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08.06.15 às 14:09

O desperdício que não queremos

De uma Economia Desperdiçada para um Planeta Desperdiçado: Porque mudar nosso padrão de consumo é uma escolha que devemos tomar

 

Foto: Produção de alimentos é responsável por 80% do desmatamento – Crédito: Elina Mark/Creative Commons

 

Enquanto nos sentamos para almoçar ou jantar neste Dia Mundial do Meio Ambiente, é importante considerar o seguinte: um terço de todos os alimentos produzidos no mundo a cada ano – 300 milhões de toneladas – é desperdiçado. Este desperdício custa à economia mundial a quantia impressionante de um trilhão de dólares anualmente.

Regiões industrializadas são responsáveis por quase metade do total. A comida que jogamos fora ainda é própria para consumo humano e poderia alimentar mais de 800 milhões de pessoas no mundo de hoje.

Esta é apenas a ponta do iceberg do desperdício e serve como um intermediário para a “pegada ecológica” de toda a economia do mundo. Nosso sistema global de alimentos é responsável por 80% do desmatamento e é a maior causa única da perda de espécies e de biodiversidade.

O sistema também é responsável por mais de 70% do consumo de água doce. Um hambúrguer de carne no seu prato almoço poderia exigir uma incrível quantidade de 2.400 litros de água nessa produção. Você gostaria de batatas fritas com que? Adicione mais 100 litros, isso sem mencionar o impacto dos pesticidas e das embalagens não degradáveis.

Bon appétit.

Aqui vai a verdade surpreendente: O nosso consumo global já é 1,5 maior que a capacidade de carga da Terra. Se a população e as tendências de consumo continuarem a crescer, a humanidade precisará do equivalente a dois planetas Terra para sustentar-se em 2030.

Com a população mundial prevista para chegar a nove bilhões de pessoas até meados do século, as demandas sobre estes recursos serão apenas intensificadas, agravadas pelo aumento da poluição, conflitos sobre recursos e os efeitos de uma atmosfera sendo rapidamente aquecida pelas emissões de gases com efeito de estufa por parte do ser humano, e que poderiam baixar significativamente o PIB mundial. Secas recordes, inundações, sufocante poluição do ar e espécies ameaçadas de extinção tornaram-se uma característica regular nas notícias diárias.

Enquanto alguns podem sonhar em colonizar outros planetas, não podemos deixar de concluir que nesta Terra, o “agir como sempre” não vai manter nosso estilo de vida do século 21, muito menos tirar um bilhão de pessoas da pobreza absoluta e acomodar um adicional de 1 a 3 bilhões de consumidores da classe média.

A nossa única escolha para crescer nossas economias é aumentar radicalmente o que os economistas chamam de “produtividade” – fazer mais com menos. Precisamos mudar os padrões tanto de produção quanto de consumo do nosso sistema econômico atual linear de extração, produção, consumo e desperdício, para uma economia verde inclusiva, que imite os processos naturais onde não existe o conceito de “resíduo”, apenas comida para outro organismo ou processo.

A economia verde pode melhorar o bem-estar humano e a igualdade social, enquanto reduz significativamente os riscos ambientais, custos e escassez ecológica. Em sua expressão mais simples, uma economia verde é de baixo carbono, eficiente em termos de recursos e socialmente inclusiva. Em termos de produtividade, uma economia verde ‘separa’ o crescimento econômico da taxa de consumo de recursos naturais e, assim, da degradação ambiental.

A boa notícia é que isso já está acontecendo em partes da economia, embora não rápido o suficiente. Hoje, 65 países deram início a economia verde e estratégias relacionadas. Isso inclui muitos países envolvidos com a Parceria para a Ação pela Economia Verde (PAGE) para aplicar investimentos e políticas em tecnologias limpas, infraestrutura eficiente de recursos, ecossistemas em bom funcionamento, trabalhos verdes de qualidade e boa governança.

Como entrada para praticamente todos os produtos ou processos humanos, a energia é um indicador dos impactos e progresso. Em apenas algumas décadas, o setor das energias renováveis tem crescido quase exponencialmente e foi responsável por quase metade de toda a capacidade de geração elétrica instalada em 2014, excluindo as grandes centrais hidroelétricas. A Agência Internacional de Energia (AIE) estima que o apenas o aumento da eficiência energética poderia, não só proporcionar uma redução de 10% na demanda global de energia até 2030, mas também salvar US$ 560 bilhões de dólares.

No geral, aproveitar tecnologias existentes e políticas apropriadas para aumentar a produtividade dos recursos, poderia liberar US$ 3,7 trilhões de dólares por ano, em todo o mundo, que hoje é desperdiçado de outro modo. Estes fundos atualmente desperdiçados poderiam ser investidos em saúde, educação e desenvolvimento.

Uma das chaves para a produtividade e para a dissociação entre danos ambientais e o PIB mundial é fazer com que os preços reproduzam a realidade sobre o meio ambiente. Mais uma vez, o setor de energia mostra o quão importante isso pode ser. O Fundo Monetário Internacional estima que o custo total da subvenção pública a combustíveis fósseis ascende a mais de US$ 5 trilhões de dólares por ano quando contamos subsídios diretos e indiretos.

Conseguir os sinais de preço corretos, educar os consumidores e tornar as políticas que promovam uma economia verde não são apenas desejáveis, mas essenciais. O tamanho do nosso sucesso vai determinar se o ‘Antropoceno’ é a era em que mais de nove bilhões de pessoas têm acesso a alimentos, energia e segurança, sem comprometer os sistemas de vida vitais do nosso planeta.

Leia mais:

FAO quer reduzir o desperdício de alimentos no Brasil

 

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