Quando se pensa na relação plásticos-meio ambiente, o primeiro problema que vem à mente é o descarte indevido, que resulta no entupimento de bueiros nas cidades e na poluição de rios, lagoas e oceanos. Mas os impactos do plástico na natureza começam bem antes, na extração de matérias-primas e no seu processo de produção.
É buscando destacar todos os impactos da cadeia dos plásticos que as Nações Unidas (ONU) divulgaram ontem (23) o relatório “Valuing Plastic”.
Segundo o documento, o custo financeiro dos prejuízos ambientais relacionados ao plástico ultrapassam os US$ 75 bilhões anuais, sendo que 30% desse valor vêm das emissões de gases do efeito estufa do setor e da poluição do ar causadas na fase de produção.
Mas, individualmente, é o ecossistema marinho que mais sofre com os plásticos. A poluição das águas, a morte de animais e o prejuízo para o turismo alcançam pelo menos os US$ 13 bilhões ao ano.
A estimativa é que existam bilhões de toneladas de plástico flutuando nos oceanos. Apenas a Grande Ilha de Lixo do Pacífico, nome dado a um aglomerado de plásticos comumente visto por embarcações no Pacífico Norte, possui um tamanho equivalente ao do território dos Estados Unidos.
Todo esse plástico acaba atrapalhando a navegação, sujando praias e matando animais, que ingerem o material por o confundirem com alimento. Por exemplo, em março de 2013, uma baleia cachalote de dez metros de comprimento apareceu morta na costa sul da Espanha. Ela havia engolido 59 diferentes itens de plástico, totalizando 17 quilos.
“Plásticos possuem um papel crucial na vida moderna, mas os impactos ambientais de seu uso não podem ser ignorados”, afirmou Achim Steiner, Diretor Executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
Entre as companhias que utilizam plástico, as que causam mais impactos ao meio ambiente seriam as alimentícias, com 23% do total. Em seguida aparecem as de refrigerantes, com 12%.
Para piorar a imagem dessas empresas, apenas metade das 100 que foram consultadas pela ONU para a produção do relatório forneceram suas informações de forma completa.
“Alguns setores, como produtos eletrônicos e alimentos, levam mais a sério a transparência de informações. Já calçados e brinquedos, que também possuem uma grande intensidade de uso de plásticos, não foram tão abertas”, disse Andrew Russell, diretor do Plastic Disclosure Project. Assim, os valores citados no relatório estão provavelmente muito abaixo do que seria a realidade.
Recomendações
Apesar de ser um alerta, o relatório tenta mostrar para as empresas que lidar com o problema dos plásticos é também uma oportunidade. Por exemplo, de acordo com a ONU, a melhor gestão do plástico, com um maior cuidado com a origem da matéria-prima, eficiência na linha da produção e mais reciclagem, pode economizar às companhias pelo menos US$ 4 bilhões ao ano.
O relatório recomenda que as empresas:
– Acompanhem com mais cuidado a produção e a destinação de seus materiais plásticos e embalagens, com a produção de inventários e documentos de acesso público;
– Se comprometam a reduzir os impactos ambientais do plástico, com a adoção de metas práticas;
– Busquem a inovação de suas cadeias produtivas, para que o plástico seja produzido com menos energia e resíduos;
– Colaborem com governos no desenvolvimento de legislações que ajudem a reduzir o descarte indevido dos plásticos;
– Forneçam informações corretas para órgãos de controle, para que sejam conhecidos os impactos reais dos plásticos ao planeta;
– Invistam em novas tecnologias, como materiais biodegradáveis.
“O curso de ação fundamental é prevenir que os resíduos plásticos cheguem ao meio ambiente, o que pode ser conseguido se seguirmos o mantra: Reduzir, reutilizar e reciclar”, concluiu Steiner.