Desde dezembro de 2008, pescadores, comerciantes e consumidores da Baixada Santista (SP) estão tomando contato com o “Guia de Consumo Responsável de Pescados”. Idealizado e criado pelos pesquisadores e estudantes das Faculdades de Oceanografia, Ciências Biológicas e Biologia Marinha do Centro Universitário Monte Serrat (Unimonte), o primeiro catálogo brasileiro enumera com nomes populares as espécies mais comumente consumidas no país, além de dividi-los em categorias de alerta de extinção, cada uma delas acompanhada de suas respectivas orientações de prevenção. Até janeiro, foram distribuídos 4 mil guias no litoral paulista, e o grupo de idealizadores do projeto pretende distribuir mais 10 mil até o final do ano em várias cidades brasileiras.
São quatro categorias: Bom Apetite (sinal verde), para espécies abundantes sem problemas de conservação ou cultivadas em cativeiro; Coma com Moderação (sinal amarelo), para espécies com abundância ameaçada devido à atividade pesqueira; Evite (sinal vermelho), para espécies próximas à extinção como resultado da pesca intensiva; e Não, Obrigado! (sinal preto), para espécies proibidas para consumo. Desta última categoria fazem parte o badejo-tigre, coração-anjo, caranha-vermelha, coiba-vermelha, mero, peixe-serra e a raiva-viola.
“Essas níveis de alerta demonstram que não temos a pretensão de proibir o consumo de pescado, e sim alertar para a necessidade de moderação. Nossas pesquisas mostraram que, se o consumo continuar nesse ritmo desenfreado, esses recursos podem acabar”, explica Carolina Bertozzi, professora de Oceanografia da Unimonte e uma das coordenadoras do projeto. “Nosso objetivo é unicamente informar e orientar os consumidores na hora da compra”, esclarece a professora.
No Brasil, 80% das principais espécies exploradas sofrem com a sobrepesca. Se a pesca supera a capacidade daquela espécie de repor a população, a quantidade de peixes diminui muito. Isso aconteceu com a sardinha, que quase desapareceu da costa brasileira. Hoje em dia, a produção de sardinha é dez vezes menor do que há trinta anos. Antes disponível em toda a costa brasileira, hoje só é encontrada nos litorais do Rio de Janeiro e Santa Catarina.
Processo pacífico
O projeto do Guia levou três meses até que a informação chegasse à comunidade. De setembro a outubro, foram analisados estudos de espécies ameaçadas desenvolvidos por órgãos nacionais e internacionais, como o IBAMA, o Ministério do Meio Ambiente, o Instituto de Pesca de Santos, o Greenpeace, a WWF-Brasil e a União Internacional para Conservação da Natureza e Recursos Naturais (IUCN). No mês de novembro, um trabalho de campo cruzou os diversos estudos e em dezembro começou o trabalho de informação, distribuição dos guias e mobilização da comunidade.
“No início, tivemos receio de ser mal entendidos pela comunidade e principalmente pelos pescadores e comerciantes, cuja sobrevivência está diretamente ligada aos pescados. Mas, ficamos surpresos com a receptividade deles. Hoje, é possível encontrar guias colocados nos locais de venda e até em restaurantes para informar os consumidores”, conta Carolina.
Jorge Martins Coelho, pescador há 16 anos na Praia Grande, no litoral paulista, apóia a iniciativa. “Foi uma boa idéia criar esse guia, pois ele diz o que está realmente acontecendo. A gente sente isso todo dia, porque algumas espécies são cada vez mais difíceis de achar”, afirma Coelho. Ele alerta, entretanto, para a necessidade de intensificação da fiscalização. “Tem gente que não está nem ai, não pensa no amanhã, por isso acho que a fiscalização da pesca deveria ser maior”, acredita.
Segundo Eduardo Shimahara, diretor do Núcleo de Sustentabilidade e Inovação da Unimonte, a expectativa é fazer com que a publicação fomente o desdobramento de novos estudos acerca do tema e sirva como um direcionador para um consumo mais consciente e responsável de espécies de pescados. “Uma escolha mais sábia dos peixes a serem comprados e caçados, assim como das formas de pesca que prejudiquem o ecossistema, como o método de arrasto, figuram como um primeiro passo para que possamos colaborar no combate à degradação de nosso planeta”, afirma.
Veja a lista completa das espécies encontradas no Guia de Consumo Responsável de Pescados
Bom Apetite (Sinal Verde)
Abrótea (bacalhau brasileiro), agulha, atuns (bonito), betara (perna-de-moça), bijupirá, cabrinha, camarão rosa, camarão branco, caranguejo vermelho, cioba vermelho, carapau, carapeba, carapicu, caratinga, cavala, cavalinha, corcoroca, dourado, peixe-espada, espadarte (meca), garoupa, guaivira, lulas, manjuba, manjubão, maria-luiza, mexilhão, miragaia, olhete, olho-de-boi, olho-de-cão, olhudo, ostra-de-mangue, ostra-japonesa, oveva, palombeta, pampo, parati, pirajica, prejereba, robalo, salema, salmonete, sarrão, savelha, sororoca, trilha, vieira, xaréu, xixarro.
Coma com Moderação (Sinal Amarelo)
Agulhão (vela), anchova (enchova), bagres, baiacu, batata, bicuda, barracuda bicuda, pescada-bicuda, camarão rosa e camarão branco (pesca extrativa), camarão sete-barbas, camarão carabineiro, caranguejo real, caranguejo vermelho, caranguejo de profundidade, castanha, congro, congrio, corvina, galo, garoupa (não de cativeiros), goete, guaiúba, lagosta, lagosta-sapateira, lagostim, pitu, linguados, mangangá, merluza, miracéu, mexilhão (coleta em ambientes naturais), namorado, pargo, paru, frade, peixe-rei, pescadas, polvo, porco, porquinho, peixe-porco, raias, emplastros, Arraias, sardinha, siri, tainha e vieira (coleta em ambientes naturais).
Evite (Sinal Vermelho)
Atuns (albacora), albacorinha, badejo, abadejo, cações ou tubarões, caranguejo-uça, caranha, cioba (pesca extrativa), cherne, lagosta (durante o defeso), lagosta-sapateira (durante o defeso), lagostim e pitu (durante o defeso), ostra-de-mangue, peixe-lua, emplastro-borboleta e raia-emplastro.
Não, Obrigado! (Sinal Preto)
Badejo-tigre, cação-anjo, caranha-vermelha, cioba-vermelha, mero, peixe-serra e raia-viola.
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