Comentário Akatu: A proteção de ecossistemas marinhos é fundamental para o meio ambiente e para todas as espécies de vida, incluindo os seres humanos, que estão interligadas por meio da cadeia alimentar. A iniciativa de buscar tornar sustentável a pesca artesanal por meio da capacitação dos pescadores é, nesse sentido, muito importante, de modo que se possa minimizar os danos aos estoques de peixes marinhos por meio de escolhas adequadas do que pescar e como pescar, orientando também para a garantia de renda sustentável para os pescadores. Seria interessante que a pesca decorrente da atividade dos pescadores capacitados tivesse alguma identificação, de modo que o consumidor consciente pudesse dar preferência a comprar produtos ligados a ela e, desta forma, contribuir para a geração de renda das comunidades e para a pesca mais sustentável. Mesmo isso não ocorrendo, o consumidor consciente pode contribuir nessa direção por meio de suas escolhas de consumo. Por exemplo, o consumidor pode evitar comer peixes em sua época de defeso, que é o período em que a pesca é proibida, para viabilizar a reprodução adequada dos animais. O site do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) oferece uma lista com as datas de defeso de cada espécie, períodos nos quais aquela espécie não deve ser pescada (e portanto não deve ser consumida). Outra medida importante é evitar o consumo de peixes ameaçados de extinção, cuja pesca e comercialização são proibidas pelo governo. E também dar preferência a produtos de maricultura e aquicultura, atividades que englobam a produção de uma ampla variedade de organismos aquáticos marinhos, desde vegetais como as algas, os invertebrados como os crustáceos e moluscos, até vertebrados como peixes e répteis, onde os animais são criados em áreas delimitadas e sua produção é, em geral, controlada e sustentável. São pequenas ações dos consumidores que, quando levadas ao coletivo, fazem enorme diferença.
A pesca artesanal é fonte de subsistência de quase um milhão de famílias brasileiras. No entanto, ela é marcada por fortes distorções, sendo a principal delas o fato de os recursos pesqueiros serem vendidos pelos pescadores a preços irrisórios, que não correspondem ao valor vendido ao consumidor final.
Nesse sentido, o projeto Pesca Sustentável na Costa Amazônica — desenvolvido no litoral dos estados do Pará, Amapá e Maranhão e fruto de uma colaboração entre a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) no Brasil e o Fundo Vale — visa melhorar a renda e a qualidade de vida dos pescadores e garantir que a cadeia produtiva seja econômica e ambientalmente sustentável.
Para isso, uma das diversas ações do programa é a capacitação de pescadores e futuros pescadores da região. Este mês, o projeto inicia o ciclo de oficinas “Jovens Protagonistas na Sustentabilidade”, que será realizado graças a diversas parcerias locais. O curso acontece nos três estados de abrangência do projeto e irá capacitar cerca de 240 jovens de 14 a 29 anos.
Eles se tornarão multiplicadores do conhecimento em suas comunidades. A ideia é que, por meio de abordagens participativas e construções coletivas, os jovens desenvolvam conhecimentos, habilidades e atitudes sobre sustentabilidade, cadeia produtiva, liderança, história da comunidade pesqueira na região, formação política, capacidade de mobilização e protagonismo.
Outro ponto a ser tratado no ciclo de oficinas é a evasão das novas gerações da região. A partida dos jovens de suas comunidades para espaços urbanos é uma situação real na Costa Amazônica e que se torna um desafio tanto para a sustentabilidade das cadeias produtivas da pesca artesanal quanto para a cultura local.
Serão mostradas, nas capacitações, tanto as possibilidades que a pesca estruturada poderá trazer para os potenciais futuros pescadores, quanto os desafios que eles podem encontrar na vida urbana.
“Queremos que esses jovens façam escolhas conscientes, mostrando que é possível um futuro diferente se eles souberem ser protagonistas de suas vidas e entenderem como podem se beneficiar de forma sustentável da cadeia produtiva dos recursos pesqueiros locais”, disse o coordenador de ciências naturais da UNESCO no Brasil, Ary Mergulhão.
A ideia é que as oficinas sejam uma formação continuada com vários módulos. Até o fim de 2016, os jovens devem participar de três módulos-piloto. No Maranhão, o primeiro módulo aconteceu no início de agosto (6 e 7), no Sindicato de Pescadores da cidade Icatu, e reuniu jovens de comunidades tanto da própria cidade, como de Carutapera e Cururupu. No Amapá, o primeiro módulo aconteceu entre 18 e 20 de agosto em Mazagão Velho.
Em data ainda a ser definida, será realizada no Pará uma oficina de apresentação da metodologia e mobilização nos municípios de Curralinho e Bragança e, no final do ano, haverá um encontro visando ao trabalho de conscientização política e de sustentabilidade reunindo jovens de Soure e São João da Ponta.
“Este projeto está abrindo as portas para esses jovens, nos dando essa formação de como nos comprometermos com a nossa própria realidade”, disse Hélio Ferreira Souza, de 24 anos, da comunidade de Peru no município de Cururupu, que participou do curso.
O coordenador do ciclo de oficinas, Leonardo Rodrigues, explicou que “ao receberem informações de variados temas que não estão normalmente presentes no cotidiano e nem em seu ambiente escolar, esses jovens recebem possibilidades de adquirir diferentes visões de mundo, que vão construindo com uma amplitude bem maior do que lhes é apresentado no seu dia a dia”.
“Ao se colocar ao jovem esse conjunto de possibilidades e visões de mundo, podemos oferecer a ele uma capacidade de escolha com maior discernimento e reflexão sobre os caminhos que ele seguirá para o seu futuro”, completou.
No Maranhão, o segundo módulo do curso será realizado de 7 a 9 de outubro na comunidade de Peru, no município de Cururupu, enquanto no Amapá o segundo módulo do curso acontece de 13 a 15 de outubro, também em Mazagão Velho. O terceiro módulo será realizado em novembro, em dias ainda a serem definidos, no Maranhão em Carutapera e no Amapá novamente em Mazagão Velho.
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