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15.03.16 às 15:32

A comunicação que queremos usará celulares mais duráveis e menos descartáveis

No caso da comunicação, queremos a evolução de novos serviços e funcionalidades que não incentivem o descarte ou troca desnecessária dos celulares
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O melhor amigo do ser humano, que já foi o cão, hoje é o celular. O novo ditado pode parecer um exagero, mas passamos mais tempo de olho nas telas em nossas mãos do que na televisão – no Brasil, são cerca de 149 minutos por dia, segundo a empresa de pesquisas Millward Brown. O número de telefones celulares no País ultrapassa o de habitantes, e com os smartphones, fazemos tudo: ele substitui ferramentas como despertador, calculadora e agenda, permite um contato permanente com amigos e colegas de trabalho, abre as portas para a internet, inclusive para lojas e agências bancárias, e garante a diversão com games e vídeos, entre outras funções – como simplesmente fazer uma ligação de voz.

Apesar dos benefícios inegáveis da conectividade obtida por meio do celular, essa “paixão” hoje representa um imenso problema para a sociedade: ele é um objeto com vida útil extremamente curta. O brasileiro substitui o seu aparelho celular a cada três anos, segundo pesquisa divulgada em 2014 pela Market Analysis/Idec (Instituto de Defesa do Consumidor). Mas cada vez mais ouvimos consumidores relatando trocas em pouco mais de um ano. É pouquíssimo tempo de uso, levando-se em consideração todos os recursos naturais e humanos que foram usados para produzi-lo. Para se ter uma ideia, cada celular consome mais de 900 litros de água para ser produzido, segundo a organização global Water Footprint.

Há 15 anos, em 2001, quando foi criado o Instituto Akatu, a situação era bem diferente: surgiam no mercado brasileiro aparelhos bem simples, monocromáticos, com tela azul, verde ou amarela. O celular não era, nem de longe, popular como é hoje – era considerado um objeto de desejo caro e inacessível para a expressiva maioria dos brasileiros. Servia basicamente para fazer chamadas de voz, enviar mensagens de texto e brincar com jogos bem simples.

Baterias poluentes

Naquela época, as baterias eram compostas de níquel e cádmio, substâncias mais poluentes que as utilizadas hoje em dia. Em 2004, o Akatu realizou uma enquete no seu site, perguntando aos internautas o que eles faziam com a bateria de seus celulares. Quase 50% dos participantes responderam que gostariam de levar suas baterias em um posto de coleta, mas não sabiam onde encontrar um. Por conta disso, uma reportagem foi publicada para esclarecer as dúvidas da população, assim como outros materiais sobre o tema foram divulgados nos anos seguintes.

Hoje, as baterias são compostas de lítio, sendo mais eficientes e menos poluentes, mas ainda requerem cuidados especiais com o descarte. Segundo a pesquisa da Market Analysis/Idec, somente uma a cada seis pessoas descarta o celular, mas a maioria em local inadequado, como o lixo comum. Apenas 1% desses descartes é feito em pontos de coleta específicos. Segundo levantamento do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, só 724 das mais de 5.500 cidades brasileiras têm algum tipo de coleta de resíduos eletrônicos.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos determina a implantação da logística reversa, em que importadores, fabricantes, distribuidores, comerciantes e consumidores devem promover a adequada coleta e destinação dos seus produtos após serem consumidos. Porém, para que isso realmente funcione na prática ainda são necessários acordos setoriais. Enquanto isso, a maior contribuição vem justamente da ação consciente do consumidor, que deve fazer a destinação correta (veja abaixo algumas dicas para o descarte de celulares e smartphones).

Ao longo de quase uma década, o descarte adequado foi o principal tema tratado pelo Akatu quando o assunto eram os celulares. Em 2011, isso mudou: o foco também passou a ser os impactos da produção destes aparelhos. Neste mesmo ano, quando o iPhone, da Apple, e a linha Galaxy, da Samsung, já disputavam o mercado de smartphones, o Akatu lançou um portal dedicado ao público infantil, o Akatu Mirim. Nele, foi produzido um vídeo sobre a importância do ciclo de vida dos aparelhos: “De onde vem e para onde vai o celular”:

Mais recentemente, o Instituto Akatu passou a abordar a questão da chamada “obsolescência programada”. Este “palavrão” revela a decisão dos fabricantes de desenvolver produtos com design, materiais e características que se tornam obsoletos ou param de funcionar para forçar a troca por um novo aparelho. Em março de 2012, o tema foi discutido na 1ª Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental, com participação do diretor-presidente do Akatu, Helio Mattar. Em agosto do mesmo ano, Mattar escreveu o artigo “Obsolescência Programada para quem? E para quê?” (leia o artigo aqui).

A comunicação que queremos

Para assegurar um futuro de bem-estar, com respeito à sociedade e ao meio ambiente, não há espaço, a longo prazo, para a obsolescência programada. É preciso que as empresas fabricantes expandam para novos mercados e passem a produzir aparelhos em que a telecomunicação evolua sem que seja necessário descartar um novo aparelho a cada atualização de recursos. A boa notícia é que algumas soluções já apontam para esse caminho, que valorizam o durável e não o descartável.

Um exemplo é o Fairphone, criado na Holanda, projetado para durar mais e poder ser consertado. Trata-se de um produto “modular”, com peças que podem ser trocadas em caso de conserto ou atualização (upgrade). Além disso, o Fairphone se declara um produto justo, produzido com minérios extraídos de zonas livres de conflitos e fabricado em indústrias que pagam salários dignos e garantem condições seguras de trabalho. Mais de 60 mil unidades já foram vendidas. O preço do aparelho, disponível no mercado europeu, é de cerca de R$ 2 mil. O conceito de smartphone modular também é trabalhado pelo Google, no Projeto Ara, ainda em fase de testes.

É impossível prever o futuro, especialmente no campo das telecomunicações, mas especialistas apontam a tendência de que os dispositivos de telefonia móvel em si fiquem cada vez mais simples. Ou seja, se nos últimos anos eles incorporaram diversas funções, no futuro acontecerá o movimento contrário: com a chamada “internet das coisas”, todos os objetos estarão conectados à internet, como a geladeira, o carro, o interruptor de luz. E o dispositivo móvel irá ter uma interface simples para interagir com esses objetos.

Neste contexto, talvez o celular não seja chamado por este nome. E, provavelmente, não terá a mesma forma. Poderá estar “disfarçado” de óculos, relógio ou colar. Seja qual for o formato para o qual o celular evoluirá, o importante é que as telecomunicações passem a valorizar suas funcionalidades sem gerar tanto lixo eletrônico. Vamos todos – consumidores, empresas e governo – buscar um futuro no qual esses aparelhos sejam mais funcionais, modernos e menos descartáveis.

O que faço com o meu celular usado?

É importante reforçar que os aparelhos eletrônicos, como celulares e smarpthones, não podem ser dispensados no lixo comum porque contêm metais pesados – como mercúrio, cádmio e chumbo – que prejudicam o meio ambiente e fazem mal à saúde. Ao serem descartados no meio ambiente, contaminam o solo e as águas superficiais, podendo inclusive chegar aos lençóis freáticos. Para evitar esses problemas, é fundamental sempre descartá-los de maneira adequada.

Veja algumas opções aqui:

  • Leve o aparelho até a loja que comercializa aparelhos celulares. A Política Nacional de Resíduos Sólidos estabelece que fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de eletrônicos implementem sistemas de logística reversa – que inclui recolhimento, reciclagem, reutilização e descarte correto de seus produtos;
  • Operadoras de telefonia móvel também aceitam aparelhos antigos, não importa a marca;
  • As prefeituras também mantêm postos municipais de coleta de equipamentos eletrônicos. Para saber onde fica o mais próximo, contate a prefeitura de sua cidade;
  • Outra possibilidade é levar o equipamento até centros de descarte, como é o caso do Descarte Certo. Lá os celulares são desmontados por meio de um processo chamado “desfabricação”, e suas peças são recicladas, dando origem a outros produtos. Mais exemplos são as ONGs Cidadão Eco e Sucata Eletrônica. Pontos de descarte podem ser localizados na ferramenta do site eCycle;
  • Há ainda serviços que estimulam a reutilização dos aparelhos, dando uma segunda vida útil, como é o caso da empresa socioambiental Reciclecel, que já reciclou cerca de 45 mil celulares;
  • Que tal vender o seu celular para que ele seja reutilizado por outra pessoa? Há serviços que compram celulares usados para consertá-los e revendê-los, como a Redial.
  •  Quer mais uma sugestão? Baixe aplicativos que localizam pontos de coleta de lixo eletrônico. Um bom exemplo é o E-waste. O app também mostra dicas sobre tipos principais de resíduos lixo e a forma correta de descartá-los. É gratuito e seu sistema operacional é Android.

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