Falar de Crise Climática não é apenas constatar que a temperatura da Terra está aumentando. Falar de Crise Climática é refletir sobre como o aumento da temperatura se relaciona com o nosso modo de viver (e de se manter) na Terra. Neste 15 de outubro, Dia do Consumo Consciente, escolhemos voltar a este tema justamente pela sua relevância e urgência. Precisamos entender o que está sendo ameaçado pela Crise Climática e o que cada um de nós pode fazer para ajudar a combatê-la.
Atualmente, o planeta está 1,1ºC mais quente do que na era pré-industrial. Isso pode não parecer muito, mas é: isso quer dizer que a Terra absorve a cada segundo uma quantidade de calor e energia equivalente a quatro bombas de Hiroshima. Os oceanos absorvem 90% deste calor, o que pode levar muita gente a subestimar seus efeitos, mas todo este calor e energia têm enorme potência como gatilho para a ocorrência de fenômenos naturais e impactos sobre a biodiversidade do planeta.
O aumento da temperatura global é resultado direto das emissões de gases de efeito estufa (GEE). Quando liberados, gases como o CO2 e o metano (CH4), por exemplo, formam uma camada ao redor da Terra e impedem que o calor absorvido seja dissipado, causando a elevação da temperatura da atmosfera. Muitas das consequências desse aquecimento global já são sentidas mundo afora. Conheça algumas delas:
Encolhimento das geleiras: só no Ártico, a temperatura aumentou 5ºC nos últimos 100 anos. Isso indica que não haverá mais gelo cobrindo os oceanos durante o verão já nas próximas décadas;
Aumento do nível dos oceanos e mares: Lagos, capital da Nigéria, por exemplo, já sofre risco de inundações catastróficas decorrentes do aumento do nível do mar; e a ilha de Kiribati, na Oceania, pode desaparecer do mapa nas próximas décadas pelo mesmo motivo;
Oceanos mais quentes e com maior concentração de CO2: o aumento da temperatura das águas e sua maior acidez, provocada pela alta concentração de CO2, prejudicam os corais e intensificam eventos naturais como tempestades e furacões, uma realidade já vivenciada por New Orleans, nos EUA;
Aumento das temperaturas máximas e mínimas: tais mudanças causam ondas de calor que ameaçam a saúde principalmente de populações vulneráveis. Segundo o relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2018, o calor agrava a poluição do ar e 97% das cidades em países de baixa e média renda não atendem às diretrizes de qualidade do ar da OMS. Elas também causam padrões irregulares de precipitação, aumentando ou diminuindo as chuvas, prejudicando a produção agrícola e a infraestrutura de sua distribuição, podendo levar a escassez alimentar.
Estudos afirmam que a principal causa da Crise Climática somos nós, os homens: as ações humanas são responsáveis por 90% do aumento da temperatura observado entre 1951 e 2010. Dentre essas ações estão a queima de combustíveis fósseis para a geração de energia, as atividades industriais e de transportes, a conversão do uso do solo e a agropecuária, entre outras.
Se somos parte da origem do problema, podemos ser parte da solução dele, certo? É preciso lembrar que tudo o que consumimos demanda recursos naturais em sua produção. E que toda produção pode emitir GEE, estando, portanto, diretamente relacionada com o agravamento do aquecimento global. Para que você faça escolhas de consumo com melhor impacto, que contribuam para o combate da Crise Climática, apresentamos 5 caminhos — pode ser que você não consiga encaixar todos eles no seu dia a dia, mas vale dar um passo de cada vez:
Atualmente, 8% das emissões de gases de efeito estufa do mundo originam-se da perda ou do desperdício de alimentos. Se o desperdício de alimentos fosse um país, ele seria o 3º maior emissor de GEE do mundo (3,3 GtCO?e por ano), atrás somente dos Estados Unidos (5,8 GtCO?eq) e da China (10,7 GtCO?eq).
Faça a sua parte planejando o cardápio e indo às compras com uma lista para levar para casa só o necessário. Adote o hábito de armazenar os ingredientes considerando a data de validade, para não correr o risco de perdê-los, e adote receitas que façam o uso integral de alimentos.
A fabricação de produtos envolve extração, processamento e transporte de matérias-primas, etapas que emitem GEE. A produção de um único par de calçados, por exemplo, emite 10 kgCO2eq, o equivalente às emissões para gerar energia suficiente para o funcionamento de 50 máquinas de lavar ao longo de um ano inteiro (considerando 8 ciclos por mês).
Antes de decidir pela compra de um novo produto, reflita se você realmente precisa dele. Você também pode optar pelo conserto do item que possui ou, se for possível, pela compra de um item de segunda mão, que não vai exigir novas emissões relacionadas à sua produção.
A produção e o consumo de energia elétrica são responsáveis por uma parcela significativa das emissões anuais de GEE do Brasil: 28% do total. E em 2019, elas foram 7% maiores do que as de 2018.
Você pode ajudar a reverter esse cenário adotando o hábito de privilegiar a iluminação natural, de apagar as luzes ao sair de um local e de substituir lâmpadas fluorescentes comuns por LED, cujo consumo é cerca de 30% menor. Para facilitar a comparação, o consumo de energia de 2 lâmpadas fluorescentes comuns (de 10W cada) equivale ao consumo de 3 lâmpadas LED.
A maior parte das emissões de GEE brasileiras estão ligadas ao desmatamento e às mudanças no uso do solo (44%), seguidos da agropecuária (25%). Infelizmente, esses números tendem a aumentar, visto que vivenciamos uma onda de recordes no desmatamento: entre agosto de 2019 e julho de 2020, a Amazônia sofreu um aumento de 34% no desmatamento em comparação ao mesmo período dos anos anteriores; em 2019, o Cerrado perdeu mais de 408 mil hectares de vegetação nativa, correspondendo a 33,5% do total desmatado no país no ano; e o Pantanal, por sua vez, teve neste primeiro semestre de 2020 a maior área sob alerta de desmatamento dos últimos cinco anos.
Ao substituir a carne bovina por outra fonte proteica (frango ou leguminosas, como lentilhas, feijões, ervilhas e grão de bico) uma ou mais vezes por semana, você poupa as emissões de gases de efeito estufa relacionadas à produção da carne, combatendo a Crise Climática. Enquanto a produção de um 1kg de carne bovina emite 27 kgCO2e, a de 1kg de frango emite quase 4 vezes menos (6,9 kgCO2e) e a de 1kg de feijão, quase 14 vezes menos (2 kgCO2e).
Das emissões correspondentes ao setor de energia, 49% estão relacionadas ao transporte. E modais movidos a combustível fóssil, como a gasolina, emitem cerca de 25% mais CO2 na atmosfera do que os que utilizam etanol produzido a partir da cana de açúcar.
No caso de percursos curtos, prefira caminhar: faz bem à saúde e é livre de emissões de GEE. Em percursos médios, tente usar meios de transporte que não dependam da queima de combustíveis, como as bicicletas e os patinetes. E quando o carro for necessário, prefira os movidos a combustíveis renováveis, se isso for uma opção.