Há muito tempo, a desigualdade entre gêneros não precisa de qualquer reflexão filosófica para ser constatada. Basta observar alguns números: no Brasil, mulheres têm remunerações em média 30% menores que as dos homens; essa diferença cresce para 61% na comparação entre mulheres negras e homens brancos; no Congresso Nacional, apenas 10% das representantes são mulheres; ao longo da vida, uma de cada três mulheres sofre ao menos um tipo de violência.
Foram números como esses que levaram a ONU Mulheres a realizar uma pesquisa nacional buscando entender como os homens podem se juntar ao diálogo pela igualdade de gênero. Viabilizada pelo Grupo Boticário e produzida pelo Papo de Homem, a pesquisa resultou no documentário “Precisamos falar com os homens? Uma jornada pela igualdade de gênero”, que ajuda a colocar questionamentos para os homens sobre como fazer sua parte na questão e também identifica a percepção das mulheres sobre o papel masculino na sociedade, “apontando as principais tensões culturais que geram sofrimento e desigualdade entre os gêneros”.
Segundo a ONU Mulheres, as pesquisas qualitativa e quantitativa foram feitas ao longo de um ano e passaram por todas as regiões do país, entrevistando mais de 20 mil brasileiros e brasileiras para mapear atitudes e crenças, além de conversar com especialistas e estudiosos de gênero. O resultado aparece de duas formas no filme: por um lado, dados baseados nas respostas à pesquisa quantitativa mostram com números “como homens e mulheres entendem as limitações e potenciais de ambos na busca das próprias identidades”; por outro, os personagens selecionados mostram por meio do relato de suas experiências pessoais como essas limitações e potenciais se manifestam no dia a dia da vida.
Um dos pontos principais é o destaque à forma como as crianças são educadas, com expectativas bem estabelecidas para cada gênero. Crianças ouvem desde cedo que “homem não leva desaforo pra casa”, “a prioridade da mulher é a casa e os filhos”, “mulher decente não usa roupa curta”, etc. No caso específico dos meninos, o comportamento incutido desde cedo ainda traz aspectos como a naturalização da violência e do assédio às mulheres como algo normal na vida masculina. Uma (des)educação que parece não mudar ao longo de décadas e séculos.
Nesse contexto, o documentário mostra a importância de que o feminismo não seja visto como oposto do machismo, já que o primeiro busca a igualdade e o combate às violências (física, sexual, psicológica, patrimonial), enquanto o segundo expressa a superioridade masculina. E, a partir daí, aponta alguns primeiros passos para os homens colaborarem com a equidade de gênero, como questionar atitudes machistas de amigos, não expor materiais íntimos, não expressar preconceitos mascarados de piadas, não subestimar a inteligência das mulheres, etc.
O documentário completo está disponível no vídeo acima e na página da ONU Mulheres, onde também pode ser acessado o estudo completo.
Consumo consciente
As mulheres são maioria em diversos países. No Brasil, por exemplo, são 52% da população. É impossível, portanto, falar de impactos do consumo consciente e de desenvolvimento sustentável sem saber da importância por maior igualdade entre os gêneros. A mais recente pesquisa do Instituto Akatu – Rumo à Sociedade do Bem-Estar, indica que entre as seis práticas mais valorizadas pelo consumidor brasileiro em relação às empresas estão: “remuneração justa que garanta um nível de vida decente, sem diferenciação por idade, gênero ou cor” e “ter programas de promoção da diversidade de gênero, de raça e de idade”.
Além disso, pesquisa de 2011 do Data Popular encomendada pela Editora Abril já mostrava que de 70% a 80% das decisões de consumo no Brasil são tomadas por mulheres, o que significa que o país tem grandes chances de tornar-se mais sustentável e ganhar em qualidade de vida se elas se tornarem consumidoras conscientes.