Comentário Akatu: Ainda que menos de 1% da água doce do planeta esteja acessível para consumo, o volume existente hoje é mais que suficiente para abastecer as necessidades da humanidade. Mas esse volume de água está, cada dia mais, sendo reduzido pela poluição e pelo desperdício, com sérios impactos na vida de todos. Por isso, a maneira de utilizar esse recurso precioso precisa ser modificada no sentido de um modelo de consumo e de produção mais consciente, que permita sua renovação de forma sustentável. Assim, é importante que todos tenham o conhecimento de que o consumo de cada um, mesmo individualmente ou em pequenos grupos, provoca impactos significativos nos indivíduos, na sociedade, na economia e no meio ambiente.
Um levantamento com a medição da qualidade da água em 96 rios, córregos e lagos de 7 Estados brasileiros, coordenado pela Fundação SOS Mata Atlântica, revela que 40% apresentam qualidade ruim ou péssima.
Os dados foram coletados entre março de 2013 e fevereiro de 2014 e incluem um levantamento inédito envolvendo as 32 Subprefeituras da cidade de São Paulo, além de 15 pontos do Rio de Janeiro.
De acordo com os números consolidados, 87 pontos analisados (49%) tiveram sua qualidade da água considerada regular, 62 (35%) foram classificados como ruins e 9 (5%) apresentaram situação péssima. Apenas 19 (11%) dos rios e mananciais – todos localizados em áreas protegidas e que contam com matas ciliares preservadas – mostraram boa qualidade. E nenhum dos pontos analisados foi avaliado como ótimo.
Segundo Malu Ribeiro, coordenadora da Rede das Águas da SOS Mata Atlântica, os melhores resultados foram obtidos em áreas protegidas, como alguns pontos da Bacia do Alto Tietê na Área de Proteção Ambiental (APA) Capivari-Monos e no Parque Várzeas do Tietê. Em Minas, foi encontrada água com qualidade boa em Extrema, na APA Fernão Dias. E no Espírito Santo, também foi observada água com qualidade boa no município de Santa Teresa, conhecido como Santuário Capixaba da Mata Atlântica, que possui ricos ambientes biológicos como as Reservas de Santa Lúcia e Augusto Ruschi.
“A maioria dos pontos que apresentaram boas condições estavam em Unidades de Conservação, como parques ou reservas, ou em locais em que a mata ciliar foi recuperada. Em 6 pontos monitorados, nos Córregos São José e da Concórdia e no Rio Ingazinho, na Bacia do Rio Piraí (SP), notamos na prática a importância de recuperar a floresta – após um reflorestamento a qualidade da água passou de regular a boa. Isso comprova que para garantir água em qualidade e quantidade é preciso recompor matas ciliares e manter as florestas”, afirma a coordenadora do estudo.
As principais fontes de poluição e contaminação, segundo ela, são decorrentes da falta de tratamento de esgotos domésticos, de produtos químicos lançados nas redes públicas e da poluição difusa proveniente do lixo e resíduos sólidos descartados de forma inadequada nas cidades, além do desmatamento e do uso de defensivos e fertilizantes nas zonas rurais. “Os piores índices estão em áreas densamente urbanizadas”, explica Malu Ribeiro.
A coleta para os estudos é realizada por meio de um kit desenvolvido pelo programa Rede das Águas, da SOS Mata Atlântica, que possibilita a avaliação dos rios a partir de um total de 16 parâmetros, que incluem níveis de oxigênio, fósforo, PH, odor, aspectos visuais, entre outros. O kit classifica a qualidade das águas em cinco níveis de pontuação, de acordo com a legislação: péssimo (de 14 a 20 pontos), ruim (de 21 a 26 pontos), regular (de 27 a 35 pontos), bom (de 36 a 40 pontos) e ótimo (acima de 40 pontos).
Os projetos da Fundação SOS Mata Atlântica para a coleta de rios, córregos e lagos em Estados com o bioma Mata Atlântica estão abertos à população em geral. Os interessados em acompanhar a qualidade dos rios locais podem participar dos grupos de monitoramento já existentes ou ajudar a criar novos grupos em rios próximos a escolas, igrejas e outros centros comunitários. Os grupos fazem a medição uma vez por mês e enviam os resultados pela internet.
Confira o relatório completo da pesquisa da SOS Mata Atlântica sobre a qualidade da água de rios brasileiros