Os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016 começaram oficialmente na noite da última sexta-feira e a cerimônia de abertura, realizada no estádio do Maracanã, chamou a atenção do planeta com um de alerta ambiental. A decisão dos responsáveis pela festa foi não fazer apenas uma exaltação ao país sede (como aconteceu em Pequim-2008) ou à sua história (como em Londres-2012). A história e a cultura brasileira, claro, foram representadas ao longo do evento, mas a preocupação principal foi em passar uma mensagem de conscientização sobre o aumento do aquecimento global e suas perigosas conseqüências.
De certa maneira, a própria cerimônia foi um exemplo de preocupação com a sustentabilidade. Com recursos limitados e limitações impostas pela arquitetura do Maracanã, os produtores decidiram usar algumas “gambiarras”. Ao invés da ostentação vista na China e em Pequim, com grandes estruturas cenografias, no Rio de Janeiro a maior parte dos efeitos visuais foi obtida com projeções feitas em uma lona estendida sobre o gramado.
Após a parte da cerimônia que contou um pouco da história do Brasil, um vídeo explicou para uma audiência estimada em cerca de três bilhões de pessoas em todo o mundo os perigos da grande quantidade de emissões de CO2, com um mapa mostrando as ondas de calor ao redor do globo. Uma das grandes ameaças destacadas foi o derretimento da camada polar, que já está acontecendo e, caso o aquecimento global chegue a 4º C acima dos níveis pré-industriais, pode elevar o nível do mar, que invadiria localidades como Amsterdã, Dubai, Flórida, Shangai, Lagos e o próprio Rio de Janeiro. De forma emocionante, a mensagem ecológica foi encerrada com a leitura do poema “A flor e a náusea”, de Carlos Drummond de Andrade, pelas atrizes Fernanda Montenegro, em português, e Judi Dench, em inglês.
Para não ficar apenas na mensagem e oferecer também uma ação prática, a cerimônia propôs que cada atleta olímpico plantasse a semente de uma árvore nativa do Brasil em um pequeno tubo para ajudar no reflorescimento do planeta. As cerca de 11 mil mudas ficarão por um ano em um viveiro e, depois disso, serão plantadas no Parque Radical de Deodoro, dando origem à “Floresta dos Atletas”. De forma muito simbólica, os cinco aros olímpicos, que sempre têm cores diferentes para representar os cinco continentes, foram formados apenas em verde, com diversas folhas, como uma representação da floresta plantada pelos atletas. E por fim, no último ato ecológico da noite, a pira acesa pelo ex-maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima foi a menor da história dos Jogos, também como forma de simbolizar a preocupação com as emissões de CO2.
Impactos negativos e oportunidades perdidas na Rio 2016
Se em relação à mensagem ambiental os produtores da cerimônia de abertura acertaram em cheio, por outro lado é necessário que sejam feitas uma série de ressalvas com o desenrolar geral da organização dos Jogos, não apenas na atual edição no Rio de Janeiro, mas em toda a história.
Como em todas as Olimpíadas anteriores – e como em qualquer megaevento – uma quantidade imensa de recursos foi utilizada na construção de arenas de competição, obras de mobilidade e diversas outras estruturas. Na Arena do Futuro, foi encontrada uma interessante solução de sustentabilidade, já que após a Olimpíada parte da estrutura será desmontada e reaproveitada na construção de quatro escolas públicas. Ainda assim, o impacto total das obras olímpicas é alto não apenas do ponto de vista ambiental, mas também econômico. Para se ter uma ideia, apenas as reformas emergenciais na Vila Olímpica por conta de problemas de última hora (como encanamento, falta de acabamento, limpeza e eletricidade) custaram R$ 20 milhões segundo a Folha de S. Paulo.
Além disso, outra crítica importante é em relação às oportunidades desperdiçadas ao longo dos últimos sete anos – desde que o Rio de Janeiro foi escolhido como sede pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). Embora a Olimpíada sempre seja considerada uma possibilidade de gerar um grande legado para a cidade que a recebe, no caso do Rio o resultado ficou praticamente limitado às instalações esportivas, vila dos atletas e a renovação da região portuária. Itens fundamentais, como a despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas e da Baía de Guanabara ficaram longe de sair do papel, embora tenham sido prometidas na candidatura da cidade durante o processo de escolha do COI, em 2007.