A maior parte da comida que está no prato do brasileiro é produzida em pequenas propriedades, quase sempre com mão-de-obra familiar. Os pequenos agricultores são responsáveis por 70% dos alimentos que são consumidos diariamente no País, segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Fazem isso ocupando apenas 25% da área produtiva, segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação), o que representa uma alta produtividade relativa desse modo de produção quando comparado a outros modos de produzir os alimentos consumidos diariamente na casa dos brasileiros.
No contexto mundial, o papel das famílias também é relevante: a estimativa da FAO é de 500 milhões de propriedades agrícolas familiares, com participação de 56% da produção global. A agricultura familiar promove o desenvolvimento socioeconômico e cultural das comunidades locais, além de garantir a segurança alimentar. Por isso, no Dia do Campo (5/5), o Instituto Akatu convida governos, empresas e consumidores encontrarem formas de valorizarem cada vez mais esse tipo de produção.
O fato de ser realizada por proprietários de pequenas áreas rurais, faz da agricultura familiar muito diferente da agricultura patronal, que utiliza trabalhadores fixos ou temporários. Mais do que isso, os estabelecimentos familiares são os principais geradores de postos de trabalho no meio rural por unidade de área produtiva: para gerar um posto de trabalho, precisam de oito hectares, enquanto estabelecimentos patronais precisam de 67 hectares, segundo estudo “O Novo Retrato da Agricultura Familiar – O Brasil Redescoberto”, da FAO e do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). Na Região Norte, isso é ainda mais discrepante, pois são necessários 166 hectares da agricultura patronal para gerar um emprego, e apenas 14 hectares para a agricultura familiar fazer o mesmo.
No Brasil, a agricultura familiar é a base econômica de 90% dos municípios com até 20 mil habitantes, absorvendo 40% da população economicamente ativa do País e respondendo por 35% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional, segundo o Senso Agropecuário de 2006, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Ao gerar renda local, ela fixa o homem no campo e diminui as pressões nas cidades. Segundo a FAO, também preserva os alimentos tradicionais, além de proteger a biodiversidade agrícola, já que esse modelo produtivo dificilmente é associado à monocultura.
Há vários alimentos populares que contam fortemente com a produção desses pequenos agricultores, no Brasil. A agricultura familiar é responsável por 87% da produção de mandioca, por 70% do feijão, por 59% de carne suína, por 58% do leite e por 46% do milho no País, por exemplo. A produção de orgânicos, que não usa pesticidas, tem uma forte participação da agricultura familiar: dos 12 mil produtores de orgânicos no Brasil, 70% praticam a agricultura familiar, segundo o Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Governos podem apoiar a agricultura familiar ao implementar políticas públicas específicas relacionadas a crédito, assistência técnica, seguro, acesso a mercados – merecendo destaque o acesso dos produtos ao consumidor final – , compras públicas e tecnologias adequadas ao agricultor familiar. Varejistas podem incluir esses agricultores na sua lista de fornecedores, com o cuidado de comunicar ao consumidor a origem do produto, para que ele faça uma compra consciente de estar apoiando famílias de agricultores.
Nos mercados e feiras, não é fácil para o consumidor identificar quais produtos são provenientes da agricultura familiar. Uma das formas é procurar pelo Selo de Identificação da Participação da Agricultura Familiar (Sipaf), conferido pela Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário, do MDA.Cerca de 22 mil produtos já receberam o Sipaf, sendo feitos com mão de obra majoritariamente familiar um grande conjunto de produtos como verduras, legumes, polpas de frutas, laticínios, artesanato, entre outros.
Entrega de cestas de alimentos
Outra forma de valorizar a agricultura familiar é fazer a assinatura de cestas de alimentos originária dos pequenos produtores. Esse serviço é oferecido, por exemplo, pelo Raizs, que tem um site de alimentos de pequenos agricultores para venda online e oferece assinatura de cestas de alimentos. Viabilizado por uma campanha de financiamento coletivo (crowdfunding), o Raizs se compromete a destinar parte dos recursos financeiros obtidos para as necessidades do pequeno produtor.
No site Orgânicos da Vila, é possível comprar diretamente de um produtor familiar de alimentos orgânicos sediado em Suzano (SP). O consumidor pode montar uma cesta de alimentos que será entregue em sua casa. Outro site, o da Cesta Feira Orgânicos, também se propõe a entregar cestas de alimentos orgânicos, mas de pequenos produtores dos arredores de Porto Alegre (RS).
Em Curitiba (PR), a Boutique de Orgânicos faz entregas de cestas de alimentos produzidos sem químicos nas terras da família Koerich, em Contenda (PR). Outra opção de entrega de cestas de alimentos orgânicos na região é o Sítio Mais Saúde, criado em 2008 pela família Paccagnella em Balsa Nova (PR).
Esses serviços não foram testados pelo Instituto Akatu, são apenas alguns exemplos de possibilidades para se aproximar o consumidor das famílias de agricultores. Você conhece um canal de vendas de pequenos produtores agrícolas que não está listado aqui? Conte para nós o que você usou e já gostou!