”, explica. A gordura trans é produzida por meio de processos químicos e adicionada a produtos processados como margarina, biscoitos e sorvetes, além de melhorar o sabor, aumenta sua validade, tornando-os menos dependentes da refrigeração.
Um estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulgado neste ano, aponta que metade da população brasileira está obesa ou tem sobrepeso, e a cada três crianças, uma é gordinha ou obesa. Uma das causa apontadas foi o aumento do consumo de produtos industrializados.
Este relatório da Anvisa também alerta para o risco dos exageros no consumo de industrializados. “A crescente oferta de alimentos industrializados (ricos em gorduras, açúcares e sódio), a facilidade de acesso a esses alimentos com alta densidade energética e às vezes com preços mais baixos, a redução da atividade física e do consumo de alimentos mais saudáveis, como cereais, leguminosas, frutas e verduras, decorrente do estilo de vida da população, resultaram em alterações dos padrões do estado nutricional com um aumento da prevalência de sobrepeso e da obesidade e a diminuição da incidência de desnutrição, caracterizando assim a transição nutricional da população brasileira”, afirma um trecho do relatório.
De acordo com o estudo, a quantidade de sódio presente em apenas uma porção de macarrão instantâneo, chega a ser superior a uma colher rasa de sal, equivalente a toda quantidade recomendada de consumo da substância para um dia inteiro.
“Em algumas amostras ficou constatado que, ao comer uma única porção do macarrão instantâneo, a pessoa está ingerindo 167% do sódio recomendado para ser consumido durante todo dia”, explica a diretora da Anvisa, Maria Cecília Brito.
Clique aqui para acessar a pesquisa completa e ver a lista de todos os alimentos pesquisados pela Anvisa.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2001, 60% do total das 56,5 milhões de mortes notificadas no mundo foi resultado de doenças crônicas não transmissíveis. Além disso, o aumento da pressão arterial no mundo é o principal fator de risco de morte e o segundo de incapacidades por doenças cardíacas, acidente vascular cerebral (AVC) e insuficiência renal.
Ainda segundo a pesquisa, a quantidade do sódio encontrado nas análises pode variar em até 14 vezes de marca para marca. É o caso da batata palha, que apresenta a maior diferença de teor do mineral entre as marcas analisadas.
Bebidas
A mesma pesquisa mostrou também que os níveis de sódio dos refrigerantes de baixa caloria, tanto à base de cola quanto à base de guaraná, apresentam maiores valores de sódio em relação aos refrigerantes comuns. Nos refrigerantes de cola, a média dos teores de sódio encontrada foi de 54mg/l, enquanto nos refrigerantes de cola de baixa caloria essa média foi de 97mg/l.
Já nos refrigerantes de guaraná, os valores médios de sódio encontrados no produto convencional e no de baixa caloria foram 81 mg/l e 147 mg/l respectivamente. “Esses valores mais altos podem ser explicados pelo uso de aditivos, como o ciclamato de sódio, nos produtos de baixa caloria”, explica Maria Cecília.
Segundo Maria Cecília, o estudo será encaminhado ao Ministério da Saúde, para que seja pactuado entre Governo Federal e as indústrias de alimentos uma redução das quantidades de gorduras, açúcar e sal nos alimentos processados.
Paralelamente, às iniciativas governamentais, deve o consumidor exercer seu poder sobre o mercado e escolher os alimentos mais saudáveis para sua família. A pesquisa da Anvisa explicita uma diferença enorme de concentração de sódio, açúcar, gordura saturada e trans em um mesmo produto, mas de fabricantes diferentes.
O que fazer? Ler o rótulo. Consumir de maneira consciente não é parar de consumir, mas consumir menos e diferente. Cabe ao consumidor procurar uma alimentação equilibrada também com produtos naturais, frutas, verduras, legumes. E, no caso dos industrializados, optar pelos produtos “zero gordura trans” (as marcas são obrigadas e informar no rótulo) e priorizar os que apresentam as menores concentrações de sódio, açúcar e gorduras saturadas.
A pesquisa foi realizada durante o ano de 2009 com amostras coletadas no mercado brasileiro.
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