De um lado, instituições profissionalizadas, coletivos e organizações descentralizadas. De outro, passeatas, rolezinhos e demandas pulverizadas. O desafio das organizações que tradicionalmente atuam a favor de causas é saber como realizar o seu trabalho em meio a tantas novas formas de se expressar e de se organizar. E, mais ainda, como potencializar o seu trabalho transformador neste novo cenário. Estes foram alguns dos pontos abordados na mesa Novas Institucionalidades, realizada durante o 8º Congresso GIFE “Por um investimento social transformador”, nesta quinta (20).
“As ruas nos disseram que o grau de insatisfação é muito grande e que as modalidades institucionalizadas de política não nos atendem mais. E sinalizam ainda a necessidade de criarmos novas formas de fazer política e de participar democraticamente. É uma insatisfação tanto com o Estado quanto com uma sociedade extremamente mercantil”, afirmou Marco Aurélio Nogueira, diretor do Instituto de Políticas Públicas e Relações Internacionais da UNESP e autor do livro “As ruas e a democracia”, referindo-se às manifestações que ocorreram em junho de 2013. O especialista que mediou o debate enfatizou três questões cruciais para o cenário: a característica performática das manifestações; a relação entre as velhas e as novas institucionalidades; e como elas podem causar mudanças reais.
“É importante lembrar que essas insatisfações eclodiram com as Jornadas de Junho, mas vieram antes e continuam agora”, indicou Cassio Martins, da Rede Sustentabilidade. Ele ressaltou que o desejo das pessoas é por espaços de exercício do comum e do bem-estar. “Nesses espaços o compartilhamento de recursos, bens, convivência e companhia prevalecem. Esses espaços não são monopólio de ninguém, podem ser promovidos individualmente, por coletivos, pelo Estado ou pelo mercado”, completou.
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Para Carol Tokuyo, do Coletivo Fora do Eixo, as manifestações têm origem também em uma disputa pelo espaço público, especialmente no âmbito simbólico. “De 2011 para cá, as novas formas de ocupação estão acontecendo”, afirmou. A participante do coletivo lembrou que há dois anos intervenções como “Churrasco da gente diferenciada” e “Existe amor em SP” quiseram indicar que as pessoas estão pedindo por transformação dos espaços públicos. Além disso, indicou que a mobilização de jovens se dá de maneira diferente do que se dava em outros momentos da história do Brasil: “O jovem não quer saber das ‘lutas de classe’. E as organizações que não entrarem na disputa simbólica e falarem essa língua já estão fora da discussão”, ressaltou. “A juventude vem inventando os espaços comuns em que querem estar. As organizações precisam rever radicalmente as formas de se organizar para acompanhá-la”, afirmou Cássio Martins.
Como compatibilizar toda essa novidade com a atuação mais estruturada das organizações que historicamente trabalham na defesa de causas? Lucia Nader, diretora executiva da Conectas Direitos Humanos, afirmou: “Temos que radicalizar a diversidade de organizações que defendam pontos de vista absolutamente diferentes e melhorar a comunicação com a sociedade, especialmente com a juventude”. Lucia reforçou ainda que o investimento social privado deve “ser ousado e perder o preconceito” com relação às grandes causas de defesa de direitos no País.
Ricardo Abramovay, titular do Departamento de Economia da FEA e do Instituto de Relações Internacionais da USP e membro do Conselho Acadêmico do Instituto Akatu, que acompanhou a apresentação, afirmou que a pauta dos direitos humanos tem que ingressar na agenda do investimento social privado com muito mais força do que está. “Existe uma complacência com relação à violência e um distanciamento da população por conta de uma falsa proteção que precisa acabar. As organizações filantrópicas devem apoiar e fortalecer as organizações de direitos humanos”, reforçou.
Legenda Foto: Cássio Martinho, Carol Tokuyo, Marco Aurélio Nogueira, Lucia Nader, João Dionísio Amoedo. Foto: Áureo Siqueira Neto e Carlos Petelinkar – Envolverde
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